Cadu foi morto dentro de presídio em Goiás (Foto: Reprodução/Fantástico)
A Polícia Civil indiciou nesta terça-feira (12) dois detentos pela morte de Carlos Eduardo Sundfeld Nunes, conhecido como Cadu, de 30 anos, dentro do Núcleo de Custódia, em Aparecida de Goiânia, na Região Metropolitana da capital. Segundo a investigação, o crime foi cometido porque um dos presos descobriu que a vítima tinha um plano para matá-lo.
O autor dos golpes, Nilson Ferreira de Almeida, e o comparsa, Adriano Silva Guimarães, vão responder por homicídio doloso – quando há a intenção de matar.
"Nilson acabou descobrindo o plano de Cadu para tirar a vida dele e se anteviu. No jargão do crime, se quer me jantar, vou te almoçar primeiro. Então, ele, agiu antes. A colaboração de Adriano, responsável por ficar olhando e verificando a movimentação dos agentes para que Nilson partisse para o ataque na melhor oportunidade foi decisiva para a morte da vitima", disse ao G1 o delegado responsável pelo caso, Anderson Pimentel.
Assassino confesso do cartunista Glauco e do filho dele, Raoni, Cadu estava preso há quase dois anos no Núcleo de Custódia. Ele respondia por dois latrocínios cometidos em Goiânia.
Cadu foi morto no dia 4 de abril. Segundo Pimentel, eles concluíram a investigação após o confronto dos depoimentos, com base em informações do local do crime e em laudos periciais.
O delegado revelou que as imagens das câmeras do presídio, que não foram divulgadas por terem sido feitas em uma área de segurança, também foram fundamentais para a elucidação do crime.
“Nelas é possível ver a movimentação do Adriano observando a rotina de vigilância dos agentes prisionais. É perceptível ver que ele direciona Nilson, dizendo ‘agora vai’ ou ‘fica’. Às 10h05 Nilson vai até os fundos do pátio, toma determinado objeto e vai correndo até onde Cadu estava e acaba procedendo o ataque, que durou pouco mais de um minuto”, descreve o delegado.
Sem reação
Diferentemente do alegado por Nilson, de que agiu em legítima defesa, Pimentel afirma que Cadu não entrou em luta corporal nem teve como reagir. “Há uma desproporção de forças. Nilson é alto e forte. Então, ele rapidamente colocou Cadu no canto, o imobilizou e atacou. Não foi caracterizada lesão de defesa, ou seja, foi pego de surpresa”, disse.
A Polícia Técnico-Científica concluiu que Cadu sofreu 23 golpes de chucho, uma espécie de faca artesanal.
Os internos vão responder por homicídio doloso – quando há a intenção de matar – qualificado por meio cruel e agravante mediante surpresa. “Meio cruel por causa da quantidade de golpes, ele morreu vagarosamente, ele foi desfalecendo, houve um sofrimento desnecessário. E mediante surpresa porque Cadu foi surpreendido”, declarou o delegado.
A polícia ainda solicitou a prisão preventiva dos detentos acusados de cometer o crime. Segundo o delegado, isso agilizará o andamento do processo. Se condenados, eles podem pegar de 12 a 30 anos de prisão.
Atualmente, Nilson cumpre pena por tentativa de homicídio, tráfico de drogas e roubo qualificado. Já Adriano está preso por roubo a banco.
Prisão
Cadu estava detido no Núcleo de Custódia desde setembro de 2014, um ano depois de ter deixado uma clínica psiquiátrica da capital. Ele havia sido submetido à internação após a morte de Glauco Vilas Boas e do filho dele, Raoni Vilas Boas, em Osasco, em 2010.
A prisão em Goiás ocorreu após ele matar duas pessoas em Goiânia, em agosto de 2014, crimes pelos quais foi condenado a 61 anos de prisão. As vítimas são o agente prisional Marcos Vinícius Lemes da Abadia, 45 anos, e o estudante de direito Mateus Pinheiro de Morais, 21 anos. Eles morreram durante assaltos.
Assassinato de Glauco
Cadu foi preso em 2010 ao tentar furar um bloqueio da Ponte da Amizade, fronteira entre o Brasil e o Paraguai, dois dias depois de ter matado o cartunista Glauco e o filho dele. O crime aconteceu em 12 de março, no sítio onde a vítima morava, em Osasco (SP). Ele invadiu a propriedade e atirou contra as vítimas.
O acusado frequentava a Igreja Céu de Maria, fundada por Glauco, que seguia a doutrina religiosa do Santo Daime. No dia do crime, Cadu estaria sob efeito de maconha e haxixe.
Cadu também foi acusado de três tentativas de homicídio contra agentes federais, roubo, porte de arma com numeração raspada e tortura. Após ser preso em Foz do Iguaçu, ele acabou indo para o Complexo Médico-Penal do Paraná e, depois, transferido para Goiânia, onde ficou internado em uma clínica psquiátrica e teve alta em 2013.
Mesmo após cometer o duplo homicídio contra o cartunista Glauco e o filho dele, Cadu ficou em liberdade após receber alta porque possui esquizofrenia e a Justiça o considerou inimputável, ou seja, incapaz de perceber a gravidade de seus atos. A doença mental não tem cura, mas tem controle, desde que seja tratada.
Latrocínios em Goiânia
Cerca de um ano depois de ter alta da clínica psiquiátrica, Cadu foi preso suspeito de cometer dois latrocínios em Goiânia. Ele foi flagrado em um carro roubado.
O primeiro crime foi contra um agente prisional, baleado no dia 28 de agosto de 2014. Ele morreu após ficar quase um mês internado. Câmeras de segurança flagraram o momento em que ele reage a um assalto e luta com Cadu, que atira na cabeça do servidor e foge com a ajuda de um comparsa.
Sobre essa acusação, Cadu alegou aos psiquiatras que atirou porque a vítima reagiu. "Você não viu o que ele fez? Ele meteu a mão no meu revólver. Aí já dei dois tiros", afirmou na época.
O outro crime foi contra o estudante de direito Mateus Pinheiro de Morais, de 21 anos, ocorrido em 31 de agosto de 2014. O jovem morreu ao ser baleado quando deixava a namorada em casa, na Rua T-29, no Setor Bueno.
Em 26 de agosto de 2015, Cadu foi condenado a 61 anos de prisão em regime fechado pelos dois latrocínios cometidos em Goiânia. A pena também está relacionada aos crimes de receptação e porte de arma de fogo, segundo a assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça de Goiás informou na época.
Fonte: G1