Estou convencido de que o Presidente Jair Bolsonaro está sendo sincero quando afirma sua intenção de acabar com a corrupção nas estatais e no Governo Federal. Suas intenções nesse sentido ficaram claras quando montou um ministério sem a costumeira interferência dos partidos políticos.
Mas se lhe sobrou boa intenção ao tirar os lobos do curral das ovelhas, faltou-lhe discernimento ou inteligência por não prever que estes mesmos lobos lhe cobrariam a fatura na forma de entrega de muitas ovelhas que ele queria proteger.
A conta está sendo paga através do recente acordo com o Centrão que é o mais careiro dos aliados oportunistas. Este conjunto de pequenos e médios partidos políticos tornou-se especialista em vender sustentação a governante em perigo como está o Presidente no momento.
Quando foi eleito em 2018 o Capitão achava que era possível governar com o apoio das bancadas temáticas tais como a bancada da bala, a do agronegócio e a evangélica, por exemplo, passando por cima dos líderes partidários. Esta convicção confirma que o ex-deputado federal passou vinte e oito anos dentro do Congresso Nacional sem entender seu funcionamento.
Somente quando a água começa a bater-lhe no pescoço ele volta o interesse para os parlamentares, disposto a liquidar a fatura já agora acrescida de juros e multas.
A nossa democracia de coalisão exige acordos – não necessariamente espúrios – para manter a governabilidade. O Presidente que foi eleito sem coligação com partidos grandes, supôs, por arrogância ou inépcia, que não precisava deles para governar.
Agora diante do perigo iminente de uma cassação – existem diversos pedidos de impedimento protocolados na Câmara de Deputados – os mercenários cobram um preço extravagante para dar a proteção de que a vítima precisa.
Os lobos querem ovelhas, muitas ovelhas. Que elas venham na forma de emendas parlamentares e cargos – centenas deles – no segundo e terceiro escalões. Na sequência exigirão comandos de estatais e alguns ministérios.
O interessante é que tudo poderia ser evitado sem incorrer em atos desonestos, bastando trazer as pessoas sérias (elas existem) dos partidos para participarem do governo desde o início.
Não se trata de entregar ministérios e estatais de porteira fechada para a voracidade dos maus políticos como fez o PT. Mas de mimar os parlamentares (eles adoram mimos) que assim estariam muito mais propensos a ajudar o governo nas inadiáveis reformas.
Atualmente o Presidente dá sinais de compreender o que não descobriu em mais de duas décadas como deputado federal: para o bem ou para o mal, não se governa um país de democracia de coalizão, sem distribuir parte do poder entre os parlamentares.
Há tempo ainda de persuadir os políticos a evitarem um processo de impeachment, o que seria desastroso para o País. Também é possível “comprar-lhes” a boa vontade para aprovação das reformas que estão travadas.
Do dito acima se conclui que a honestidade é uma virtude indispensável para um bom governante, mas, decididamente, torna-se absolutamente inútil quando desacompanhada da necessária competência.
Renato de Paiva Pereira – empresário e escritor