A disputa das eleições deste ano está acirrada em Mato Grosso, no entanto, o que poucos sabem é que o embate entre Lúdio e Pedro já foi registrado no final da década de 1960. Embora os atuais candidatos a governo tenham nascido neste período, não se trata deles esta ‘rixa’ antiga, mas sim de Lúdio Coelho e Pedro Pedrossian, ex-adversários que disputavam naquela época a cadeira máxima do Estado.
Protagonistas de uma disputa eleitoral passada, quando o Estado ainda não era dividido, Pedro e Lúdio apresentavam algumas semelhanças com os atuais postulantes do pleito. E quem contou um pouco sobre esta incrível história, que bate com acontecimentos de hoje, é o médico aposentado Gabriel Novis Neves.
Amigo próximo dos dois antigos adversários, ele revelou sobre a personalidade de cada um, e também fez comparativos com os concorrentes atuais, semelhanças que, por vezes, vai além dos nomes.
Em 1965, quando as movimentações para a escolha do próximo governante estavam sendo feitas, Neves explicou que para que um candidato fosse eleito, se ele tivesse nascido do sul, o vice tinha que ser no mínimo do norte. “Havia muita rivalidade entre o sul, representado pela cidade de Campo Grande, e o norte, que é Cuiabá. E naquela ocasião, não existia reeleição. Então, eles não podiam arriscar escolher candidatos da mesma região”.
Com isso, formaram-se as chapas. De um lado o engenheiro Pedro Pedrossian, nascido em Miranda – que atualmente pertence a Mato Grosso do Sul -, ao lado de seu vice, o cuiabano Lenine Campos Póvoas, ambos representantes do PSD. Do outro, o mega empresário do agronegócio, o campo-grandense Lúdio Coelho com o vice, também de Cuiabá, Hermes de Abreu, ambos pela UDN.
A disputa era acirrada, não muito diferente da atual. Entre as semelhanças encontradas, está o posicionamento dos candidatos. Pedro Pedrossian fazia parte do grupo oposicionista do então governador Fernando Correa da Costa. Fato que se choca com a atualidade, pois o chará, Pedro Taques, também transparece a incompatibilidade com a atual gestão.
“Pedrossian era oposição ao Fernando. E nessa época, antes da eleição, o governo não fazia governo. Então o Pedro já contou com essa grande escape. Mas a disputa foi muito acirrada entre Lúdio e o Pedro”.
O que todos sabem é que no final da disputa entre Coelho e Pedrossian, Pedro foi o vencedor das eleições de 1968 e ficou na cadeira até 1971. Cinco anos de trajetória, com construções de hospitais, além das duas universidades federais do Estado. Uma em Campo Grande e a outra em Cuiabá.
E quem teve participação especial nestas conquistas, foi o próprio senhor Gabriel Novis Neves, que foi diretor da clínica hospitalar Adalto Botelho e também ocupou o cargo de secretário da educação no governo de Pedrossian, entre 1968 e 1971.
Já Lúdio, seguiu a vida como grande empresário do agronegócio. Porém, anos mais tarde, ele e Pedrossian se viram em outra disputa. Cerca de 30 anos mais tarde, já em Mato Grosso do Sul, os dois se aliaram e entraram na corrida eleitoral, com Pedro disputando o senado e Coelho, o governo. Resta saber se os atuais adversários, em algum dia no futuro, terão o mesmo destino que seus antecessores.
Lúdio Cabral e Pedro Taques
Com laços estreitos com os ‘charás’ dos atuais candidatos a governo de Mato Grosso, Neves contou que também teve a proximidade com o Lúdio e o Pedro de hoje.
Ele contou que Lúdio foi aluno dele na UFMT, na época em que o atual candidato estudava para medicina. A parceria se estendeu por anos e Neves sempre chamava Cabral para participar das atividades que exercia na época, sejam elas políticas ou não.
No meio desta parte da história, o então governador Blairo Maggi (PR) havia chamado Neves para ocupar a Secretaria de Saúde do Estado. “Quando ocupo uma pasta, eu não vejo o nome, vejo o perfil e a competência da pessoa. E quando fui escolher meu adjunto, chamei ele [Lúdio] para ocupar a pasta comigo, pois achava que era a cara dele”.
No entanto, Neves não havia se dado conta que Lúdio já tinha o PT como partido, que era oposição à gestão da época. Depois de pensar muito, dentro de um prazo mínimo, Neves contou que o petista havia aceitado a posição. “Ele nunca citou isso em campanha, mas ele foi secretário adjunto do governo do Blairo. E foi pra fazer mesmo. E o Lúdio começou a montar equipe comigo, mas com 23 dias eu pedi demissão e o Lúdio foi o primeiro a ir comigo”.
Com o Pedro Taques, Neves revelou que foi cabo eleitoral dele na época em que o mesmo disputava a cadeira de senador da república, porém o desfecho não foi tão motivador quanto esperado. “Eu pedi votos pra ele e sempre ia nos lugares que ele me solicitava. Eu era um cabo eleitoral dele. Ele vinha muito aqui em casa, a gente conversava bastante. Mas as pessoas também descartam muito. Eu acho que eu não servia mais”, disse ele, que também contou que nunca mais viu o atual candidato a governo.
Lúdio ou Pedro?
Após declarar que votou em Pedro Pedrossian na época, Neves preferiu não revelar quem é o seu favorito deste ano. “Eu não assisti nenhum programa eleitoral este ano e estou por fora, além de não votar mais porque a idade me permite”, disse ele, que apoia a não obrigatoriedade do voto, além de ser contra o processo de reeleição.
“O governo faz governo, o povo mato-grossense é sábio. Mas essa falta de rotatividade acaba sendo um desespero, pois termina não proporcionando nada de impactante no Estado. E tem que acabar com certas besteiras, pois o governo é gerencial. O problema é a falta de investimento em educação, principalmente”.