Política

Discursos de convenções dão tom da campanha e mostram velha política

Foto: Reprodução/Mídia News

As convenções que marcaram o início da disputa eleitoral para cargos municipais têm o tom que deve ser contínuo nos 45 dias de campanha, que começa oficialmente no dia 15 de agosto, conforme agenda do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Ataques entre os pré-candidatos à Prefeitura de Cuiabá ocuparam os dicursos das convenções realizdas na noite desta sexta-feira (5), e alusões ao crimes de corrupção em investigação pela Operação Lava Jato serviram de contorno para as falas.

Oficialmente estão definidos pelas convenções os nomes do deputado estadual Wilson Santos (PSDB), escolhido após recuo dos nomes mais cotados do PSB e PSD; o deputado Emanuel Pinheiro (PMDB); o ex-juiz Julier Sebastião (PDT); a ex-senadora Serys Slhessarenko (PRB); o procurador Mauro (Psol) e o professor Renato Vieira (PROS).

Santos, que já foi eleito duas vezes para comandar o Palácio Alencastro viu seu nome aparecer na cotação dos partidos com o recuo do deputado federal Fábio Garcia (PSB), o ex-secretário de Educação de Cuiabá (PSDB), Gilberto Figueiredo, e do impedimento judicial do empresário Dorileo Leal, presidente do Grupo Gazeta. Seu nome só foi anunciado oficialmente no fim da tarde de ontem poucas horas antes do fim do prazo para a realização de convenções partidárias. O vereador Leonardo Vieira (PSB), líder de campanha de Mauro Mendes nas eleições de 2012, concorrerá como vice.

No primeiro discurso como nome oficial do grupo, Santos disse estar ciente de seu histórico político em Cuiabá e de como será usado por seus concorrentes durante a campanha, tentando se antepôr ao óbvio.

“Deus está me dando a oportunidade para terminar algumas ações que eu não concluí por erro, ao deixar a prefeitura. Hoje, mais maduro, com 55 anos, avô de cinco netos, aprendi muito”.

Santos foi eleito pela primeira a prefeito de Cuiabá nas eleições de 2005 e em 2008 voltou a se candidatar e ganhou a disputa, mas não terminou o segundo mandato. Saiu do cargo em 2010 para disputar o governo de Mato Grosso.

Emanuel Pinheiro (PMDB),que oficializou sua candidatura na noite desta sexta-feira com o advogado Niuan Ribeiro definido de última hora, disse que irá “lutar contra a máquina” e integrantes de seu grupo de campanha dizem que a polêmica envolvendo o governador Pedro Taques (PSDB) e servidores públicos sobre a Revisão Geral Anual (RGA) dos salários é tema certo no discurso. E o recuo de Mauro Mendes um dia antes do fim data judicial para escolha dos partidos, também foi citado.

“A situação foi de muita irreverência. Indica um, renuncia outro, indica um, renuncia outro. Notando boa dose de trapalhada e quase de desespero, mas respeitamos os adversários”, disse.

Julier teve discurso semelhante. No encontro realizado ontem à noite para oficializar seu nome, o ex-juiz, que já foi investigado por suspeita de venda de sentenças no Tribunal de Justiça, disse que irá “derrotar golpistas”.

“Nós vamos vencer essas eleições porque nós não somos o Wilson Santos, que fez, com o perdão da palavra, uma cagada em Cuiabá e fugiu. Nós vamos vencer porque não somos o Emanuel Pinheiro, que conforme Mauro Mendes definiu, comeu na mesa dele, dormiu na cama, atravessou a rua e falou mal [dele], ou seja, é um traidor”.

Crises, criminalização e ‘‘velhos’’ políticos

O analista de política, Onofre Ribeiro, diz que as eleições deste ano devem ser experimentação, tanto pela reforma da legislação leitoral, que reduziu o tempo de campanha, de gastos e o número de cabos eleitorais. Ele diz que um novo cenário deverá surgir a partir deste ano. E isso exigirá a construção de um novo político.

“Sem dúvida nenhuma que a crise política no país terá reflexo nas campanhas municipais. No caso de Mato Grosso, os vários candidatos que se apresentam ou estão dentro do PSDB, PT e PDMB – os maiores partidos do país- ou em grupos dissidentes deles ou, ainda, já estiveram em algum momento dentro do partido, existe um histórico. Então, há aparecer vários discursos em que até esse passado mais remoto será associado a situação atual da política”.

Ele diz que a peculiaridade de Mato Groso foi o desencadeamento de operações policiais que levaram à prisão personalidades políticas, que também criam um lastro de ligações com outros nomes.

“A prisão do Silval [Barbosa, ex-governador], do [José] Riva (ex-deputado e presidente da Assembleia Legislativa) vão gerar reflexos nas eleições deste ano. Há grande probabilidade de virar uma eleição de criminalização do adversário”.

Associado a esses fatores, está o perfil dos candidatos, que para o analista Onofre Ribeiro, precisará ser reinventado. O problema é que não existe essa percepção pela maioria dos concorrentes.

“Nós temos hoje um eleitorado cansado de ver corrupção e promessas de políticos que vão mudar o mundo. E não acontece nada, óbvio. Um discurso de quem quer fazer tudo não vale mais, dizer que vai fazer mudanças na educação, na saúde, na segurança é dizer nada agora. Cada um desses setores envolvem problemas complexos e podem desmembrados, digamos assim, em vários setores pequenos. O eleitor quer saber o que de factível o candidato se propõe a fazer. É na educação? Mas em que área da edução – técnica, ensino fundamental, superior, na qual?”.

Seguindo o cenário da sociedade,  conhecimento especializado e técnico e o domínio de assuntos microssociais, localizados, deverão ser exigidos pelos eleitores.

Reinaldo Fernandes

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