Imagine ir ao médico para resolver uma dor e sair com um curativo de cirurgia. Foi o que aconteceu com uma paciente do Hospital Municipal de Tapurah (distante cerca de 400 km de Cuiabá). Além dela, outros casos semelhantes foram relatados. As acusações são contra o médico e ex-diretor do hospital Julio Cesar da Silva, demitido pela prefeitura nesta semana.
Os casos ganharam luz devido reportagem do Gazeta Digital. Mesmo com denúncias no Ministério Público contra Julio Cesar, ele continuava a frente da unidade pública e realizava cirurgias em pacientes. Ainda segundo informações, o hospital municipal não possui Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) e, portanto, não poderia fazer tais procedimentos.
Julio Cesar é médico com registro em Mato Grosso e Goiás. Após as acusações, ele colocou o cargo de diretor à disposição da Secretaria Municipal de Saúde, que já investigava o funcionário desde 27 de fevereiro.
Uma das vítimas foi Luciana dos Santos Barbosa Lima, de 36 anos. Segundo relatou ao GD, ela havia feito uma cirurgia para retirada de um mioma no útero e, meses depois, continuava com desconforto. Ela relatou que, ainda dois meses após o pós-operatório, a cicatriz expelia líquidos. Intrigada, a mulher voltou ao médico.
O procedimento, segundo a vítima, não deveria ser invasivo. Ao menos foi o que o médico havia combinado. No entanto, a mulher acabou no centro cirúrgico. Quando ainda estava acordada, ela apenas ouviu de Julio Cesar que deveria se acalmar. Depois de receber medicamento na veia, desmaiou. Quando acordou, já estava no quarto, operada e sem ninguém da família para dar suporte.
“"Entrei em desespero. Chorei, chorei e chorei. Ele me operou sem a minha permissão, sem a minha família saber, são muitos erros em uma só pessoa", comentou à reportagem. Segundo ela, o médico justificou a operação dizendo que tinha uma dúvida, mas a fechou porque não encontrou nada errado.
Além dela, outras vítimas também denunciaram Julio Cesar por erros médicos. Na quinta-feira, a Secretaria Municipal de Saúde informou que determinou uma sindicância para apurar as denúncias. Também, foi informado a rescisão contratual com o médico.
Confira abaixo a nota da SMS sobre o caso:
A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Tapurah, vem, por meio desta, esclarecer e comunicar a sociedade, sobre as medidas adotadas acerca de reclamação apresentada em desfavor da conduta médica do profissional Dr. Júlio Cesar, que assumiu o cargo de cirurgião médico no Hospital Municipal.
A Secretaria lamenta o fato ocorrido nas dependências do Hospital, esclarecendo que:
Após a constatação das reclamações, foi oficializado o Hospital que suspendesse as cirurgias eletivas, pelo prazo de 30 dias, para apuração dos fatos.
A Secretaria determinou a abertura de Sindicância para apurar o ocorrido, bem como a responsabilidade do caso.
Foi publicada em 27 de fevereiro de 2018, a portaria nº 117/2018, que constituiu a comissão especial de saúde para averiguação de procedimentos cirúrgicos realizados no Hospital São Paulo do Município de Tapurah – MT, durante os exercícios de 2017 e 2018.
A SMS encaminhará o relatório final conclusivo da sindicância ao Conselho Regional de Medicina (CRM) de Mato Grosso, para investigação sobre o caso, especialmente no que se refere a atuação do profissional médico, considerando que este é o órgão que possui competência para apuração.
Em que pese não ter sido concluída as diligências necessárias para a apuração dos fatos, e estarem suspensas as cirurgias no Hospital Municipal, sendo os casos de urgência e emergência encaminhados aos Hospitais de Referência, a Prefeitura Municipal, rescindiu o contrato com o profissional médico envolvido nas reclamações, na tarde de ontem (21).
Tapurah, 22 de maio de 2018.
Marco Antônio Felipe
Secretário Municipal de Saúde.