Mesmo com a valorização crescente de cursos livres e habilidades técnicas que poderiam substituir a formação universitária, o diploma de graduação ainda é fator de empregabilidade e potencial aumento de renda, de acordo com recentes pesquisas.
Uma delas é a 4ª Pesquisa de Empregabilidade do Instituto Semesp, em parceria com a Workalove/Pravaler. Na comparação dos rendimentos dos egressos, antes e depois do curso de graduação, houve uma melhora significativa.
A renda média aumentou 89,0%, passando de R$ 2.224 (antes de concluir) para R$ 4.203 (atual), independentemente da modalidade de ensino.
Quem trabalha em sua área de formação recebe, em média, 27,5% a mais que aqueles que trabalham em uma área diferente da de formação.
O grau de instrução como um dos principais determinantes de renda, empregabilidade e ascensão a cargos estratégicos no mercado de trabalho também está presente no levantamento do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre).
A pesquisa analisou a diferença salarial entre trabalhadores com ensino superior completo e aqueles com outros níveis de escolaridade no Brasil.
Em 2012, trabalhadores com 16 anos ou mais de estudo (faculdade completa) ganhavam em média 152% a mais do que aqueles com 12 a 15 anos de estudo (ensino médio completo e/ou superior incompleto). Em 2024, essa porcentagem caiu: a média agora é de 126%.
Mesmo com essa leve redução, Janaína Feijó, pesquisadora da área de Economia Aplicada da FGV IBRE, classifica a diferença como “significativa”. Afinal, pessoas que finalizaram a graduação recebem mais que o dobro do que aquelas que têm apenas o ensino médio completo. “Ainda é vantajoso ingressar no ensino superior. O grau de instrução é um fator relevante na determinação da remuneração”, afirma.
A pesquisadora faz uma ressalva: o ingresso no ensino superior não é garantia de remunerações altamente satisfatórias. “Ensino superior não é garantia de sucesso. É preciso considerar o processo de aprendizagem, com estágios e monitorias, para atender às exigências do mercado.”
Também é importante observar que a comparação do nível de renda entre dois grupos de escolaridades distintos deve considerar outros fatores, além da obtenção do diploma. Um deles é a diferença socioeconômica dos dois grupos antes mesmo do ensino superior.
Quebra de paradigmas
Esses dados influenciam diretamente na própria percepção dos estudantes sobre a graduação. No mesmo levantamento do Instituto Semesp, 67,1% dos profissionais que atuam na área de formação acreditam que o diploma é valorizado ou muito valorizado pelo mercado.
Já entre aqueles que trabalham fora de sua área, a percepção cai para 42,8%. E quando se trata de funções que sequer exigem diploma, apenas 41,1% enxergam essa valorização.
A satisfação profissional também segue a mesma lógica: 80% dos egressos que atuam na área de formação estão satisfeitos ou muito satisfeitos com a carreira. Entre os que migraram para outras áreas, o índice cai para 53%. Já nos cargos que não exigem ensino superior, o percentual despenca para 31,5%.
Advogado especialista em Direito de Família e Sucessões, Fernando Félix afirma que o diploma de graduação “contribui em 100%” com o aumento de sua renda/remuneração mensal.
A pesquisa mostra também como o diploma contribui para a empregabilidade. O estudo anterior do Instituto Semesp, feito em 2021, revelou que 12% dos egressos do ensino superior não estavam empregados. Na atual, o patamar se manteve em 12,7%. “Podemos concluir que o grau de empregabilidade para quem tem ensino superior completo se manteve estável e em nível elevado”, disse a presidente do Semesp, Lúcia Teixeira.
As constatações do estudo contrastam com a glamourização das trajetórias de influenciadores digitais e a hipervalorização do empreendedorismo, na opinião de Rodrigo Capelato, diretor executivo do Semesp.
Atualmente são comuns nas redes sociais vídeos que questionam ou minimizam a importância do diploma universitário. “A pesquisa é um contraponto à narrativa de que o ensino superior não é mais necessário”, afirmou.
O especialista afirma ainda que o diploma vai além de garantir emprego e renda: ele amplia horizontes, fortalece o pensamento crítico e prepara cidadãos para enfrentar crises e tomar decisões em cenários complexos.
O ensino superior não se limita a transmitir conhecimento técnico; ele desenvolve habilidades socioemocionais cruciais – liderança, colaboração, resiliência, análise crítica. São atributos cada vez mais valorizados em um mercado marcado por incertezas e disrupções.
É o que a enfermeira Lauriene Das Graças Rocha Neri, de 34 anos, vem vivenciando na prática. Ela afirma que o diploma trouxe qualificação para disputar vagas que exigem nível superior e a segurança em situações de maior responsabilidade.
“Consigo compreender a gravidade dos casos, me comunicar melhor com a equipe médica e tomar decisões rápidas e seguras”, diz a profissional de saúde.
“Além disso, o diploma me motivou a seguir estudando, e atualmente estou me especializando em UTI e em feridas e estomias, buscando me preparar para novos desafios”.
Experiências complementares, como monitorias, estágios e participação em empresas juniores, também ampliam a bagagem dos estudantes, tornando-os mais competitivos.
Ensino superior e inteligência artificial: quem se adapta melhor
A revolução da inteligência artificial traz outro ponto de reflexão. A pesquisa do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre) traz um estudo do Fundo Monetário Internacional (FMI) que mostra que trabalhadores com ensino superior têm maior probabilidade de se adaptar à IA (inteligência artificial).
O estudo indica que 80% dos trabalhadores com diploma universitário no Brasil estão em ocupações altamente expostas à IA. Para metade deles, a tecnologia será uma aliada, aumentando produtividade e desempenho.
Já entre os que têm apenas ensino médio, o cenário é menos favorável: apesar da exposição de 60% desses profissionais, apenas 20% devem se beneficiar da IA.
Nesse contexto, o ensino superior se torna ainda mais relevante ao diferenciar os profissionais das tarefas repetitivas que podem ser substituídas pela tecnologia, destacando aqueles capazes de interpretar dados, inovar e pensar estrategicamente.
“Pessoas que fazem o ensino superior conseguem usar a inteligência artificial de forma complementar, para aumentar a produtividade”, diz Janaína.
O papel das instituições de ensino
O desafio que se coloca para as universidades é estreitar laços com o mercado de trabalho. A pesquisa mostra que há espaço para evolução no apoio à empregabilidade dos alunos.
Na opinião dos próprios entrevistados, as instituições poderiam investir em parcerias com empresas para estágios e programas de trainee e plataformas de emprego e bancos de talentos conectando estudantes a vagas reais. Ou ainda mentorias e networking com ex-alunos e profissionais do setor.
Outros cobram incentivos ao empreendedorismo, preparando os jovens para escolher com clareza entre empregos com carteira assinada (CLT) ou como pessoa jurídica (PJ).
“Universidades precisam ir além da academia e integrar problemas reais das empresas em sala de aula”, diz Capelato.