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Dinheiro conquistado nas ruas sustenta o vício em crack de flanelinhas

Pelas ruas da Capital é fácil encontrá-los, sempre próximos às áreas de bancos, lanchonetes e locais onde há muitas vagas para estacionamento. Os conhecidos “flanelinhas” chegam a faturar em alguns pontos R$ 150,00 por dia. Na maioria dos casos, o valor cobrado para "dar uma olhadinha" nos carros acaba sendo o dinheiro que sustenta o vício em drogas.

Por trás destes trabalhadores, que atuam de forma ilegal, uma vez que não são registrados, há histórias similares: homens que abandonaram as famílias em decorrência da derrota na  luta contra as drogas. Para alimentar os seus vícios, a principal fonte de renda é a de “cuidar” de carros.

O flanelinha não pode exigir dinheiro de quem estacionar na rua, nem proibir que alguém estacione em determinado local. Diante da negação de pagamento, ambos são considerados crimes de extorsão, no entanto, a relação entre motorista e flanelhina nem sempre é fácil e envolve temor e, até mesmo, compaixão. O Circuito Mato Grosso foi conferir de perto a realidade dos cuidadores de carros e saber o que levaram eles a levar essa vida, e ouvir a Secretaria de Ordem Pública sobre o que é feito pela Prefeitura para coibir as ações dos flanelinhas que agem ilegalmente.

Família deixada para trás

Joaquim de Araújo, 30, natural de Cáceres (214 km de Cuiabá-MT), pai de quatro filhos e residente em Cuiabá há seis anos. O seu endereço, Avenida Historiador Rubens de Mendonça (CPA), vivendo pelas ruas e marquises da avenida.

O trabalhador disse que saiu de casa após se envolver com drogas e, nas palavras dele, ser considerado um "desgosto" para a família. Juntou as poucas coisas que tinha e veio para Cuiabá. Sem emprego e dinheiro para se manter, Joaquim começou a cuidar de carros.

Ele informou que sabe trabalhar como marceneiro, engraxate, pedreiro, entre outras profissões, porém a falta de oportunidade e estudo (cursou apenas o primário) fez com ele trabalhasse nas ruas. Há seis anos no mesmo local, Joaquim já se tornou conhecido na região e disse que os empresários e pessoas que trabalham próximo sempre o ajudam.

“Eu estou aqui há seis anos, algumas pessoas já me conhecem. A noite o pessoal que tem carrinhos de lanche aqui sempre me dão algo para comer, me ajudam com um trocado e assim vou vivendo. Qualquer quantia ou ajuda que me dão eu recebo da mesma forma”, comentou ele.

Com o passar do tempo, a família de Joaquim se mudou para Cuiabá e ele disse que constantemente os familiares o procuram, pedindo para  que ele volte para casa. Porém, o flanelinha se recusa a estar com a família, por achar que não é digno.

“A coisa que eu mais queria é morar com eles, sempre penso em voltar para casa, mas eu sou viciado. Tudo o que eu faço e consigo, é pensado no hoje, não faço planos para o futuro. Eu não acho que posso conviver ao lado deles na situação em que vivo, hoje já sou morador de rua, essa é minha realidade e vida atualmente”, completou Joaquim.

Joaquim também comentou que o dinheiro que consegue é para sustentar o vício em crack. Ao invés de roubar, ele garante que prefere trabalhar e pedir.

“Se eu quero fumar um crack, e custa dez reais a pedra, se a pessoa me der cinco centavos eu aceito, pois ai irá faltar só R$ 9.95 para completar o valor que preciso. Prefiro viver assim. O dinheiro que sobra, ai compro algo para comer, ou beber, mas o principal é sempre usar o dinheiro com droga. Mas, não roubo e não obrigo ninguém a dar dinheiro para mim, é o que o coração da pessoa mandar eu aceito”, argumenta o cuidador de carros.

Ao lado de Joaquim atua mais dois cuidadores, que consideram o local como deles, uma vez que se outra pessoa aparecer no local da confusão.

Unidos e sem lugar para morar

Já em outro ponto da cidade, na Avenida Fernando Corrêa da Costa, em frente a uma loja varejista, é fácil encontrar os irmãos “Sem Palavras” e “Sem Futuro” ao lado da mãe Neia atuando como cuidadores de carro na região.

A família também, assim como Joaquim, é conhecida na região onde atua. Fernando, de 24 anos, conhecido como “Sem Futuro”, disse que há sete anos sua família fica ali no mesmo local cuidando de carros.

“Esse ponto aqui já é nosso, se aparecer outra pessoa aqui a gente coloca para correr. Durante o dia a gente fica aqui e a noite ficamos cuidando de carros que ficam ali estacionados no bar (Rua lateral a loja no Bairro Jardim Petrópolis em Cuiabá-MT)”.

A família mora na rua e dorme em um estacionamento de um salão de beleza que foi fechado na Avenida Fernando Corrêa.  Para se alimentar, eles dizem que durante o dia costumam ganhar marmita de comerciantes que tem restaurantes no Bairro Boa Esperança e pela noite, saem pedindo lanches as diversas barracas espalhadas pela avenida principal do bairro.

Apesar de ser uma família, cada um tem apenas o dinheiro que ganha e administra como bem entende. “Aqui dá dinheiro, se eu ficar direto sem parar até às 20h, chego a ganhar R$ 150,00, não menos que isso. Só que ai “torro” todo dinheiro em droga (Crack) e mulheres”, comentou Fernando.  

Ele conta que já recebeu de um cliente, de uma só vez, uma nota de R$ 100,00, porém foi ao bairro Pedregal, comprou drogas e gastou com uma acompanhante que pagou o valor de R$ 20,00 para ficar com ela.

No momento que a reportagem entrevistava Sem Futuro, ele informou que sua mãe havia ido ao Centro da cidade e seu irmão teria saído com um amigo para comprar drogas no Pedregal e voltaria em seguida.

Tanto Fernando, quanto Joaquim, informaram que a maior dificuldade em trabalhar na rua é que as pessoas sempre acham que eles são ladrões. Ambos afirmaram que existem sim flanelinhas que roubam ou riscam carros estacionados, mas eles preferem trabalhar honestamente sem mexer com ninguém, e por isso estão há tantos anos em seus pontos.

Secretaria de Ordem Pública

O secretário municipal de Ordem Pública, Leovaldo Emanoel Sales da Silva, informou que Pasta juntamente com a Secretaria de Trabalho estão mapeando toda Capital, no sentindo de disponibilizar um espaço e também realizando um levantamento das oportunidades de trabalho que o município pode oferecer a essas pessoas.

Toda a questão da legalidade será regulamentada pelo município futuramente, de acordo com o secretário. Ainda de acordo com Sales, não existe uma lei que proíbe eles de atuarem na rua, pois o cidadão não é obrigado a pagar, caso não queira.

“As pessoas pagam por reconhecimento, tanto que se a pessoa se negar a pagar, o flanelinha não tem o poder de obrigar”, comentou o secretário.

Na questão de ameaça por parte dos flanelinhas ou veículo quebrado, Sales orienta que o cidadão busque ajuda na polícia, pois aí acaba sendo uma questão de segurança pública, que compete ao Estado.

Leovaldo sales ainda explicou que o dinheiro arrecadado por eles mantém o vício, uma questão social.

“São vários fatores sociais, o tráfico de drogas, que envolve segurança pública, pois a droga não chega até o flanelinha se não houver o traficante. Envolve dependência química, que é a área de assistência social. Já na secretaria de Ordem Pública caberia coibir o desconforto com o motoristas na cidade, mas, lembrando mais uma vez, que o motorista não é obrigado a pagar nada”, explicou Sales.

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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