Dor de cabeça, insatisfação e arrependimento são os sentimentos de milhares de proprietários de Amarok no Brasil, fabricadas entre 2011 a 2015, envolvidas em um dos maiores escândalos da indústria automotiva mundial, conhecido como Dieselgate. O caso gerou processos judiciais em vários países, inclusive no Brasil, onde cerca de meio milhão de pessoas podem ter sido prejudicadas.
Esses consumidores podem cobrar, judicialmente, da empresa todos os transtornos e prejuízos causados pelo veículo, na tentativa de reaver parte das despesas que tiveram com o conserto do veículo, que saiu com o problema da fábrica. É o caso do bancário Ronaldo Moreira, de Sapezal, em Mato Grosso. Ele adquiriu uma Amarok SE (2012) em 2018. “Ela ficou quatro meses comigo, e usava ocasionalmente. Fiquei muito interessado nela, pois é um carro bonito, tecnológico, confortável e gostoso de dirigir, com tração nas 4 rodas, coisa que a minha outra caminhonete não tinha. Como eu andava muito em estrada de terra decidi fechar o negócio”.
O que Ronaldo não esperava era que o sonho se tornaria pesadelo em pouco tempo. Começou a usar a pick-up com mais frequência, quando a caminho de uma pescaria com os amigos, o motor ferveu, o que o pegou de surpresa já que a manutenção estava em dia. “Fundiu a parte de cima do motor. Tive que trocar cabeçote, junta de cabeçote, várias peças acessórias, peças hidráulicas, bomba d’água, válvula termostática, correia dentada, entre outras. Gastei R$ 19 mil”, conta o bancário ao lembrar que à época ficou decepcionado.
Depois de seis meses do reparo o veículo apresentou problema. “Desta vez foi a parte debaixo do motor que fundiu, em uma viagem. Estava indo de Cáceres para Pontes e Lacerda (a 228 km de distância) visitar um amigo e no meio do caminho o carro parou. Eram 19h. O guincho chegou às 23h para me socorrer, levou o carro para Cáceres, outra cidade. Para fazer o motor completo gastei mais R$ 27 mil. O mesmo problema em menos de um ano, inacreditável”.
Quando Ronaldo achou que todos os problemas haviam sido superados, e o carro não teria problema, decidiu fazer alguns reparos na funilaria no intuito de vendê-lo. “Foi então que em setembro do ano passado, mais uma vez o motor fundiu. Gastei mais R$ 35 mil. Desde que comprei o carro, há quatro anos, foram gastos cerca de R$ 80 mil, e o preço atual pela tabela Fipe é R$ 88 mil. Quero vender, mas não quero passar o problema para outra pessoa”, desabafa Ronaldo.
Drama semelhante foi vivenciado pelo engenheiro civil Bruno Oliveira Barreto, de Rondonópolis (MT). Assim como Ronaldo, foram vários episódios de problemas com quatro Amaroks diferentes. “Costumo dizer que comprar a primeira foi um erro, a segunda só me deu raiva e na terceira e a quarta (duas na mesma compra) – quando na concessionária me disseram que todos os problemas anteriores haviam sido sanados – me senti enganado”, declara, ao contar que a primeira foi o segundo dono, com 13 mil km rodados, mas que no primeiro ano de uso fundiu o motor. Desembolsou cerca de R$ 35 mil no conserto e vendeu. A segunda também apresentou problema no motor, mas estava na garantia.
Já a última compra, na qual foram adquiridas duas unidades zero km, uma delas não apresentou problemas e a outra tem no histórico um vai e vem à concessionária para reparos. “Estava me deslocando de Rondonópolis para o aeroporto de Várzea Grande para uma viagem e quase perdi o voo, quando fiquei na estrada. Chamei socorro e o guincho levou o veículo para Rondonópolis e um taxi me levou para o aeroporto. Cheguei faltando 30 minutos para a decolagem e foi um transtorno ter que explicar pra companhia aérea o que aconteceu. Em resumo, nunca mais compro uma Amarok”, diz ao comentar que sempre teve caminhonetes e que foi atraído pela Amarok pela beleza, conforto e economia. “Uma pena que o motor é descartável”, resume.
Caso Dieselgate
A fraude que desencadeou o Dieselgate consistiu na instalação de um software programado para controlar as emissões de óxido de hidrogênio (NOx) do motor EA189 conforme o ambiente de uso da picape Amarok. Em testes em laboratório, o carro soltava menos poluentes, dando à montadora a chancela de órgãos de fiscalização quanto à aderência do veículo à legislação ambiental vigente. Nas ruas, no entanto, o software desligava e a emissão ficava acima do que havia sido mensurado.
A montadora, em uma da ações judiciais, admitiu que usou nos veículos um dispositivo para fraudar o cálculo do nível de emissão de óxido de hidrogênio (Nox) para burlar testes de emissões de poluentes e se enquadrar na legislação. Ocorre que, além dos danos ambientais causados pela fraude, o desempenho do veículo foi prejudicado e os proprietários relataram perda de potência e alta no consumo de combustível, além do sentimento de terem sido enganados.
Antecipação dos recursos indenizatórios
Ronaldo Moreira e Bruno Barreto estão entre os proprietários de Amarok que recorreram à civictech www.Regera.vc que antecipa o direito creditórios dos consumidores prejudicados nessa causa.
“Entre os mais de 2.000 consumidores que já se cadastraram na plataforma www.dieselgate.com.br 90% gastaram, em média, R$ 14.007,00 com a manutenção do veículo, sendo 66% deste total prejudicados por problemas na válvula EGR; e 75% com a correia dentada. Estes dois itens estão diretamente ligados ao sistema do software fraudador e atingem muitos veículos fabricados entre 2011 e 2015”, afirma Bruno Dollo, CEO da www.Regera.vc , startup envolvida nessa causa.