‘PRÁ QUEM JÁ MORDEU UM CACHORRO POR COMIDA…’
Em 29 de outubro celebra-se o Dia Nacional do Livro, para lembrar a fundação da Biblioteca Nacional do Brasil, localizada na cidade do Rio de Janeiro. Em 1808, a Real Biblioteca de Portugal se transferiu de Lisboa para a cidade do Rio de Janeiro colonial. Isso porque D. João VI, em fuga para o Brasil, escapou das tropas napoleônicas e, em 22 de janeiro de 1808, chegou a Salvador e, em 7 de março do mesmo ano, ao Rio de Janeiro.
A bordo do navio além da família real e demais pessoas da corte portuguesa, em um total de 10 mil pessoas, em 19 navios. Em um deles, D. João VI acomodou sua preciosa Real Biblioteca. Em 1810, nesse dia 29 de outubro, um decreto do príncipe regente determinou a construção da sede da Biblioteca Nacional, aberta ao público em 1814. Para saber muito mais sobre a história da fabulosa biblioteca real, de 1755 a 1822, sugiro neste dia que comemora o livro, a leitura de “A longa viagem da Biblioteca dos reis: do terremoto de Lisboa à independência do Brasil” (2002), de Lilia Moritz Schwarcz, Paulo Cesar de Azevedo e Angela Marques da Costa. (Hoje, ao abrir esse livro, encontro um recorte de jornal “Biblioteca a bordo”, de Ana Lúcia Merege, publicado no jornal O Globo, Caderno Globinho, de 13 de abril de 2003, enviado por meu pai em uma de suas inúmeras cartas escritas a mim).
Confesso que neste dia, teria dificuldade de selecionar apenas um livro com o meu favorito, depois de uma longa viagem por tantas páginas vida afora. Minha saída é indicar os dois últimos livros lidos: “Pra quem já mordeu um cachorro por comida, até que eu cheguei longe…” e “Amoras”, do rapper Emicida.
Eu e meus amigos Rosemar e Túlio nos reunimos, de modo virtual, para escrever um artigo destinado aos alunos do Ensino Fundamental. Nossa atenção dirige-se aos alunos do Ensino Fundamental. Sobre eles, dados do Ministério da Educação demonstram que o Brasil possui 27,3 milhões de matrículas no ensino fundamental. Desses, 15,3 milhões encontram-se nos anos iniciais e 12 milhões nos anos finais. Entre as questões mais alarmantes em relação à educação pública brasileira acham-se “o baixo nível de aprendizado dos alunos, as grandes desigualdades e a trajetória escolar irregular” (MEC).
Nossa proposta é a de levar o livro “Amoras”, também de Emicida, para o espaço escolar, pois pode pôr em debate a “descolonização epistêmica”. Percorre na contramão da não existência, caracterizada pela secular dominação e desumanização que tenta tornar invisível outras vivências históricas para permanecer instalada na colonialidade, nos saberes subalternos e no pensamento limiar.
“Amoras”, que em 2018 recebeu o Selo Seleção Cátedra 10, da Unesco, tem por inspiração a composição homônima dedicada à filha Estela e põe em debate o preconceito contra a representatividade afrodescendente. Mas, também dá visibilidade à grandiosidade dessa origem, fortemente presente na formação da população brasileira.