Com o saudoso indigenista e artista plástico Maurílio Barcelos convido os leitores a comemorar o Dia Internacional dos Povos Indígenas. A data memorativa de hoje saúda a riquíssima diversidade de povos indígenas do planeta Terra. É preciso lembrar de que povos indígenas de diversas partes do mundo continuam a enfrentar problemas da ordem da discriminação racial, social e cultural. A ganância que se alastra por seus territórios de ocupação tradicional, a exploração ilegal dos recursos naturais, a falta de acesso aos serviços de saúde e educação são situações recorrentes em inúmeras aldeias. Elas não são de hoje!
Não nos deixemos levar pela perplexidade que nos faz hirto como uma estátua diante à atual conjuntura política, promovida por um “desgoverno que hoje está à frente do Brasil e que infelizmente não tem honrado as calças que veste para cuidar de nosso povo como um todo”, nas palavras do indígena Daniel Munduruku. Sem dúvida, o dia de hoje é um momento apropriado para repensar o contato de índios e não índios que, no caso do Brasil, dá-se há mais de 500 anos. O 9 de Agosto deve nos conduzir a um estado de ânimo que nos faça refletir sobre a positividade da convivência dos não índios com as centenas de etnias que atualmente habitam o território brasileiro. Há de se pensar sobre a troca de saberes que pode, com certeza, contribuir de modo significativo para a qualidade de vida de todos, indistintamente, bem como para a preservação da nossa grande mãe Natureza. Pode nos conduzir a uma relação mais humana com a floresta, o cerrado, as águas dos rios, os bichos que andam, os bichos que voam, os bichos que rastejam, os bichos que nadam.
Foi a Assembleia Geral das Nações Unidas quem instituiu o Dia Internacional dos Povos Indígenas. Seu propósito foi o de reconhecer o universo diverso dos povos indígenas, com uma população de mais de 370 milhões, distribuída por cerca de 70 países, falante da maioria das línguas mundiais e que passa de geração a geração uma rica diversidade cultural. É também um dia para refletir sobre os difíceis desafios que essas populações enfrentam diante à subtração de seus direitos constitucionais.
A data, também pensada para exaltar a riqueza cultural dos povos indígenas e sua cooperação para a família humana, deve conduzir os não índios de todos os cantos do planeta a mirar para as populações indígenas, numa tentativa de compreender seus distintos modos de viver. Estatísticas alarmantes pairam sobre elas: em alguns países, os índios são 600 vezes mais vulneráveis à tuberculose em relação aos indivíduos das demais sociedades. Em outras, a expectativa de vida é 20 anos inferior a não indígena. De acordo com as Nações Unidas, a situação de vulnerabilidade e exclusão representa 15% das pessoas mais pobres do planeta Em algumas partes do planeta, suas línguas, religiões e tradições culturais são censuradas.
Ao comemorar o Dia Internacional do Povos Indígenas não cabe elencar aqui os casos de violência acometidos aos povos indígenas. Isso porque precisaria de muito, muito, muito espaço. Mas, há o relatório Violência contra os povos indígenas, importante instrumento de denúncia da violência e da violação que acometem aos povos indígenas, publicado anualmente, desde 1996, pelo Conselho Indigenista Missionário (consultar https://cimi.org.br/observatorio-da-violencia/o-relatorio/).
De que forma nós, não índios, podemos comemorar o Dia Internacional dos Povos Indígenas? No regozijo da riqueza das culturas indígenas, nosso comprometimento pode estar direcionado para o bem-estar de todos. Ao alargar nosso círculo de responsabilidades às populações indígenas podemos fazer valer o estado de direitos humanos para que índios e não índios possam participar da criação de um mundo entrelaçado na paz, na solidariedade, na justiça. É um primeiro passo!
Anna Maria Ribeiro Costa é historiadora, escritora e filatelista na temática Povos Indígenas nas Américas.