Para comemorar o Dia do Músico, 22 de novembro, um acontecimento ocorrido na vida do povo indígena Nambiquara, habitante de Terras Indígenas a Oeste de Mato Grosso. Deu-se no tempo de antigamente, aquele impossível de contar, que o Nambiquara do Cerrado passou a conhecer a música instrumental. Isso porque um menino se transmutou em plantas úteis e utilitárias em benefício de seu povo. Sua cabeça foi transformada em cabaça; os cabelos nos estigmas da espiga de milho; as lêndeas em sementes de fumo; as sobrancelhas em algodão; as orelhas em feijão fava; os olhos na semente da abóbora, os dentes em grãos de milho, as mãos, em folhas de mandioca; o sangue, em urucum; o fígado em taiá; os testículos em cará; os ossos das pernas em araruta; as unhas dos pés em amendoim; os músculos em massa de mandioca; a urina em bebida à base de mandioca. Sua alma, na melodia mágica da flauta, encontrada em meio à plantação.
A agricultura Nambiquara, junto à atividade coletora, tornou-se, portanto, a base da sobrevivência Nambiquara, intimamente relacionada ao menino que, no tempo de antigamente, atraído pelo som mágico e encantador de uma flauta, transformou-se em vegetais.
Em agradecimento ao sacrifício do menino, anualmente celebram a agricultura em rituais masculinos. Em uma espécie de humanização dos instrumentos, as flautas são alimentadas pelos homens; recebem bebida à base de mandioca por seus orifícios, no mesmo momento em que também os tocadores de flauta estão se alimentando. O Nambiquara crê que, anualmente, durante as atividades agrícolas, o menino da flauta retorna à aldeia para visitar seu povo. Ao ar livre, homens enfileirados, em passos sincronizados e firmes, entoam a flauta sagrada para agradecer por sua transformação.
Todos acreditam que o espírito do menino está sendo alimentado pelos tocadores das flautas sagradas. Afirmam que ao ouvir “a música da flauta sagrada, nenhum animal, espírito mau não encostam”. Em virtude do caráter sagrado atribuído ao instrumento musical, sua comercialização é proibida.