Cidades

Dia de luta, mulheres de fibra

Neste domingo, 8 de março, é celebrado o Dia Internacional da Mulher. A data teve origem com as manifestações das mulheres russas por melhores condições de vida e trabalho, na Primeira Guerra Mundial. Por alguns anos a data caiu no esquecimento, mas foi recuperada pelo movimento feminista, nos anos 60, e adotada pelas Nações Unidas, em 1977.

Apesar de datas afirmativas e políticas públicas que visam o direito da mulher, muitas ainda são vítimas de preconceito e machismo. A motorista Idailsa de Jesus Silva, 48 anos, foi abandonada com os três filhos pelo marido. Acabou se endividando, e com apoio dos amigos de trabalho, decidiu arriscar e enfrentar os próprios medos: mudar de profissão
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De profissional de limpeza, passou a motorista de transporte público em Cuiabá. “Parei de pagar temporariamente minhas dívidas para poder pagar a carteira de motorista, pois sabia que poderia conseguir algo melhor”, exalta a motorista que hoje afirma não ter nenhuma dívida.

Segundo o Censo 2010 do IBGE, em Cuiabá, a população é de 551.098 habitantes, destes, a maioria é de mulheres, 281.894. Entretanto, Idailsa representa minoria onde trabalha, ela é uma das 33 mulheres em meio a 244 homens.

A construção civil também é uma área majoritariamente masculina, mas não intimidou a engenheira de Segurança do Trabalho Sheila Varaschin, 31 anos, a sair das salas de decoração, pois sua formação é Arquitetura, e enveredar por um canteiro de obras.

 “No início, havia resistência por parte dos homens. Eles não estão acostumados com mulher no canteiro [de obras]. Aos poucos, as mulheres vão mostrando conhecimento com humildade, com jeito, e conquistam o pessoal. Eles acabam nos respeitando”, pontua.

Ela ainda afirma que o boato de que homem é mais resistente e mais forte que a mulher é balela. “A parte da guarita de uma obra, nenhum homem quis pegar, e as mulheres fizeram toda a obra: fundação, estrutura, alvenaria… uma equipe toda feminina”, conta.

Sheila diz que o Dia Internacional da Mulher é importante para reafirmar o poder feminino e os direitos que a mulher já conquistou, como o direito ao voto, a ampliação das mulheres no mercado de trabalho, e até as cotas, como, por exemplo, a cota eleitoral de gênero que destina 30% das candidaturas às mulheres.

Já a cerimonialista pública Olga Lustosa, 55 anos, acredita que a luta para o direito das mulheres está apenas no início. “Em Mato Grosso não há como falar em igualdade de gênero. São 24 deputados estaduais e apenas uma mulher; 21 vereadores, e uma mulher; 26 secretários de Estado, e apenas três são mulheres. Nenhuma deputada federal. Penso que estamos muito distantes de uma igualdade", expõe.

Olga, desde cedo, entrou no meio político. No começo, como professora de inglês, fazia traduções de documentos e dava assistência para os políticos mato-grossenses. Dedicou-se por 18 anos ao cerimonial do Governo do Estado de Mato Grosso, onde dialogava com os principais poderes do Estado, mas destaca nunca ter deixado a feminilidade de lado. “Sempre usei saia, vestidos… e exigi respeito por isso”, conta.

Hoje, decidiu ir a mais a fundo na política: estudá-la academicamente. Estudante de Ciências Sociais na Universidade Federal de Mato Grosso, Olga faz uma pesquisa sobre os haitianos que vivem em Cuiabá.

Ela conta que em uma discussão na faculdade um homem perguntou se o fato de os espaços de poder serem ocupados em sua maioria por homens, também não tem uma parcela de culpa da mulher, “que não toma frente, que não “bate o pé”, que não se impõe”. “Logo pensei nas mulheres haitianas que residem aqui. Se elas reivindicam, ‘batem o pé’, perdem o emprego. Que vai rapidamente para um homem. Elas ganham menos que os homens”, reflete.

A cerimonialista admite que há avanços no direito da mulheres, porém acredita que 8 de março é um dia de luta e conscientização. “Não temos nada a comemorar. Não me deem flores no Dia da Mulher, ainda há muito por que lutar”, enfatiza.

A vida dessas três mulheres é um pequeno exemplo de como outras Idailsas, Marias, Sheilas Margaretes, Olgas, Flávias, Carolinas lutam diariamente para serem protagonistas de seus destinos, e romper a barreira social que limita o progresso das mulheres.

 

Cintia Borges

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