Opinião

 Devocionais

Publicado do Uol 28/01/25: “Os chamados devocionais, momentos de adoração fora das igrejas, chegaram com força às escolas brasileiras.”

O Iluminismo, que começou França nos anos 1600, pregava o domínio da razão sobre as “verdades reveladas” das religiões, principalmente as monoteístas. Não seria absurdo na época prever o declínio, senão o fim, das crenças e superstições em um ou dois séculos.

Passados 400 anos, o mundo continua cultuando seus deuses e santos com muita devoção. A mais antiga das religiões monoteístas, o judaísmo, que atribui sua origem a uma aliança com Jeová, considera o povo judeu o escolhido e se diz descendente dos patriarcas que tiveram contato direto com Deus. São uns 15 milhões no mundo. 

Outros tantos – cerca de 16 milhões – estão convencidos de que há mais ou menos 200 anos, nos Estados Unidos, um jovem foi escolhido para uma missão divina. Surpreendido por uma luz intensa e, atraido por ela, se viu em uma montanha, onde foi apresentado a diversas placas de ouro que estavam ali enterradas. Essas placas continham uma escrita misteriosa em língua desconhecida.  Encarregado da tradução, dedicou-se ao serviço, resultando no livro sagrado dos “Santos dos últimos dias”. São os Mórmons.

No ano 600 de nossa era, na cidade de Meca, na Arábia Saudita, um homem teria sido arrebatado por uma estranha aparição. Nela, o Arcanjo Gabriel o incumbia de converter os patrícios ao monoteísmo. Pelo Anjo, durante vários anos, foram-lhe apresentados textos do livro que ainda hoje é considerado sagrado por quase dois bilhões de fiéis. Estes são os muçulmanos.

Muito antes de Maomé – o que foi arrebatado – uma judia, que mesmo casada permanecia virgem, teria sido inseminada por uma divindade, dando à luz um filho que era Homem e Deus. Este homem/Deus foi perseguido, humilhado e morto pelos que não creram nele. Por fim, ressuscitou e voltou a morar no céu com seu pai. No mundo, são mais de dois bilhões de pessoas que acreditam nesse relato.

O judaísmo – nosso primeiro exemplo – tem 15 milhões de seguidores, entretanto 7,985 bilhões (população da terra menos os judeus) descreem da preferência divina por esse povo. A doutrina dos Mórmons – segundo caso – é aceita por 16 milhões de almas, todavia 7,984 bilhões a acham inconcebível. O Islamismo – citado em seguida – fascina 1,9 bilhão de seguidores, mas outros 6,1 bilhões de pessoas o rejeitam. O último, o cristianismo, congrega 2,4 bilhões de crentes e é rejeitado por 5,6 bilhões de não cristãos.

Qual lhe parece a narrativa mais verossímil? A do povo escolhido por Deus; a do místico americano que recebeu as pranchas de ouro; o texto ditado pelo Arcanjo Gabriel ou a concepção da virgem da Galileia?

Todos os proselitistas desses quatro relatos estão totalmente convencidos de que o seu é o verdadeiro e os outros três furados. Os ateus vão além: não acreditam em nenhum dos quatro.

O século 21 com suas devocionais, avisa aos intelectuais iluministas que os homens, pelo menos por enquanto, não sabem viver sem deuses, crenças e superstições.   

Renato de Paiva Pereira. 

Foto Capa: https://www.todamateria.com.br/simbolos-religiosos/

Renato Paiva

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