A última vez que um clube do Mato Grosso disputou a elite do futebol brasileiro foi em 1986, com o Operário, de Várzea Grande. Para russos e coreanos, no entanto, a cidade de pouco mais de 500.000 habitantes já respira o ar de Copa – e eles parecem não sentir falta da proximidade da praia e do Maracanã, as imagens mais óbvias do país da Copa.
O futebol não é esporte mais popular na Rússia e na Coreia – os europeus preferem o hóquei no gelo, enquanto os asiáticos apreciam o beisebol –, mas tornou-se uma paixão nacional para os dois povos, sobretudo na última década. A Copa de 2002, em que a seleção coreana foi semifinalista e a brasileira campeã, foi o pontapé inicial para a massificação da modalidade no continente asiático. Não à toa, muitos jovens sul-coreanos resolveram se aventurar no Brasil. “Eu era muito novo na Copa da Coreia. Queria sentir essa experiência no país que mais gosta de futebol”, revela o estudante sul-coreano Hyun-su Park. Seu cunhado, Walter Byron, é inglês e o acompanhou na viagem. Com a experiência de quem já esteve em duas Copas do Mundo, ele confessa não ter se entusiasmado tanto com a modesta Cuiabá. “A cidade parece tranquila, bem pequena. E muito quente. Mas eu já estive até na Copa da África do Sul. Não teria por que não vir ao Brasil”, revelou Byron.
Na véspera da partida desta terça-feira, às 19 horas (de Brasília), a torcida asiática parecia em maior número na capital mato-grossense – ou pelo menos nos animados bares do centro da cidade. Um grupo de sul-coreanos se divertiu entre um gole e outro de vodca – juraram não ser provocação aos russos – e falaram das expectativas para este Mundial. “Nosso time é ruim, viemos pela festa”, contou o cozinheiro Diego Kwon, que nasceu na Coreia, mas mora desde criança na Argentina. Mais comedidos, tanto nas vestimentas como nas bebidas, os russos mostraram mais esperanças com sua seleção. “Pretendo viajar o Brasil todo para acompanhar a Rússia. Acho que faremos pelo menos cinco jogos”, comentou o empresário Sergei Arkhipov. Ele ainda se disse surpreso com o entusiasmo dos cuiabanos. “Li que havia brasileiros protestando contra a Copa. Não dá pra entender muito. Aqui todos parecem bastante felizes.”
Alguns estrangeiros gostaram tanto de Cuiabá que até decidiram prolongar a estadia. “Resolvi ficar mais um pouco, a cidade é muito bonita, tem festa todos os dias. Acho que se eu fosse pra São Paulo ou Rio de Janeiro, não seria tão fácil sair de noite e conhecer tanta gente”, contou o estudante chileno Leo Coloma, que assistiu na última sexta à vitória de sua seleção contra a Austrália, na Arena Pantanal. De fato, a facilidade de se locomover na cidade agradou a diversos turistas, que encararam longos voos até o Brasil. Os advogados australianos Dhruv Nagrath e Shane Wescott também se disseram encantados com sua primeira experiência no Brasil. “As pessoas são agradáveis e a atmosfera é ótima”, disse Dhruv. Vestindo uma camisa da seleção australiana, Wescott repete chilenos e russos ao ser questionado sobre o motivo de ter vindo ao país: “Adoramos a Copa do Mundo e o Brasil é a casa espiritual do futebol”.
Alguns torcedores estrangeiros reclamaram da falta de sinalização da cidade e da barreira do idioma (muitos brasileiros, russos e sul-coreanos não se faziam entender em inglês, o que despertou algumas confusões). Ainda assim, todos pareciam satisfeitos, inclusive os funcionários dos bares. "Por mim poderia ter Copa todo ano", afirmou um garçom.
Luiz Felipe Castro, de Cuiabá – Veja