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Destino de mochileiros, cidade no Laos enfrenta repercussão após casos de intoxicação letal

Uma cidadezinha conhecida como um paraíso dos mochileiros no norte do Laos ganhou destaque por um caso de intoxicação em massa que matou pelo menos seis turistas, e possivelmente atingiu dezenas de outros.

No final de novembro, surgiram notícias de que dois adolescentes australianos teriam ficado gravemente doentes após uma noite de bebedeira na cidade de Vang Vieng. Eles morreram em hospitais tailandeses, e um dos casos foi confirmado como intoxicação por metanol. Também foi confirmada a morte de uma mulher britânica. Morreram ainda um americano e dois dinamarqueses, embora a causa exata de suas mortes não tenha sido divulgada. Um neozelandês ficou doente.

Desde então, muitos turistas ficaram preocupados, pois não se sabe quantos foram afetados, conta Neil Farmiloe, um neozelandês proprietário de um restaurante na cidade.

O incidente despertou memórias sombrias da cidade, que já foi conhecida pelas festas sem limites envolvendo jovens mochileiros. Apesar da tragédia, no entanto, a cidade, especialmente à noite, estava lotada de visitantes em seu bairro principal, repleto de bares, restaurantes e barracas de comida. Durante o dia, muitos caiaques flutuavam pelo rio, com turistas gritando e atirando água uns nos outros.

Frida Svedberg saiu da Suécia há cinco semanas para sua grande viagem pelo Sudeste Asiático, sem um plano de retorno definido. Ela conta que ouviu as notícias pouco antes de chegar ao Laos, e foi bombardeada com mensagens de familiares e amigos preocupados. Ela ainda seguiu com seu plano original de passar três noites na cidade, e achou o lugar tão bonito quanto esperava.

“Obviamente tem cara de um lugar famoso para mochileiros. Você sai de Luang Prabang, na Tailândia, depois vai para Vang Vieng e segue adiante. Eu só ouvi coisas boas sobre o lugar, e é para onde a maioria das pessoas vai”, disse a mulher, de 24 anos.

Vang Vieng já foi mais perigosa.

Sem acesso ao mar, o Laos, um Estado comunista de partido único, é um dos países mais pobres do Sudeste Asiático, e um popular destino turístico, especialmente Vang Vieng.

Soutjai Xayphankhaun, que administra sua pousada, Sout Jai Guesthouse, em Vang Vieng, há 17 anos, conta que entre 2005 e 2006 a cidade começou a se popularizar entre os mochileiros europeus, atraídos pela natureza tranquila e pelas atividades como boia cross, em que um turista se senta em uma boia e flutua ao longo do rio Nam Song, com paradas para se divertir em vários bares nas margens.

A situação às vezes saía do controle, com bebida barata, drogas ilegais, e os esportes aquáticos no rio que às vezes se tornavam letais. Pessoas se afogavam ou recebiam um golpe fatal ao pular no rio de um balanço de corda. Em 2011, a cidade registrou 27 mortes relacionadas a atividades no rio, o que obrigou o governo a intervir com regulação.

Depois disso, segundo Farmiloe, Vang Vieng passou a receber grupos muito mais ecléticos de turistas, que apreciam uma gama mais variada de atividades, além da vida noturna. Ainda há um bom tanto de jovens mochileiros ocidentais, mas a cidade também é visitada por muitos chineses e sul-coreanos.

Agências de turismo espalhadas pelas ruas principais anunciavam diversos pacotes que ofereciam as águas azul-turquesa da Lagoa Azul, vistas tranquilas do alto das montanhas, e várias cavernas diferentes. Os mais aventureiros podem experimentar passeios de caiaque, tirolesa, voos de parapente, ou balões de ar quente. O boia cross ainda está na lista, mas com bem menos visitas aos bares nas margens do que no passado.

Moradores temem que o incidente possa prejudicar o turismo

Vang Vieng recebeu mais de 600 mil turistas em 2023, e o governador distrital teria dito que espera receber ainda mais este ano, segundo a agência estatal de notícias, Laos News Agency.

Mas depois das últimas mortes de turistas, Soutjai, dono da pousada, está um pouco preocupado.

“Isso tem a ver com os turistas e a confiança dos turistas. A notícia correu o mundo. Definitivamente haverá um impacto”, diz.

Anton Honkanen, turista sueco, conta que o ocorrido afetou sua experiência.

“Acho que isso destrói um pouco o valor da viagem de mochilão. Porque todo mundo simplesmente aproveita esse momento. Talvez conhecer pessoas novas nos albergues, tomar uns drinques com todo tipo de gente do mundo inteiro. E não vou poder fazer isso hoje por causa da intoxicação”, diz.

Svedberg, porém, diz que o que aconteceu foi uma infelicidade e não deveria impedir as pessoas de irem até lá. “As coisas podem acontecer em qualquer lugar, em todo lugar. Então, acho que não precisa afetar o turismo. Só tenha cuidado.”

O Nana Backpacker Hostel, onde os dois jovens australianos ficaram, fechou as portas no sábado. O local não estava autorizado a receber novos hóspedes desde o início da semana, e estava apenas hospedando os visitantes restantes até a sexta-feira. O gerente e o proprietário, vietnamitas, foram detidos para interrogatório pela polícia do Laos.

O metanol às vezes é adicionado aos drinques, em bares desonestos, como alternativa ao etanol, mas pode causar intoxicação grave ou morte. Ele também é um subproduto de bebidas alcoólicas caseiras mal destiladas, e pode ter chegado inadvertidamente aos drinques do bar.

O governo do Laos reconheceu o caso oficialmente, e prometeu levar a julgamento os responsáveis.

Estadão Conteudo

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