Neste ano, as chuvas chegaram a Mato Grosso com o maior atraso em cinco anos. A escassez fez com que a soja não germinasse, e os agricultores tiveram que fazer o replantio, no principal estado produtor do país. A explicação está nas árvores, ou na falta delas.
A redução do período de chuvas, como a observada agora, na região que compreende Rondônia, o norte do Mato Grosso, o sul do Pará e do Amazonas, está associada ao desmatamento , mostra um estudo de cientistas das universidades Federal de Viçosa (MG) e da Califórnia (EUA).
A pesquisa que relacionou o desmatamento à diminuição das chuvas no sul da Amazônia foi publicada na revista International Journal of Climatology. Ela detectou uma diminuição de 27 dias no período chuvoso de 1998 a 2012.
Os cientistas analisaram dados de um satélite da Nasa que mede chuvas e de uso da terra. Eles viram que, a cada 10% de uma determinada área desmatada, a estação chuvosa perdeu, em média, 1 dia.
O objetivo dos cientistas é dar prosseguimento ao estudo, mas, para isso, serão necessários recursos, e a ciência está à míngua, explica o coordenador do trabalho, o professor do Departamento de Engenharia Agrícola da Universidade Federal de Viçosa Marcos Heil Costa.
A Floresta Amazônica é um importante agente do clima e interage com a umidade trazida pelo Oceano Atlântico e os ventos alísios para regular o clima de todo o continente. Seus efeitos são ainda mais sentidos localmente.
Quando a floresta dá lugar a pastagens e a campos cultivados, menos vapor d’água é devolvido à atmosfera.
“Existe uma relação clara entre o desmatamento e a redução das chuvas no sul da Amazônia. E o maior impacto é sobre a segunda safra”, diz ele.
A conta do desmatamento é mais cara para o agronegócio, a atividade que depende profundamente do clima. O replantio da soja, por exemplo, bagunça o calendário de plantio da segunda safra, quase sempre de milho.
Costa diz que uma opção seria mudar da agricultura de sequeiro (que depende das chuvas) para a irrigada. Mas irrigação tem custo, sobrecarrega os recursos hídricos e depende de linhas de transmissão, altamente deficitárias na região.
“O custo do desmatamento é maior do que os produtores estimam e irrigação é apenas paliativo e um paliativo caro, que se refletirá nos custos e nos preços”, afirma o cientista.