O desembargador Orlando Perri, do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJ-MT), concedeu a liberdade do cabo da Polícia Militar Euclides Luiz Torezan, preso sob suspeita de integrar o esquema de interceptações telefônicas ilegais em Mato Grosso. A determinação dada nesta terça-feira (11) foi confirmada pelo próprio órgão, no entanto a decisão não foi disponibilizada, por se tratar de uma ação que está em segredo de Justiça.
Torezan foi preso preventivamente no dia 23 de junho, por determinação do próprio desembargador, que é o responsável pela relatoria do inquérito no TJ-MT. O cabo é apontado por operar o esquema de grampos ilegais. Ele seria o responsável por montar a central de escutas e prestar assistência técnica aos policiais militares.
A ação investiga a existência de um escritório montado para interceptar telefones de políticos, empresários, jornalistas e advogados desde 2014. À Justiça foram repassadas conversas comprometedoras do grupo monitorado através de um esquema conhecido como “barriga de aluguel”.
Com o cabo Torezan foram presos, também pela suspeita de envolvimento no mesmo esquema, o chefe afastado da Casa Militar, coronel Evandro Lesco, o secretário-adjunto afastado, coronel Ronelson Jorge de Barros, e o tenente-coronel Januário Batista. Eles ainda continuam cumprindo a medida preventiva.
Já o corregedor-geral da PM, coronel Alexandre Corrêa Mendes, e o diretor de Inteligência da Corporação, tenente-coronel Victor Paulo Fortes Pereira, foram presos pelo suposto vazamento de informações, quanto aos mandados de prisão anteriores. Estes obtiveram a soltura no início de julho, no entanto, foram afastados do Comando Geral da PM.
Arapongagem em MT
A existência de suposta central clandestina de grampos telefônicos em Mato Grosso veio à tona no 11 de maio, quando o governo do Estado anunciou a exoneração do ex-chefe da Casa Civil Paulo Taques. Sua saída foi anunciada como um acordo entre Paulo e seu primo, o governador Pedro Taques, para que o homem forte do Executivo deixasse o Palácio Paiaguás e cuidasse pessoalmente das investigações envolvendo a suposta “arapongagem”.
No dia 23 de maio, o juiz Marcos Faleiros, da 11ª Vara Criminal Especializada em Crimes Militares de Cuiabá, determinou a prisão preventiva do ex-comandante-geral da Polícia Militar, coronel Zaqueu Barbosa, que teria atuado não só como mandante, mas como o responsável por manter contato pessoal com magistrados para viabilizar a quebra de sigilo telefônico ilegal em Mato Grosso.
O cabo da Polícia Militar, Gerson Luiz Ferreira Golveia Junior – integrante do Núcleo de Inteligência da PM e teria assinado alguns pedidos de grampos à Justiça -, também foi preso.
O caso até então investigada pela Procuradoria-Geral da República (PGR), após denúncia do ex-secretário de Estado de Segurança Pública (Sesp), o promotor de Justiça Mauro Zaque, apontou que membros da Polícia Militar aproveitaram uma investigação relacionada ao tráfico de drogas na região de Cáceres (177 km de Cuiabá), para inserir números telefônicos de políticos adversários ao governo, médicos, advogados, jornalistas, servidores públicos e até desembargador aposentado de Mato Grosso, em um pedido de quebra de sigilo.
O requerimento para as interceptações teria sido encaminhado ao MPE, que por sua vez formalizou a solicitação à Justiça estadual. A autorização teria partido do juiz Jorge Alexandre Martins Ferreira, que não teria tido conhecimento de que nem todos os números relacionados pela PM estavam relacionados com o crime tratado no processo.
As escutas ilegais teriam começado no período das eleições de 2014, quando Silval Barbosa (PMDB) ainda era governador e Taques disputava as eleições. Em 2015, novos nomes foram incluídos nas escutas.
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