Política

Descriminalização do aborto é pauta da sociedade, dizem ativistas

À espera de uma definição da ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), sobre os próximos passos envolvendo a discussão sobre a descriminalização do aborto até a 12ª semana de gestação, favoráveis e contrários intensificam as discussões. Para eles, o assunto tem de estar na pauta da sociedade. 

Nos últimos dias 3 e 6, o Supremo Tribunal Federal promoveu audiência pública para discutir o assunto. A ministra Rosa Weber é a relatora da ação e aguarda agora manifestação da procuradora-geral da República, Raquel Dodge, para decidir.  Há dois dias, o Senado da Argentina rejeitou a proposta de descriminalizar o aborto no país. 

A fundadora da União de Mulheres e membro da Comissão Estadual da Verdade de São Paulo, Maria Amélia de Almeida Teles, defende que a Constituição, que não criminaliza a interrupção da gravidez de forma espontânea, prevaleça sobre o Código Penal, que trata do assunto. 

“A Constituição Federal não criminaliza o aborto, quer dizer, o Código Penal é que tem que mudar, não é a Constituição, porque ela não penaliza o aborto. Isso seria facilmente resolvido se a Constituição fosse respeitada”, disse Amélia Teles. 

 “As jovens estão em um movimento de resistência, elas defendem não só que se tenha o direito de decidir, como decidem fazer o aborto. Estamos falando de uma coisa que já está acontecendo. Mas elas precisam de uma retaguarda, não podem ficar sozinhas, é fundamental articularmos com elas”, acrescentou.  

Para Carmen Barroso, da assessoria sobre Gênero e Direitos Humanos da Organização Mundial da Saúde (OMS), a descriminalização e a legalização devem ser discutidas para que as pessoas pensem sobre o tema. Ela colocou o assunto em pauta quando recebeu o Prêmio de Populações da ONU, em 2016, e contou sobre o aborto que ela fez em 1966. 

“[O tema] sensibilizou pessoas que nunca tinham prestado atenção no problema a perceber que aquele era um problema importante e que era um direito das mulheres”, disse. “Algumas pessoas estão em cima do muro porque nunca pensaram sobre o assunto, então tem que ir na mídia e bombardear até que as pessoas prestem atenção”. 

Maria Amélia de Almeida Teles defende que a descriminalização e a legalização do aborto devem envolver as mulheres como um todo, de forma coletiva. “O aborto, sendo um tema clandestino, é feito na clandestinidade”. 

Divergências 

O assunto gera polêmica e opiniões divergentes. O vice-presidente da Comunidade Canção Nova, padre Wagner Ferreira da Silva, disse ser a favor da “integralidade, inviolabilidade e dignidade da vida humana” desde o momento da fecundação e condena qualquer iniciativa na direção de legalizar o aborto no Brasil. 

 “O motivo principal que demonstra a impossibilidade de descriminalizar o aborto é o fato de que, desde o primeiro momento de sua existência, o ser humano deve ter seus direitos de pessoa reconhecidos, fundamentalmente o direito à vida”, afirmou.  
 
O padre Wagner Silva esclareceu que a posição vale também para as situações que a lei permite a interrupção da gravidez: estupro, quando há risco de morte para a mulher e feto com anencefalia. 

“São situações dramáticas, sem dúvida, mas que não devem necessariamente motivar uma legalização indiscriminada de práticas abortivas, de modo a desconsiderar o direito inviolável de todo ser inocente à vida, o direito a existir desde o momento de sua concepção”, ressaltou o religioso.  

Maria José da Silva, do Movimento Nacional da Cidadania pela Vida – Brasil Sem Aborto, que fez um aborto após ser estuprada, também é contra à interrupção da gestação mesmo sob garantia da legislação. 

“Sou ativista ‘pró-vida’, porque eu tive uma experiência traumática. E meu meio hoje de ajudar as mulheres é conscientizando que o aborto é um mal, o aborto não ajuda, o aborto só destrói”, disse. “Qual é a diferença para a vida do bebê e da mulher, fazer um aborto em caso de estupro?.” 

Redação

About Author

Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

Você também pode se interessar

Política

Lista de 164 entidades impedidas de assinar convênios com o governo

Incluídas no Cadastro de Entidades Privadas sem Fins Lucrativos Impedidas (Cepim), elas estão proibidas de assinar novos convênios ou termos
Política

PSDB gasta R$ 250 mil em sistema para votação

O esquema –com dados criptografados, senhas de segurança e núcleos de apoio técnico com 12 agentes espalhados pelas quatro regiões