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Desancoragem das expectativas incomoda todos os membros do Copom, diz diretor do BC

O diretor de Política Econômica do Banco Central, Diogo Guillen, repetiu nesta segunda-feira, 13, que a desancoragem das expectativas de inflação incomoda a todos os membros do Comitê de Política Monetária (Copom). Em uma live da Bradesco Asset, Guillen afirmou que o BC tem atuado para reverter a desancoragem, independentemente das suas causas.

“A gente saiu um pouco do debate de quais são os motivos”, disse Guillen nesta segunda-feira. “A gente foi migrando um pouco a nossa comunicação, saindo um pouco desse debate das causas para um debate de ‘estamos desconfortáveis, precisamos atuar’.”

O diretor afirmou que as razões da desancoragem são relevantes. A depender dos motivos, a “elasticidade” das expectativas em relação às decisões de política monetária pode variar. Mas, independentemente disso, o BC avalia que é importante atuar para reverter o aumento das projeções, afirmou.

Guillen também repetiu que o BC considera o centro da meta de inflação, de 3%, como o alvo que deve ser perseguido. “Muita gente fala centro da meta, mas meta só existe uma: não é nem centro da meta, é a meta”, afirmou.

Pior no quadro no fim de 2024

O diretor de Política Econômica do Banco Central disse ainda que o quadro de inflação piorou no fim de 2024. Tanto o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) cheio acumulado em 12 meses, quanto a média dos núcleos aumentaram. Agora, a autoridade monetária observa com atenção da dinâmica da inflação de serviços e de bens industriais, além das expectativas, que continuam desancoradas e subindo.

“A gente caminha cada vez mais para uma discussão sobre como é que está essa composição da inflação, o que está acontecendo com serviços, como é que está se dando essa depreciação cambial para bens industriais, como está o repasse cambial”, disse Guillen.

Citando a carta aberta do BC sobre o descumprimento da meta de 2024, divulgada na sexta-feira, 10, o diretor destacou que os preços de alimentação no domicílio foram pressionados pelo ciclo do boi, depreciação cambial e fatores climáticos. Os bens industriais já refletiram parte da depreciação cambial, e será importante monitorar esse repasse daqui para a frente.

“E aí eu acho que uma discussão grande sobre como é que vai se dar esse processo da desinflação de serviços. Você tem expectativa desancorada, você tem um mercado de trabalho muito dinâmico. Então, como é que vai ser essa velocidade da desinflação de serviços, eu acho que é um tema super importante, a gente tem discutido isso sempre nas comunicações”, acrescentou Guillen.

O diretor insistiu na desancoragem das expectativas como um ponto de preocupação. Ele destacou que parte do aumento nas projeções de inflação do mercado, no ano passado, respondeu a incertezas sobre o futuro das políticas fiscal e monetária, especialmente após a decisão dividida do Copom em maio.

“Acho que foi endereçado o ruído que houve da reunião de maio, acho que todos os argumentos foram mostrados de que foi uma decisão técnica e tudo”, disse ele. “E agora, no período mais recente – a partir de outubro, novembro -, a gente vê uma desancoragem adicional para os horizontes mais longos também. E é como a gente tem falado, essa desancoragem aumenta o custo da desinflação.”

‘Forward guidance’

O diretor de Política Econômica do Banco Central disse ainda que a materialização de riscos permitiu à instituição dar forward guidance de duas reuniões e que a barra para alterar o instrumento do Copom é alta. Ele fez a afirmação durante live promovida pela Bradesco Asset sobre os potenciais impactos da política monetária na conjuntura macroeconômica de 2025.

A análise do diretor foi feita ao comentar sobre o desvio da inflação do ano passado em relação à meta, o que levou o BC a apresentar uma carta ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, justificando o desvio. Houve, de acordo com ele, diferentes componentes contribuindo para esse desvio. “É a história da elevação do aperto de condições financeiras, quando se decompõe juros tanto aqui quanto lá fora, assim como moedas”, salientou.

Guillen acrescentou que tem havido muita discussão sobre o guidance do Copom a respeito do que o colegiado pretende fazer com os juros nas duas próximas reuniões. A visão do comitê, segundo ele, migrou de um cenário que era mais incerto, um cenário mais adverso, com a materialização de riscos, e isso permitia dar mais previsibilidade e indicar quais seriam as próximas decisões. “E não só indicar as decisões, mas indicar com um ciclo maior, porque você estava num cenário mais adverso. E por isso a gente indicou duas reuniões à frente, os 100 pontos-base, com uma barra alta para alterar quando você faz um guidance“, justificou.

O diretor lembrou que o tema foi tratado durante coletiva de imprensa: “Quando você faz um guidance, você sempre pensa bastante sobre qual é o impacto dessa mensagem”, reforçou. “O guidance foi uma das principais mensagens da última reunião.”

Crédito

Diogo Guillen disse também que há um debate sobre a fortaleza do crédito e que há uma visão de maior rigor nas concessões. “Acho que teve duas mensagens relevantes sobre crédito na comunicação recente. Uma é a discussão do crédito mais forte mesmo, como mitigador do impacto da pressão monetária sobre a atividade”, afirmou o diretor do BC. “E o debate do por que o crédito está forte, mesmo tendo visto uma elevação dos juros futuros desde maio”, continuou.

Guillen salientou que o mercado de crédito está mais forte ao mesmo tempo em que o mercado de trabalho está dinâmico. “Um mercado de trabalho dinâmico sugere que a inadimplência não se elevaria. Então, acho que tem esse primeiro debate sobre a fortaleza do crédito.”

O outro debate, segundo ele, é sobre um tema que surgiu durante o Comitê de Estabilidade Financeira (Comef) e que se repetiu no Copom: o da necessidade de rigor na concessão de crédito quando se está com juros, renda, endividamento e serviço da dívida elevados. “A gente discutiu o cuidado na construção de crédito.”

Estadão Conteudo

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