O Lula político que nós conhecemos nasceu e prosperou no berço do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC paulista. Lá, fechando a carranca e esbravejando trepado na carroceria de caminhões, desafiava as montadoras de automóveis e a poderosa Fiesp, falando de igual para igual com o famoso Mário Amato, então presidente da Federação das Indústrias de São Paulo.
Sua tática de bater nos poderosos fez dele um ídolo entre os colegas. Do sindicato saltou para a política tornando-se um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores.
Consta que desde essa época, segundo testemunho de uma dona de boteco que ele frequentava, era chegado numa manguaça. Estimulado pela cachaça que descontraia ainda mais seu jeito comunicativo, convencia as pessoas com facilidade e desenvolveu uma obsessão por microfones e holofotes, tara que ainda hoje o persegue.
O tempo passou e o herói do ABC conseguiu a inacreditável façanha de ser eleito três vezes Presidente da República.
A despeito de tamanho sucesso e dos ternos bem cortados encomendados pela Janja, muitas vezes ele despe as roupas de Presidente República e veste, metaforicamente, o macacão da montadora de automóveis e com ele incorpora o estilo briguento dos velhos tempos.
Só que agora o público é outro e o discurso que empolgava os operários dos anos 1970, não agrada a todos os atores políticos brasileiros e internacionais do século XXI.
Eis que o Presidente tem desafinado em diversos encontros nos quais age com leviandade. Achando-se um líder mundial passa, na verdade, a imagem de ingênuo e simplório, dando palpite errado, por exemplo, sobre a guerra Rússia/Ucrânia. Ele está tão fora do quase consenso mundial que atribui ao Zelenski a corresponsabilidade no conflito, como se este não fosse somente uma vítima.
Chega a ponto de afirmar que os Estados Unidos e a Europa estão contribuindo com a contenda ao enviar armas para a Ucrânia. Seguindo com sua tradição verborrágica agressiva consegue disseminar descontentamentos entre os países ocidentais e o Brasil. Sem nenhuma necessidade criou um atrito com os Estados Unidos a quem acusa de ter interesse no conflito.
Parece muito estranho que uma pessoa com tão grande experiência política não se dê conta da nocividade das palavras mal postas, na relação diplomática entre os países. Ainda tem um agravante: os deslizes não tem sido episódios isolados, mas sim retóricas recorrentes sempre que fala de improviso.
Ouso apontar dois motivos para essas derrapadas. O primeiro seria a idade avançada que pode inibir os freios comportamentais. Antes que me julguem etarista, digo que estou em “lugar de fala” (perdoem-me essa horrível construção) pois tenho a mesma idade do Presidente.
O outro pode ser a manutenção do velho hábito de “molhar a palavra” como fazia antes de subir nos carros de som para falar para os sindicalistas no ABC, só que agora substituindo a velha pinga por vodka russa ou whisky 21 anos.
Por estas ou por outras possíveis razões o Presidente, esta semana, passou dos limites. Ele levou na comitiva à China o nefasto Stédile, maior responsável por invasões de terras no Brasil.
Já colhemos os frutos desta insensatez: estimulado por tamanha deferência ao MST, o amigo do Lula retomou as criminosas invasões e conseguiu a nomeação de vários “companheiros” para cargos no INCRA.
Renato de Paiva Pereira – empresário e escritor