Pelo menos seis deputados estaduais investigados pelo Ministério Público podem voltar para a Assembleia Legislativa de Mato Grosso (ALMT). E pior, mesmo com as denúncias de corrupção e uma prisão recente, eles estão entre os 20 primeiros candidatos com mais intenções de votos no estado, segundo a pesquisa mais recente realizada pelo Instituto Mark e divulgada na imprensa nesta semana.
Tudo indica que dos atuais 24 deputados 20 irão para a reeleição. Antes o número era 19. Mas Mauro Savi saiu candidato, após passar pouco mais de três meses presos por conta das investigações da Operação Bereré.
A maioria destes 20 candidatos já teve suas inscrições aceitas pela Justiça Eleitoral. Até o fechamento desta reportagem, o Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso (TER-MT) ainda não havia julgado os registros de Romoaldo Junior e Gilmar Fabris.
A pesquisa não garante que os primeiros colocados serão os eleitos em outubro. Mas, se considerarmos os 24 nomes, 10 conseguiriam a reeleição. Destes, cinco são investigados, entre eles Wagner Ramos (PSD), Eduardo Botelho (DEM), Guilherme Maluf (PSDB), Nininho (PSD) e Romoaldo Junior (MDB). Os outros 12 nomes são novos ou já velhos conhecidos, mas não estão investigados.
Vale ressaltar que eles são investigados, mas não condenados. Por isso, esses processos não foram relacionadas em sua certidão judicial, que é documento que reúne todas as condenações de uma pessoa. Por isso, os candidatos, tecnicamente, ainda não devem nada à Justiça.
Wagner Ramos, o segundo candidato com mais intenção de votos, é um dos alvos da Operação Malebolge, de setembro do ano passado. Por causa disso, objetos de sua residência e seu gabinete foram levados pela Polícia Federal.
O caso faz parte da 12ª fase da Ararath, que foi baseada na delação "monstruosa" do ex-governador Silval Barbosa aceita pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e que apura a atuação de factorings que atuavam como bancos clandestinos e faziam empréstimos fraudulentos para enriquecimento ilícito e financiamento de campanhas entre os anos de 2006 e 2014.
Ainda com base nessa delação de Silval, o parlamentar também é apontado por pedir R$ 10 milhões ao ex-governador. O parlamentar teria pedido o dinheiro para que Silval não fosse indiciado em uma Comissão Parlamentar de Inquérito da ALMT. A CPI iria investigar as irregularidades nas obras da Copa.
Três deputados "preferidos" também são alvo de uma mesma operação: Romoaldo Júnior, Nininho e Eduardo Botelho, no âmbito da Bereré. O caso apura supostos desvios de R$ 27,7 milhões do Departamento Estadual de Trânsito de Mato Grosso (Detran-MT).
Além disso, Botelho é investigado por supostos desvios da Casa Legislativa. O caso estava no Supremo Tribunal Federal (STF) por causa do deputado federal Ezequiel Fonseca que tinha foro privilegiado. O inquérito envolvia também os colegas parlamentares Zeca Viana, Ondanir "Nininho" Bortolini, Wancley Charles Rodrigues de Carvalho e o atual prefeito de Cuiabá Emanuel Pinheiro.
À exceção de Wancley, que desistiu devido a um transtorno de ansiedade generalizada (TAG) e um cisto benigno no cérebro, Zeca e Nininho também tentam a reeleição.
No entanto, todo o caso deve ser julgado pela Justiça de Mato Grosso ao invés do STF. Em agosto, ministro Luiz Fux autorizou a "descida" da ação para o Fórum de Cuiabá. O magistrado aplicou a restrição do foro privilegiado que aponta que parlamentares federais (deputados e senadores) só podem ser julgados por crimes cometidos durante o mandato ou relacionados ao cargo.
Romoaldo também é réu em uma ação penal no Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT). Em 23 de agosto, os desembargadores aceitaram a denúncia do MPE por suposto desvio de R$ 9,4 milhões dos cofres da Assembleia Legislativa.
Os supostos desvios são investigados sob o âmbito da Operação Ventríloquo, que foi deflagrada em junho de 2015. Segundo a denúncia do Ministério Público Estadual (MPE), as fraudes envolviam a simulação de pagamentos de uma dívida ao banco HSBC. O caso está na segunda instância por conta do foro privilegiado que o parlamentar tem por causa do cargo.
O próximo candidato que pode se reeleger e é investigado é Guilherme Maluf. Ele está na 10ª posição com mais intenção de votos. Em outubro do ano passado, o parlamentar foi denunciado pelo Ministério Público Estadual por suposto envolvimento em fraudes de licitações da Secretaria de Educação, Esporte e Lazer (Seduc).
A irregularidade gira em torno de contratos para construção e reformas de unidades escolares no Estado. Junto com o empresário Alan Malouf e Permínio Pinto, a entidade acusa Guilherme de integrar o núcleo de liderança da organização criminoso. O MPE estima que o valor desviado atinja R$ 56 milhões.
Para se eleger, um deputado precisa conseguir no mínimo 15 mil votos. Para ficar entre os primeiros é necessário aproximadamente 60 mil votos. Os dados têm por base a eleição anterior
ELEITORES AINDA ESTÃO INDECISOS QUANTO A DEPUTADO ESTADUAL (BOX)
Segundo o Olhar Direto, 40,7% dos eleitores entrevistados pelo Instituto Mark ainda não sabem em quem votar para deputado estadual. Já os votos brancos e nulos somam 22,6 %. A situação não é definitiva e pode mudar nas próximas semanas.
Uma das possibilidades para o alto índice de indecisão é a quantidade de candidatos ao cargo de deputado estadual. Segundo o TRE, 350 políticos tentam uma das 24 cadeiras da ALMT neste ano. Sozinhos, eles representam mais de 64% de todas as candidaturas do Estado.
Na última eleição geral (em 2014), 12% dos eleitores mato-grossenses votaram em branco ou anularam seu voto. A quantidade de votos válidos para eleger um deputado também revela um dado curioso: somente 1,4 milhão votaram neste tipo de cargo. O número representa mais da metade da atual população de Mato Grosso, que é superior a 3 milhões de habitantes, e do 2,3 milhões de eleitores aptos a votar.