Líder do Movimento Brasil Livre, um dos principais grupos conservadores do país, o estudante de direito e deputado federal Kim Kataguiri (Salto, 1996) é um dos mais influentes parlamentares nas redes sociais. Sua atuação em protestos a favor do impeachment de Dilma Rousseff (PT) acabou sendo fundamental para a sua eleição pelo Democratas de São Paulo. Depois de inclinar-se pelo apoio às candidaturas de João Doria (PSDB) e Flávio Rocha (PRB) para o Palácio do Planalto, ambas frustradas, acabou dando um suporte tardio a Jair Bolsonaro (PSL), que foi eleito. Agora, ele diz que não se arrepende de ter dado apoio, apesar de não concordar com tudo o que mandatário faz.
Nos últimos dias, Kataguiri virou alvo de críticas de direitistas por dizer que nem ele nem o seu MBL estarão nos protestos pró-Bolsonaro no próximo domingo. Também foi criticado após a divulgação de uma foto na qual ele está sentado à mesa conversando com o deputado esquerdista Marcelo Freixo (PSOL-RJ). Virou alvo de uma estratégia que alguns de seus aliados usaram e acabou sendo chamado de comunista, apenas por não concordar com tudo o que outros direitistas pensam.
Pergunta. Por que o MBL não vai aderir aos protestos a favor de Jair Bolsonaro?
Resposta. A gente não aderiu porque a gente não compactua com protestos adesistas, governistas, que faz com que o presidente possa fazer o que ele bem entender. O presidente precisa ser elogiado quando ele acerta e criticado quando ele erra, como qualquer democracia saudável. E, segundo, porque a gente não concorda com pautas como fechamento do Supremo Tribunal Federal e do Congresso Nacional.
P. O MBL se arrepende de ter apoiado a candidatura de Bolsonaro no segundo turno de 2018?
R. Não me arrependo. Bolsonaro ainda precisa piorar muito pra se aproximar do [ex-prefeito de São Paulo, Fernando] Haddad. Vivi a gestão Haddad em São Paulo. Foi absolutamente desastrosa.
P. Como se sente sendo chamado de comunista?
R. Dou risada. Piada.
P. Você foi fotografado recentemente conversando com o deputado Marcelo Freixo, do PSOL, em uma mesa na Câmara. Nas redes sociais, recebeu críticas e foi chamado por alguns de traidor. Como lida com essa questão? Acha que, em algum momento, o MBL acabou incentivando esse clima de nós contra eles?
R. Acho que incentivamos o contrário. Enquanto os outros movimentos demonizavam a política, chamamos o comunista histórico [o então deputado pelo PPS Roberto] Freire para discursar na última manifestação pelo impeachment e o sindicalista [e deputado pelo Solidariedade] Paulo [Pereira da Silva] da Força Sindical. Sempre defendemos saídas institucionais.
P. Em sua opinião, a direita no Brasil está rachada? Por quê?
R. Não é que ela está rachada. Existem várias direitas, mas isso só ficou claro para quem não é de direita agora, que você teve um atrito de maior relevância. Você sempre teve uma diferenciação entre liberais, libertários, conservadores e diversas vertentes da direita que são diferentes, tiveram esses atritos entre si agora.
P. O que motivaria o MBL a voltar a protestar hoje em dia?
R. É difícil saber. Um protesto não é algo que você planeja em determinadas hipóteses. É algo imprevisível.
P. Em algum momento o MBL cogitou a possibilidade de protestar contra o contingenciamento na Educação?
R. Não, não. Não cogitamos protestar contra o contingenciamento da Educação mesmo porque nada pode ser feito com relação ao contingenciamento em si. Esse é um Orçamento aprovado e votado pela legislatura passada. A gente discorda da maneira como ele foi feito, sem planejamento, sem conversar com os agentes envolvidos.
P. Você já demonstrou ser favorável à reforma da Previdência. Por que a apoia?
R. Poderia ficar duas horas falando porque sou a favor da reforma da Previdência. Sou a favor, principalmente, porque quero que o mais pobre pague menos, o mais rico pague mais. O sistema de hoje está insustentável. Sem a reforma da Previdência o país não volta a crescer.
P. Há algum ponto na atual reforma com o qual não concorda? Capitalização, BPC, idade mínima para professores, aposentadoria rural?
R. A capitalização da Previdência é o único ponto que eu gostaria de sugerir um modelo alternativo, que não o nacional. Eu gostaria sugerir um modelo definido pela FIPE, que é usar o FGTS como Previdência complementar de capitalização opcional do trabalhador que quiser. Devo apresentar uma emenda nesse sentido.
P. Acredita que o Governo Bolsonaro hoje é “refém” do Centrão? Por quê?
R. Não. O Governo é refém de si mesmo. Ele saiu fortalecido do processo eleitoral, poderia aprovar tudo muito rapidamente, mas não aprova por causa das caneladas entre si.
P. Na sua opinião, por que o Governo não tem uma base no Congresso?
R. Ele não tem base justamente por causa dessa falha na comunicação.
P. Há quem diga que o presidente Bolsonaro não conseguirá concluir o mandato. Concorda com essa avaliação?
R. Não. Eu acho que é pouco provável que hoje haja algum processo de impeachment. É possível, mas pouco provável. A maior tendência é que a gente tenha um parlamentarismo branco, em que o presidente se isole e que a pauta principal fique com o Congresso Nacional.
P. Como está o processo de construção do partido do MBL?
R. A gente ainda não decidiu se vai criar um partido. A gente está esperando o Tribunal Superior Eleitoral se decidir sobre o modelo de coleta de assinaturas.