A Polícia Civil não descarta a hipótese de participação de políticos no esquema na Seduc (Secretaria de Estado de Educação) que desviou R$ 1,134 milhão em compra de materiais escolares para escolas indígenas em Mato Grosso. O delegado responsável pela investigação, Luiz Henrique Dasmaceno, afirmou que novos personagens podem aparecer no caso durante a apuração da operação deflagrada nesta segunda-feira (19).
“A investigação, em relação à questão dos personagens hoje políticos, ela pode ser que evolua. Precisamos analisar com critério, porque se a gente entender que realmente há um envolvimento de pessoas políticas, a gente não vai hesitar em tomar as medidas que devemos tomar, sem pirotecnia e com responsabilidade”.
A casa da deputada federal Rosa Neide (PT) foi alvo da Operação “Fake Delivery” (entrega falsa, do inglês). À época da compra de materiais escolares, cujos contratos são investigados por fraude, em 2014, ela era a secretária de Educação. Conforme o delegado Dasmaceno, pessoas ouvidas nas preliminares apontaram a petista como a responsável pela ordem de compra. Mas, não há confirmação pelos investigadores da participação dela no esquema.
“O que faz parte da nossa investigação que envolveu a senhora Rosa Neide – ainda é cedo para dizer que ela tem envolvimento – são algumas contradições [no depoimento da deputada]. Ela diz que todo o material adquirido estaria estocado no departamento [da Seduc], e não foi. Grande parte não foi estocada”.
Ainda conforme a investigação, o coordenador das atividades voltadas para indígenas na Secretaria de Educação teria afirmado que a informação da compra, que somou cerca de R$ 2 milhões, não foi repassada a ele.
O personagem principal da operação até o momento é o secretário-adjunto de Educação, na gestão de Rosa Neide, Francisvaldo Pereira de Assunção. Ele teria sido o responsável pela autorização de faturamento dos R$ 1,134 milhão, via 24 notas, cujo material supostamente adquirido não foi entregue na Seduc. Francisvaldo foi preso na manhã de hoje na operação. O depoimento dele deverá esclarecer para onde foi material e quem autorizou a compra. Outros R$ 850 mil entraram no estoque da secretaria.
O ex-adjunto tem proximidade com políticos filiados ao PT (Partido dos Trabalhadores). Após a saída da Seduc, ele foi cedido à Assembleia Legislativa, onde exercia a função de analista administrativo no gabinete do deputado Valdir Barranco, desde maio passado.
Em nota divulgada logo após a deflagração da operação Barranco diz que “acompanha atentamente, através da imprensa, os desdobramentos da operação ‘Fake Delivery’. Até o presente momento, não há qualquer ato de seu conhecimento que desabone a conduta do servidor de carreira”.
A reportagem ligou para a deputada Rosa Neide no início desta tarde, mas o telefone não foi atendido.
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