Jurídico

Delator viajava de avião para comprar ouro a pedido de ex-secretários

O ex-presidente da Companhia Mato-grossense de Mineração (Metamat), João Justino Paes de Barros, revelou que foi responsável por realizar a compra de barras de ouro para os ex-secretários de Estado Pedro Nadaf e Marcel De Cursi, com parte do dinheiro desviado por meio de fraude na desapropriação de uma área localizada no Bairro Jardim Liberdade, em Cuiabá, no ano de 2014.

O ouro, segundo Justino, era comprado em Peixoto de Azevedo (672 km de Cuiabá-MT). Para as aquisições, o delator disse que chegou a viajar com avião fretado de uma empresa aérea e carro oficial. As compras, conforme o réu, variavam entre R$ 350 mil e R$ 700 mil reais.

"Todas as despesas com a viagem eram pagas com dinheiro público. Inclusive, uma delas a gente sofreu um acidente e o motorista faleceu", relatou.

A declaração foi dada durante interrogatório à juíza Selma Arruda, da Vara Contra o Crime Organizado da Capital, no âmbito da ação penal derivada da 4ª fase da Operação Sodoma, na tarde desta terça-feira (4).

A ação investiga suposta organização criminosa liderada pelo ex-governador Silval Barbosa (PMDB), que teria desviado R$ 15,8 milhões, por meio da desapropriação.

Justino, que é delator da operação, confirmou as acusações que pesam contra ele, quanto a lavagem de dinheiro. No entanto, negou que tenha envolvimento no esquema da fraude da área.

Segundo o delator, ele realizou cerca de cinco comprar de ouro, a pedido de Nadaf.

"Em minha cabeça, tenho que foi umas cinco compras de ouro. A quantidade variou entre 20 e 30 quilos de ouro. Posteriormente, Nadaf falou que o Marcel também queria comprar ouro, cerca de R$ 400 mil”, disse.

A juíza questionou Justino sobre o pagamento da compra do ouro, que afirmou que apenas intermediava. "Ele me dava o dinheiro e eu comprava o ouro. Não me pagavam nada. Eu ganhei no total em torno de R$ 20 mil, isso se no total comprou 20 quilos, daria isso", completou, ressaltando que as compras de ouro foram feitas entre os anos de 2014 e 2015.

Ouro na mochila

Sobre a entrega do ouro comprado, Justino disse que entregava o ouro diretamente a Nadaf. Os encontros ocorriam dentro no estacionamento da Casa Civil. "A gente se encontrava ele no carro dele e eu no meu e eu entregava. A mochila que eu recebia com o dinheiro, eu devolvia com o ouro". Segundo ele,quem entegava o dinheiro era, na maioria das vezes, o Nadaf e algumas vezes a assessora dele, a Karla Cecilia.

Dívidas de campanha

Na denúncia à Justiça, o MPE apontou que o dinheiro desviado da fraude na desapropriação foi utilizado para saldar dívida de campanha do ex-governador com o empresário Valdir Piran. O valor era de $ 100 milhões.

Durante o interrogatóriom, o ex-presidente da Metamat disse que sabia da pressão das pessoas do grupo por conta da dívida do governo Silval. "Na maioria das vezes eu ouvia o Pedro [Nadaf] falando sobre essa dívida. Uma vez ele falou de uma briga que aconteceu lá, envolvendo o Piran que queria receber, mas não falou valor".

Sodoma 4

Deflagrada no dia 26 de setembro de 2016, o foco da Operação Sodoma 4 foi o desvio de dinheiro público realizado através de uma das três desapropriações milionárias pagas pelo governo Silval Barbosa, durante o ano de 2014.

Do total supostamente desviado, o ex-governador Silval Barbosa (PMDB) teria lucrado R$ 10 milhões e repassado o dinheiro ao empresário Valdir Piran por meio da empresa SF Assessoria, do empresário e delator Filinto Muller, como pagamento de uma dívida de campanha eleitoral.

Silval Barbosa assumiu a existência da organização criminosa que coordenou durante sua gestão no Governo do Estado, que tinha o propósito de arrecadar recursos para saldar dívidas de campanha adquiridas em sua campanha eleitoral no ano de 2010. Em depoimento à Delegacia Fazendária (Defaz), no dia 1º de junho de 2017, ele afirmou que ficou devendo cerca de R$ 10 milhões ao empresário Valdir Piran – que chegou a ser preso na operação, mas foi posteriormente solto mediante fiança de R$ 12 milhões.
 

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Redação

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