O ex-presidente da Companhia Mato-grossense de Mineração (Metamat), João Justino Paes de Barros, entregou ao juízo da Vara Contra o Crime Organizado de Cuiabá-MT cópias dos recibos da empresa aérea contratada para taxear as compras de ouro que fez para os ex-secretários de Estado Pedro Nadaf (Casa Civil) e Marcel de Cursi (Fazenda).
Investigado no âmbito da ação penal derivada Operação Sodoma – que investiga esquema de desvios milionários durante a gestão do governador Silval Barbosa –, João Justino revelou ter viajado algumas vezes para Peixoto de Azevedo (691 km ao norte da Capital-MT), entre novembro de 2014 e março de 2015, a pedido de Nadaf. O objetivo era lavar parte o dinheiro desviado no esquema de desapropriação, cerca R$ 15,8 milhões.
Ele chegou a comprar entre R$ 350 mil e R$ 700 mil em ouro, o que equivaleria, segundo o presidente da Metamat, a cerca de 20 quilos. Para as aquisições, Justino disse que chegou a viajar com avião fretado da empresa Abelha Táxi Aéreo Ltda. e de carro oficial, e que se aproveitava das programações como presidente do Metamat para fazer o ilícito nas proximidades.
Ao todo foram três viagens. Em novembro de 2014, o relatório de voo aponta que João Justino saiu no dia 6 de Cuiabá e em 1h05 minutos chegou em Sinop (500 km ao norte da Capital), de lá ele teria ido, em 35 minutos, para Matupá (695 km ao norte de Cuiabá), cidade que fica a apenas 11 Km de Peixoto de Azevedo.
Este voo foi feito em uma aeronave PR-BYZ tipo Cheyenne I, modelo PAY I pilotada pelo comandante Eduarda e pelo copiloto Raul.
O outro relatório descreve um voo feito no dia 14 de janeiro em 2015, com destino à Matupá, taxeado pelo mesmo bimotor PR-BYZ, que custou R$ 14,5 mil. E, dois meses depois, no dia 4 de março, a viagem foi feita em outro modelo de aeronave, PT-OVB, com ida e volta de Cuiabá para Matupá, custando o mesmo valor R$ 14,5 mil.
Delator da operação, João Justino confirmou em depoimento, feito no dia 4 de julho, as acusações que pesam contra ele, quanto a lavagem de dinheiro. No entanto, negou que tenha envolvimento no esquema da fraude da área.
Em depoimento, ele disse que foi procurado por Pedro Nadaf para fazer a aquisição do minério e este lhe dava dinheiro em espécie para que pudesse comprar o ouro diretamente com os garimpeiros. Numa dessas compras ele disse que levou cerca de 4 a 5 quilos de ouro. O dinheiro era sempre entregue pelo Nadaf, ou por sua secretária, e do mesmo modo o ouro era devolvido dentro da mochila que pegava.
Posteriormente, Justino relatou que Nadaf o informou que Marcel de Cursi também queria comprar ouro, cerca de R$ 400 mil. A entrega do dinheiro teria sido intermediada pelo próprio Nadaf.
Na confissão ele disse que chegou a entregar o ouro dentro da mochila diretamente ao Marcel em um estacionamento, sem sair de seus carros. "A gente se encontrava ele no carro dele e eu no meu e eu entregava. A mochila que eu recebia com o dinheiro, eu devolvia com o ouro", disse durante audiência.
Como intermediador da compra, Justino revelou que ao todo deveria ter ficado com R$ 20 mil, valor este que teria sido devolvido à Justiça.
Veja Fác-simile dos recibos entregues por João Justino à Justiça:
Dívidas de campanha
Na denúncia à Justiça, o MPE apontou que o dinheiro desviado da fraude na desapropriação foi utilizado para saldar dívida de campanha do ex-governador com o empresário Valdir Piran. O valor era de $ 100 milhões.
Durante o interrogatóriom, o ex-presidente da Metamat disse que sabia da pressão das pessoas do grupo por conta da dívida do governo Silval. "Na maioria das vezes eu ouvia o Pedro [Nadaf] falando sobre essa dívida. Uma vez ele falou de uma briga que aconteceu lá, envolvendo o Piran que queria receber, mas não falou valor".
Sodoma 4
Deflagrada no dia 26 de setembro de 2016, o foco da Operação Sodoma 4 foi o desvio de dinheiro público realizado através de uma das três desapropriações milionárias pagas pelo governo Silval Barbosa, durante o ano de 2014.
Do total supostamente desviado, o ex-governador Silval Barbosa (PMDB) teria lucrado R$ 10 milhões e repassado o dinheiro ao empresário Valdir Piran por meio da empresa SF Assessoria, do empresário e delator Filinto Muller, como pagamento de uma dívida de campanha eleitoral.
Silval Barbosa assumiu a existência da organização criminosa que coordenou durante sua gestão no Governo do Estado, que tinha o propósito de arrecadar recursos para saldar dívidas de campanha adquiridas em sua campanha eleitoral no ano de 2010. Em depoimento à Delegacia Fazendária (Defaz), no dia 1º de junho de 2017, ele afirmou que ficou devendo cerca de R$ 10 milhões ao empresário Valdir Piran – que chegou a ser preso na operação, mas foi posteriormente solto mediante fiança de R$ 12 milhões.
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