Foto: Marcus Mesquita/MidiaNews
Com Valquiria Castil
O empresário e delator da 4ª fase da Operação Sodoma, Filinto Muller, confirmou ter aberto uma empresa de fachada em nome de um “laranja”, para lavar dinheiro durante a gestão do ex-governador Silval Barbosa (PMDB), a pedido do procurador aposentado do Estado, Francisco Andrade Lima Filho, o “Chico Lima”.
O delator, na tarde desta terça-feira (18), presta depoimento à juíza Selma Arruda, da Vara Contra o Crime Organizado da Capital, em audiência da ação penal derivada da operação da Delegacia Fazendária (Defaz).
A 4ª fase da operação, deflagrada em setembro de 2016, investiga suposto esquema na desapropriação de uma área de 55 hectares no Bairro Jardim Liberdade, em Cuiabá. A área, de acordo com a Defaz e o Ministério Público Estadual (MPE), custou aos cofres públicos R$ 31,75 milhões, dos quais metade do valor foi desviada.
Em resposta a promotora de Justiça Ana Bardusco, da 14ª Promotoria Criminal da Capital, Filinto declarou que a empresa S F Assessoria e Organização de Eventos foi criada em nome de Sebastião Faria, especialmente para facilitar a operacionalização do suposto esquema que teria desviado R$ 15,8 milhões dos cofres públicos.
“O pedido foi feito por ele [Chico Lima] para lavar dinheiro", confirmou à promotora.
Logo no início do depoimento, Bardusco perguntou o motivo do delator ter aberto a empresa, sabendo que ela seria fechada. "Pois eu sabia que era para a gestão Silval".
Filinto disse que para abrir a empresa pediu uma ajuda a Sebastião, e abriu a empresa em junho de 2013. "Algumas vezes cheguei a assinar pelo Sebastião. Eu fazia as transações de cheque e tudo mais. Ele (Sebastião) não sabia do dinheiro que eu movimentava na empresa".
Atualizada às 14h50
Filinto afirmou que em reunião com Chico Lima, ele requereu que 4% do valor que seria “rateado” entre os membros da organização ficasse com ele, como pagamento da sua participação no esquema. No entanto, no final da reunião ficou acordado que sua comissão seria de 3%.
"Ele [Chico Lima] falava que o pessoal não ia aceitar e chegamos ao valor de 3%”, afirmou.
Atualizada às 15h00
Ainda de acordo com o delator, após a reunião com Chico Lima, foi realizado outro encontro no Palácio Paiaguás em que estava Chico Lima, o ex-presidente do Instituto de Terras de Mato Grosso (Intermat), Afonso Dalberto, e os ex-secretários Pedro Nadaf e Arnaldo Alves.
"Eu percebi que estavam envolvidos. Mas não deixaram transparecer nada. Não diziam quanto cada um ia ganhar.
Na reunião eles falaram sobre R$ 10 milhões que seriam usados para saldar uma divida de campanha com Silval com o empresário Valdir Piran.
O restante do valor desviado seria rateado com os membros da organização.
Atualizada às 15h08
De acordo com a denúncia, a SF Assessoria recebeu várias transferências bancárias da empresa Santorini Empreendimentos, por meio do advogado Levi Machado de Oliveira, no intuito de “lavar” o dinheiro da propina.
A Santorini tinha autorização para expropriar a área desde 1997, mas só em 2011, por meio do sócio Antônio Rodrigues de Carvalho, pediu que o Estado adquirisse a área pelo valor de R$ 37,1 milhões. No entanto, apenas no final de 2013, o então chefe de gabinete do ex-governador Silval Barbosa, Sílvio Araújo, encaminhou o pedido a Chico Lima para que este elaborasse um parecer.
Segundo Filinto, os pagamentos aos membros da organização eram realizados conforme pediam. "Eles ligavam pedindo e emitia os cheques para entregar ao Chico".
O delator ainda relatou que o então presidente do Intermat, Afonso Dalberto, apresentava certa pressa para receber sua parte no esquema.
"O dinheiro caia na minha conta às 9h e Afonso queria o dinheiro às 12h. O Chico [Lima] dizia que ele xingava muito cobrando o dinheiro”, relatou.
Atualizada às 15h25
O delator detalhou que os valores recebidos pela SF Assessoria, por meio de repasses de Levi Machado eram distribuídos aos membros da organização, de acordo com as orientações de Chico Lima.
Conforme o depoimento, o pagamento dos R$ 10 milhões a Valdir Piran – referente a dívida de campanha de Silval – foi definida com Chico Lima e o próprio empresário.
De acordo com a denúncia, o dinheiro era entregue pessoalmente a Valdir Piran, na sede do grupo Piran. Em outros momentos, quem recebia a propina era o filho do empresário, Valdir Piran Junior, ou o gerente da empresa, Eronir Alexandre.
Além disso, segundo consta na representação, parte da dívida foi paga por meio de transferências bancárias para contas de terceiros, para ocultar a origem ilícita do dinheiro.
"Em grande parte os pagamentos foi em folhas de cheques. Cerca de R$ 1 milhão em dinheiro”, relatou.
Ainda segundo o delator, os cheques entregues a Piran eram todos identificados com data, hora, para quem foi entregue e a referência do pagamento.
"Eu tirava uma copia e escrevia observações. Eu entregava e fazia a observação”, declarou.
Atualizada às 15h55
Filinto Muller afirmou que o contrato entre as empresas Santorini Empreendimentos Imobiliários e SF Assessoria e Organização de Eventos foi uma história criada com o advogado Levi Machado.
O documento foi assinado por Antonio Rodrigues, representante da Santorini. Na denúncia, Filinto ressaltou ainda que o contrato de repasse de 50% do valor da indenização paga à empresa SF Assessoria, foi lavrado perante o Cartório do 2º Ofício de Cuiabá.
“Como o Chico [Lima] pediu o contrato, eu e Levi sentamos e inventamos a história pra fazer o contrato. Nós, temendo qualquer tipo de investigação decidimos criar uma história. Aí eu passei tudo para o papel", disse.
Questionado pela promotora se o valor de R$ 31 milhões estipulado no contrato de desapropriação era legal, Filinto disse que não conhecia o documento. "Eu não sei dizer, não conhecia o processo então não posso afirmar. Mas essa história é tudo conversa fiada".
Atualizada às 16h27
À defesa de Silval, representada pelos advogados Ulisses Rabaneda e Valber Melo, Filinto negou que tenha tratado sobre o esquema diretamente com o ex-governador.
"Nunca encontrei com ele. Só me falavam que havia uma dívida e que uma parte era pra saldá-la. Eram informações que me repassavam", afirmou.
“Da mesma forma que aconteceu com o Silval, eu nunca estive com Marcel [de Cursi], nunca falei com ele, não sei a cor do olho dele", completou.
Filinto também negou que tenha feito qualquer tratativa com Marcelo Maluf, do Grupo São Benedito.
Além disso, disse que também não teve contato com o ex-chefe de gabinete de Silval, Silvio Cezar Corrêa Araújo.