Foto: Ahmad Jarrah / Circuito MT
A delação dos empresários João Batista Rosa (sócio do Grupo Tractor Parts) e Frederico Müller (empresário do ramo de factoring) para a Delegacia de Combate à Corrupção da Polícia Judiciária Civil foi primordial para a deflagração da operação Sodoma, nesta terça-feira (15), que culminou nos mandados de prisão preventiva dos ex-secretários de estado Pedro Nadaf e Marcel de Cursi (detidos no Centro de Custódia da Capital) e do ex-governador Silval Barbosa (PMDB) – que ainda está foragido.
As investigações constataram que a antiga Secretaria de Estado da Indústria e Comércio, Minas e Energia (Sicme), atual Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Mato Grosso (Sedec), concedeu incentivos fiscais, via Prodeic, de forma irregular para algumas empresas.
No início do ano foram feitas auditorias na concessão de benefícios e incentivos fiscais e algumas irregularidades foram detectadas. Em razão dessas irregularidades foram instauradas investigações criminais sendo que a primeira foi relacionada à concessão do Prodeic para o grupo empresarial formado por três empresas de Cuiabá: Tractor Parts, Casa da Engrenagem, PCP Máquinas e Engrenagens.
A investigação partiu de uma análise criteriosa de documentos das empresas e documentos oficiais passado pela oitiva com as testemunhas, além de intensas diligências do setor de Inteligência. Em razão da investigação do empresário e de seus colaboradores, chegou-se ao esquema que teria sido montado por servidores públicos para favorecer algumas empresas.
Entre os delatores, que assinaram um termo de colaboração premiada, é Frederico Müller Coutinho, que entregou um esquema de lavagem do dinheiro obtido através de supostas "extorsões" de empresários, para a concessão de incentivos fiscais na gestão do ex-governador Silval Barbosa entre os anos de 2011 e 2014.
Müller assumiu ter descontado seis cheques de R$ 83,33 mil (totalizando R$ 500 mil) emitidos pelas empresas Tractor Parts e DCP Máquinas e Equipamentos para procurador aposentado do Estado, Francisco Gomes de Andrade Lima Filho, o Chico Lima. Os cheques eram assinados pelo empresário João Batista Rosa, sócio do Grupo Tractor Parts e presidente em exercício da CDL (Câmara dos Dirigentes Lojistas de Cuiabá).
Rosa também é colaborador da "Operação Sodoma" e, em depoimento, revelou ter sofrido extorsão de R$ 2,6 milhões para ter a manutenção dos incentivos fiscais, cujos valores foram pagos ao ex-secretário de Indústria, Comércio, Minas e Energia e também Casa Civil, Pedro Nadaf, em espécie, transferências em nomes de "laranjas" e cheques que foram parar na factoring.
Nas declarações ao delegado Márcio Moreno Vera, o empresário conta que iniciou as atividades em 2003, tendo o empresário Filinto Müller como sócio com quem rompeu a parceria há cerca de um ano.
Ao ser perguntado sobre o fato de cheques das empresas de João Batista Rosa terem sido depositados em sua conta, ele confirmou que todos foram "descontados pela pessoa conhecida como Chico Lima que na época era procurador do Estado".
Frederico Müller detalha que inicialmente o procurador explicou que a transação tinha origem "na compra e venda de gado e imóveis". O empresário contou que trocou os cheques repassando dinheiro, transferências em nome de terceiros e pagando contas pessoais e de familiares do ex-procurador.
Dono de empresas de evento, Frederico também tentou oferecer serviços ao Governo do Estado, mas não conseguiu. Ele também assume em seu depoimento que nunca efetuou nenhum negócio com os secretários Pedro Nadaf e Marcel de Souza Cursi, sendo que todos cheques descontados em sua empresa foram pelo procurador que hoje reside no Canadá.
Apesar de ter seu nome citado por um delator como beneficiado do esquema, Chico Lima não teve sua prisão decretada pela Justiça. Ele deve prestar esclarecimentos, mas existe a dificuldade dele estar residindo no Canadá. A Polícia Civil confirmou que ele será obrigado a usar tornozeleira eletrônica ao retornar para o Brasil
A operação
A Delegacia de Combate à Corrupção prossegue nas investigações em relação a este fato e também a outros similares que foram objetos do mesmo modus operandi do esquema dos servidores públicos envolvidos.
“Os empresários têm colaborado de forma decisiva para o perfeito aclaramento do cenário de Inteligência. E, para tanto, existe um instrumento conhecido da sociedade brasileira que chama-se colaboração premiada, que permite com que a investigação tenha notas de aprofundamento de como o esquema funcionava, pois um participante interno das relações escusas da organização criminosa decidiu colaborar com a Justiça e contar, com detalhes, como o esquema funcionava. Mas, não fica apenas no relato verbal. Para ter acesso aos benefícios da lei é imprescindível que o empresário colabore com documentos que comprovem o que foi alegado. Como está acontecendo”, explicou o secretário-geral do Comitê Interinstitucional de Recuperação de Ativos (Cira) e secretário Executivo de Segurança Pública, promotor de Justiça Fábio Galindo.
Últimas testemunhas
Mais oito mandados de condução coercitiva foram cumpridos na manhã desta quarta-feira (16), em continuidade aos trabalhos da Operação Sodoma, deflagrada pela Delegacia de Combate à Corrupção (Delegacia Fazendária), da Polícia Judiciária Civil.
De acordo com as investigações, as oito pessoas são do relacionamento pessoal de Pedro Nadaf. O ex-secretário teria distribuído cheques, que foram depositados nas contas correntes dessas pessoas do círculo ligado a Pedro Nadaf. São valores variados, sendo que uma parte dos R$ 2,6 milhões teria ficado com Pedro Nadaf e outra repassada aos beneficiados.
Confira os nomes envolvidos na operação:
Delatores
João Batista Rosa (sócio do Grupo Tractor Parts)
Frederico Müller (empresário do ramo de factoring)
Detidos
Pedro Nadaf (ex-secretário de Estado de Indústria e Comércio e da Casa Civil)
Marcel de Cursi (ex-secretário de Estado de Fazenda)
Foragido
Silval Barbosa (ex-governador de Mato Grosso)
Alvos de busca e apreesão
Sede da Fecomércio-MT
Sede da Fecomércio
NBC Assessoria, Consultoria e Planejamento Invest
Residência dos presos
Usando tornozeleiras
Sílvio Cézar Correa Araújo (ex-chefe de gabinete de Silval Barbosa)
Karla Cecília de Oliveira Cintra (ex-secretária de Pedro Nadaf)
Francisco Gomes de Andrade Lima Filho (ex-procurador do Estado)
Já ouvidos pela Polícia ontem e a manhã de hoje:
Cibele Aguiar Bojikian (ex-mulher de Nadaf)
Pedro Jamil Nadaf (filho de Nadaf)
Geiziane Antelo (atual mulher de Nadaf)
Florindo José Gonçalves (diretor jurídico da City Lar)
Maron Emile Abi Abib (diretor executivo do Sesc Rio de Janeiro)
Narjara de Barros (ex-secretária executiva da Jucemat)
Marcos Flávio de Oliveira (motorista de Nadaf)
Yasmin Nadaf (irmã de Nadaf)
Marcos Nadaf (primo de Nadaf)
Com informações da Assessoria e do site FolhaMax
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