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‘Deixei de seguir’, diz gestante sobre boatos sobre microcefalia

Gestante decidiu parar de seguir perfis que espalham boatos sobre a microcefalia. (Foto: Arquivo pessoal)

“Deixei de seguir pessoas que só compartilhavam notícias e boatos sobre microcefalia nas redes sociais”. Aos dois meses de gravidez, a arquiteta Cyliane Mariz, de 29 anos, garante que a seleção do conteúdo que ela visualizava em seus perfis nas redes sociais tem sido fundamental para que ela siga tranquila no acompanhamento do pré-natal. Diante do grande número de casos de microcefalia no Nordeste, e mais especificamente na Paraíba, onde Cyliane mora, é crescente o compartilhamento de informações superficiais ou distorcidas sobre o assunto.

Nesta sexta-feira (11) completa um mês que o governo federal declarou estado de emergência por conta do crescimento no número de casos de microcefalia no país. Desde então, o número de notificações na Paraíba cresceu de nove casos no dia 12 de novembro para 316 notificações até segunda-feira (5), sendo que em 40 deles a microcefalia foi descartada. Em todo o país, já são 1.761 casos em 13 estados e no Distrito Federal. Também são investigadas 19 mortes de crianças em oito estados. No último dia 4, a Paraíba também decretou emergência por causa da quatidade de casos de malformação notificados.

Para Cyliane, a divulgação exaustiva de material sobre o assunto pelas redes, muitas vezes originária de fontes sem credibilidade, acaba gerando uma sensação de pânico que ela mesma considera desnecessária. “Acabamos acompanhando diariamente no noticiário as novidades sobre a zika e a microcefalia, não precisamos ser bombardeadas com o mesmo assunto em outros meios, até porque toda gestante que mora no Nordeste, neste momento, deve estar passando por um acompanhamento médico”, completou.

A médica Valderez Araújo, coordenadora da Serviço de Neonatologia do Hospital Universitário Lauro Wanderley da UFPB desde abril de 2014, destaca que é importante que as gestantes, mas também o restante da população, procure sempre se informar sobre a questão da microcefalia e da zika em meios de credibilidade. “Uma grávida que lê uma notícia sobre a microcefalia, recebe alguma informação de um parente… isso vai se somando e instalando uma preocupação desnecessária”, explica.

Ainda de acordo com a médica, os boatos relacionados à microcefalia são os mais diversificados, relacionando o surto a vacinas aplicadas contra a rubéola. “Precisamos começar a diminuir o pânico, ajuda as pessoas, cuidar de cada uma delas. Não adianta só esperar pelo estado ou pelo município. A população em geral precisa começar a se preocupar com o bem-estar dos outros, com a situação do aedes aegypti, fazer sua parte”, explica Valderez Araújo.

A médica Adriana Melo, responsável pela iniciativa que acabou confirmando a associação entre o aumento no número de casos de microcefalia com a zika, inédita na medicina no Brasil e no mundo, disse que também enfrenta os boatos que são espalhados por meio das redes sociais, inclusive o que associa a microcefalia à vacina contra a rubéola. "Nós temos que tranquilizar as grávidas enquanto a isso", diz. 

Fiocruz desmente boatos
Na quarta-feira (9), diante dos boatos compartilhados pelas redes sociais que relacionavam crianças de até sete anos e idosos com problemas neurológicos decorrentes do Zika Vírus, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) emitiu uma nota pública rebatendo a informação. No conteúdo do comunicado, a Fiocruz esclareceu que as informações não têm fundamentação científica e que “até o momento, não há qualquer registro de crianças ou idosos apresentando sintomatologias neurológicas relacionadas ao zika vírus”.

Ainda conforme a nota, “até o momento, não existem estudos científicos que apontem para o envolvimento de outras espécies de mosquitos além do Aedes aegypti na transmissão da doença no Brasil”. O vice-presidente de Pesquisa e Laboratórios de Referência da Fiocruz, Rodrigo Stabeli explicou que não existe nenhuma evidência científica que possa correlacionar o vírus zika com o comprometimento nervoso em crianças menores de 7 anos e em idosos.

Fatores em investigação
O diretor do Hospital Infantil Arlinda Marques, Bruno Leandro de Souza, explicou que, como o vírus é novo no Brasil, todas as possibilidades ainda estão sendo estudadas. “Essas possibilidades são motivos para atenção, mas não são motivos pra alarde por enquanto. Tudo está sendo estudado”, pontuou.

Ele citou alguns boatos que estão preocupando a população. Um deles é em relação à transmissão do Zika vírus. “A gente sabe que existe a possibilidade do sêmen, leite materno e outros fluidos existam Zika, mas não se sabe se é em quantidade suficiente para que se transmita ou que se tenha uma infecção relacionada a isso. O mais importante meio de se transmitir a Zika é através do vetor. Por isso que o combate ao mosquito é tão essencial”, alertou.

Sobre a relação do Zika vírus com a Síndrome de Guillain-Barré (SGB), Souza informou que também não há motivo para alarde. “Existe uma possibilidade, inclusive com qualquer infecção viral, de o Zika vírus estar associado à SGB, que é uma síndrome neurológica autoimune que vai dando uma fraqueza nas pernas e pode, inclusive, dar insuficiência na respiração. Mas, mesmo com os surtos iniciais de Zika, a gente não teve uma grande explosão de incidência da SGB em relação a outros anos”, disse.

Paciência para lidar com boatos
Enquanto os estudos continuam sendo realizados para esclarecer os efeitos da zika e a melhor forma de lidar com os casos de microcefalia no Nordeste, Cyliane Mariz recomenda às demais gestantes paciência. “Continuo recebendo mensagens privadas sobre os casos, pitacos na verdade, mas sempre ajo com diplomacia, agradeço a informação e digo que estou sendo acompanhada por um médico, que me tranquiliza nestes casos”, ressalta.
Apesar da calma, a arquiteta se previne, usa repelente e roupas com mangas compridas. “É nosso dever se cuidar, mas sem deixar que as pessoas atrapalhem uma gravidez tranquila”, concluiu.

Microcefalia
A microcefalia é uma condição rara em que o bebê nasce com o crânio do tamanho menor do que o normal. Inicialmente, o Ministério da Saúde considerava que bebês com circunferência da cabeça igual ou menor que 32 cm tinham a malformação. Entretanto, no último dia 4, um novo parâmetro passou a apontar microcefalia em crianças com cabeça medindo 32 cm ou menos de circunferência.

Fonte: G1

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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