Em véspera de campanha, cheio de vereadores atrás de mim. Depois de encerrar o job que estávamos fazendo para a Prefeitura de Várzea Grande, depois de cansar minha beleza esperando feedback de outros deputados que atendia, tomei uma decisão que vai afetar sensivelmente minha vida financeira: não faço mais política.
– É João, isso mesmo. Larga mão desse lance de ser marqueteiro. Energia de política é muito ruim, agora não tem mais caixa 2, a eleição tem apenas 45 dias, Cuiabá que é o bom não vai rolar, vai ser dureza pra ganhar dinheiro!!!!
– É disso mesmo que to falando humb……
– Eu sei João! Sei bem! Por isso vamos só fazer aquilo que te disse! Eu trago os vereadores, você faz a marca e o vídeo de inserção deles e pronto! Uma grana de eleição é 3x mais do que uma publicidade comum!
E pronto. Este “e pronto”, pra você “é mole”, entre outros adjetivos que me afastam, cada vez mais de política. Políticos não querem profissionais competentes. Política não quer profissionais que sejam profissionais. Política não quer um marqueteiro que entenda de política. Os políticos querem um puxa saco, alguém que fique dizendo o quanto eles são importante. Hoje os políticos, sem exceção, querem pessoas políticas do seu lado.
– Não Humberto. Não quero mais mexer com os grandes, quiçá com os pequenos. Acho que a vida tem algo muito mais importante do que ganhar dinheiro.
Nesse momento a porta se abre de forma brusca, arrebentando na parede. O estalo quase nos mata de susto. É minha filha caçula que entra como um furacão dentro da minha sala, correndo de braços abertos. Ao chegar próxima a pegar ela, ela solta a sua primeira palavra:
– Paiêeeeee.
Olho pra Maria com lágrimas nos olhos. Lilian vem em direção dela toda feliz ao berros de “Maria, você falou!”. “Maria, você falou!”. Suspiro aliviado. Com certeza, tomei a decisão correta.