Política

De onde vem o rombo de R$56 Milhões na prefeitura de Cuiabá

Foto Ahmad Jarrah

A Prefeitura de Cuiabá divulgou no dia 18 de maio uma projeção de déficit financeiro de R$ 56 milhões para 2016. De acordo com a Secretaria de Fazenda, o rombo no orçamento das contas deve-se à queda de arrecadação de recursos próprios nos primeiros quatro meses do ano, o atual cenário econômico e também o aumento de repasse para a saúde e educação. Entretanto, analisando com cuidado as Leis Orçamentárias Anuais (LOA’s) entre 2013 e 2016, durante o mandato do prefeito Mauro Mendes (PSB), vemos que o buraco é mais embaixo.

A Lei Orçamentária Anual (LOA), planejada pelo poder executivo e submetida às câmaras legislativas para aprovação e possíveis emendas, disciplina os gastos que a máquina administrativa pública terá de realizar, bem como os recursos e suas origens para controle dos investimentos e manutenção, nesse caso, da prefeitura de Cuiabá. Geralmente, mas não sempre, elas são autorizadas pelos vereadores no fim do exercício atual para o correto planejamento de ano seguinte.

Ao analisarmos os principais itens da LOA, e comparando com anos anteriores, podemos perceber que, enquanto a receita líquida de Cuiabá era de R$ 1.600.250.738 no primeiro ano do mandato da gestão de Mauro Mendes à frente do Palácio Alencastro, em 2016 o montante teve um acréscimo de 43% em relação a 2013, contabilizando R$ 2.293.183.983 neste ano. Até 2014 a prefeitura de Cuiabá apontava nominalmente os recursos de renúncia fiscal – informação que não consta mais nas LOA’s dos dois últimos exercícios, como aponta a tabela abaixo.

ORÇAMENTO CUIABÁ (EM R$)

ITEM

2013

2014

2015

2016

Receita Líquida

1.600.250.738

1.967.200.069

1.960.724.818

2.293.183.983

Renúncia Fiscal

2.592.944

1.747.398

Despesas totais

1.600.250.738

1.967.200.069

1.960.724.818

2.293.183.983

Folha de pagamento

612.230.021

807.760.720

884.526.506

1.083.067.859

Pela LOA é possível perceber que a folha de pagamento dos servidores da prefeitura de Cuiabá apresentou um salto expressivo nos últimos quatro anos, passando de R$ 612.230.021 em 2013 para R$ 1.083.067.859 no exercício de 2016. Um dos fatores que podem explicar esse aumento é o número de contratados e comissionados atualmente em exercício.

Prefeitura tem 17.734 servidores em exercício

Como vimos anteriormente, a folha de pagamento da prefeitura de Cuiabá apresentou um salto expressivo nos últimos quatro anos, passando de R$ 612.230.021 em 2013 para R$ 1.083.067.859 no exercício de 2016 – alta de 76%. O aumento significativo das contas pode ser explicado pelo grande número de profissionais que fazem parte da administração pública municipal.

No portal transparência, disponível no site da prefeitura de Cuiabá, é possível verificar a relação de todos os trabalhadores que compõem a estrutura municipal de serviços públicos, sejam eles efetivos (aprovados em concurso públicos), comissionados (indicações políticas),  contratados e eletivos. No exercício de 2016, 17.734 pessoas fazem parte da folha de pagamento. A assessoria não informou o número daqueles que realizaram concurso público ou não.

Para o presidente do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Cuiabá (SISPUMC), Jaime Neves Metelo, a demanda por concursos públicos, segundo ele, é “a forma correta de entrar no serviço público” e é uma bandeira antiga dos trabalhadores e trabalhadoras. Metelo afirma que, além do impacto na folha de pagamento, o alto número de pessoas contratadas diretamente ou “apadrinhadas” gera um rombo no Instituto Municipal de Previdência Social dos Servidores de Cuiabá/MT (Cuiabá-Prev).

“A forma correta de entrar no serviço público são os concursos. Os prestadores de serviços não contribuem para o CUIABÁ-PREV. Eles não ajudam a compor a poupança dos servidores”.

Comunicação teve mais verba que desenvolvimento urbano

Ao analisarmos as LOA’s da gestão de Mauro Mendes na prefeitura de Cuiabá, é possível constatar alguns dados interessantes, entre eles, os orçamentos destinados a algumas secretarias municipais que tiveram – e ainda têm – aportes que não condizem com sua importância, além de valores que podem ter sido superestimados pela administração municipal nestes últimos quatro anos.

A partir do início da gestão de Mendes, a Secretaria de Educação teve aumento de recursos de 55%, tendo à disposição em seu caixa R$ 480.517.611 de acordo com a LOA neste ano. A saúde também apresentou um importante acréscimo de recursos, passando de R$ 490.785.754 em 2013 para R$ 780.337.404 em 2016 – alta de 59%. Já as obras públicas tiveram um corte de quase R$ 50 milhões e hoje têm R$ 147.198.500 para utilização – 25% menos do que o verificado em 2013, cujo montante era R$ 196.095.752.

Chama a atenção, entretanto, as verbas destinadas para a Secretaria de Desenvolvimento Urbano, que a partir de 2015 fundiu-se com a Secretaria de Meio Ambiente, e a pasta de Comunicação. Responsável pelo ordenamento físico e territorial de uma capital com problema histórico de ocupação e planejamento como Cuiabá, a repartição teve verba de R$ 6.734.403 em 2014, enquanto a comunicação do governo – entre outras coisas, responsável pelo marketing da administração municipal – teve o dobro: R$ 13.457.825.

Ao compararmos o Fundo Municipal de Desenvolvimento Urbano, que faz parte do orçamento da Secretaria de Meio Ambiente, a disparidade é ainda maior: enquanto a LOA aponta para R$ 8.510.000 que podem ser gastos no planejamento urbanístico de Cuiabá em 2016, a Secretaria de Comunicação possui aporte de nada menos que R$ 30.666.415 – aumento de 262% em relação ao primeiro ano da gestão de Mauro Mendes. A tabela abaixo apresenta a evolução dos recursos de algumas secretarias municipais da capital.   

VERBAS DAS SECRETARIAS MUNICIPAIS DE CUIABÁ (EM R$)

SECRETARIA

2013

2014

2015

2016

Educação

309.636.338

370.081.915

425.235.212

480.517.611

Saúde

490.785.754

562.652.230

583.342.016

780.337.404

Procuradoria¹

24.133.481

33.314.699

32.437.074

34.693.050

Trânsito²

42.384.644

41.586.877

46.332.052

56.695.900

Comunicação

8.461.001

13.457.825

25.099.543

30.666.415

Desen. Urbano

6.733.495

6.734.403

Meio Ambiente³

35.891.054

49.025.933

15.929.872

31.530.488

Obras Públicas

196.095.752

280.134.675

161.266.882

147.198.500

Serviços Urbanos

56.228.045

94.503.227

89.970.971

117.174.500

Pagamento de salários deve passar por comitê

No comunicado emitido pela prefeitura de Cuiabá para explicar o déficit no orçamento, a administração municipal citou a queda de arrecadação de alguns encargos, como o Imposto de Transmissão de Bens Imóveis (ITBI), que de janeiro a abril deste ano deveria recolher R$ 6 milhões, mas que efetivamente apenas R$ 4 milhões foram para os cofres públicos. Além dele, o Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN) tinha projeção de receita de R$ 37 milhões, mas coletou 42% a menos, caindo para R$ 22 milhões.

No final da explicação para a queda do orçamento municipal, a prefeitura cita a criação do Decreto nº 5858, que institui o Comitê de Controle, Reavaliação e Redução dos Gastos Públicos. A medida, que visa redução de frotas de veículos e cargos comissionados, também aponta para uma possibilidade que pode desagradar a classe de servidores da prefeitura: a aprovação ou não de salários, como transcrito na íntegra abaixo do comunicado emitido do último dia 18 de maio.

“O decreto estabeleceu várias medidas, dentre elas a redução na frota de veículos oficiais; linhas telefônicas; número de cargos comissionados; a renegociação de contratos com fornecedores e o fechamento do escritório de representação em Brasília. As despesas não essenciais e obrigatórias (como salários, aluguéis, água, luz, energia e contratos) devem ser submetidas ao comitê para serem aprovadas ou não”.

Confira detalhes da reportagem do Jornal Circuito Mato Grosso

Diego Fredericci

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