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Das Guildas ao Conselho de Engenharia: a evolução da regulação e valorização profissional 

Por Cícero Ramos

Desde a Idade Média, a sociedade reconhece que atividades técnicas e artesanais precisam de regras, padrões e profissionais qualificados para garantir qualidade e segurança. Por isso, surgiram as guildas — associações de trabalhadores do mesmo ofício, como pedreiros, carpinteiros, ferreiros e tecelões. Elas formavam aprendizes, controlavam a qualidade do trabalho, defendiam os interesses dos membros e protegiam os segredos da profissão, evitando que pessoas sem qualificação assumissem responsabilidades que colocassem o coletivo em risco. 

Entre os séculos XIV e XVIII, as guildas evoluíram para as corporações de ofício, reconhecidas pelo poder público. Essas corporações tinham o direito de autorizar o exercício da profissão, estabelecer regras e agir como órgãos reguladores, protegendo a qualidade dos serviços e evitando riscos à segurança e prejuízos materiais causados por profissionais não habilitados. 

Com a Revolução Industrial e a modernização, as corporações de ofício perderam força, mas a necessidade de regulação profissional continuou. Hoje, essa função é desempenhada por conselhos e ordens profissionais, que mantêm o espírito das guildas, adaptado às demandas tecnológicas, legais e éticas atuais. Seu papel é proteger a sociedade contra serviços técnicos precários e sem respaldo científico. 

No caso dos engenheiros, existem as Entidades de Classe — instituições políticas, culturais, civis e jurídicas, sem fins lucrativos, que atendem seus associados. Elas debatem temas importantes para a profissão, promovem capacitação técnica, defendem interesses coletivos e fortalecem a representatividade. Em parceria com os conselhos profissionais, contribuem para valorizar e desenvolver a Engenharia. 

No Brasil, a regulação da Engenharia é responsabilidade do Sistema Confea/Crea. O Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea) é a instância máxima, que elabora resoluções, define critérios éticos e atua como última instância administrativa em recursos. Os Conselhos Regionais de Engenharia e Agronomia (Creas) atuam nos estados e no Distrito Federal, registrando profissionais e empresas, credenciando instituições de ensino e fiscalizando o exercício profissional conforme as normas do Confea. 

Esse sistema garante que somente profissionais habilitados e registrados atuem nas áreas técnicas, respeitando padrões éticos e científicos. Assim como as antigas guildas zelavam pela reputação dos mestres artesãos, os Creas asseguram que obras e serviços sigam normas técnicas e legais, preservando a qualidade, segurança e o interesse público. Também incentivam a atualização profissional e fortalecem a credibilidade da Engenharia junto à sociedade, em parceria com as Entidades de Classe. 

A trajetória das guildas medievais até o atual Conselho de Engenharia mostra que, apesar das mudanças institucionais, a essência permanece: proteger o exercício profissional, garantir qualidade e colocar o conhecimento técnico a serviço do bem comum. 

Cícero Ramos é engenheiro florestal, vice-presidente da Associação Mato-grossense dos Engenheiros Florestais (AMEF), Conselheiro e Diretor do CREA-MT.

Foto Capa: Kadriorg Palace, les Noces de Cana/Divulgação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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