Opinião

DARCY RIBEIRO E O SENTIDO DO BRASIL

Dias atrás, sonhei com Darcy Ribeiro. Talvez porque ultimamente penso em sua eterna esposa, por ensaiar em escrever um encontro imaginário de antropólogos: Roquette-Pinto e Bertha Ribeiro, a romper a fronteira do tempo, como Nise da Silveira e Spinoza juntos. Ou, talvez, tenha sonhado com Darcy porque Boaventura de Sousa Santos o citou, juntamente com Paulo Freire, como grandes pensadores do Brasil em sua conferência na Uerj, no IX Seminário Internacional “As redes educativas e as tecnologias: democracia e educação – aprender para um mundo plural e igualitário”, conforme notícias de Loyuá, minha filha, da costa do Atlântico.

Recentemente, em Genebra, relatores da ONU e da Comissão Interamericana de Direitos Humanos denunciaram ataques contra os direitos dos povos indígenas e a proteção ambiental no Brasil. O relatório divulga que “nos últimos 15 anos, o Brasil tem assistido ao maior número de assassinatos de ativistas ambientais e da terra em todo o mundo, chegando a uma média de uma morte por semana. Os povos indígenas estão especialmente ameaçados”. Sem falar das MP 756-758/2016 que afetam unidades de conservação.

O governo brasileiro, na análise dos relatores, deveria promover ações de fortalecimento para que a Funai pudesse enfrentar essa situação. Ao contrário, a instituição passa por um dos momentos mais críticos de sua existência, quando seu orçamento e quadro de funcionários são drasticamente reduzidos. No cenário caótico, a Comissão Parlamentar de Inquérito Funai-Incra, em relatório de mais de 3 mil páginas, sugeriu o indiciamento de mais de cem pessoas, dentre elas ex-ministro, procuradores, antropólogos, indígenas, servidores da Funai, membros do Centro de Trabalho Indigenista e do Conselho Indigenista Missionário.

“São tantas horas de pessoas, tantas coisas em tantos tempos, tudo miúdo recruzado”, escreveu Guimarães Rosa. Darcy Ribeiro denunciou os ataques contra os direitos dos povos indígenas. Há 20 anos o Brasil está sem Darcy, um dos grandes defensores dos povos indígenas. “E agora, José?”, indagou Drummond.

Anna Maria Ribeiro Costa

About Author

Anna é doutora em História, etnógrafa e filatelista e semanalmente escreve a coluna Terra Brasilis no Circuito Mato Grosso.

Você também pode se interessar

Opinião

Dos Pampas ao Chaco

E, assim, retorno  à querência, campeando recuerdos como diz amúsica da Califórnia da Canção Nativa do Rio Grande do Sul.
Opinião

Um caminho para o sucesso

Os ambientes de trabalho estão cheios de “puxa-sacos”, que acreditam que quem nos promove na carreira é o dono do