Depois da queda de 0,75% na terça-feira, 25, quando chegou a esboçar fechamento abaixo da linha de R$ 5,70, o dólar voltou a subir nesta quarta-feira, 26, e terminou o dia na casa de R$ 5,73. Os negócios no mercado local foram guiados predominantemente pelo ambiente externo, marcado por fortalecimento da moeda americana, embora analistas tenham identificado uma volta do desconforto com o quadro político e fiscal doméstico.
Apesar da alta de commodities como minério de ferro e petróleo, o que sustentou o Ibovespa em terreno positivo, investidores voltaram a recompor posições defensivas em dólar. Houve vários rumores sobre os próximos passos da política comercial norte-americana em meio à contagem regressiva pelo anúncio das chamadas tarifas recíprocas pela administração Donald Trump, em 2 de abril. Com o mercado de câmbio já fechado, Trump confirmou que vai anunciar nesta quarta novas tarifas sobre importação de automóveis.
“Estamos num momento de morde-e-assopra com essa questão das tarifas, com ondas de otimismo e pessimismo nos mercados, o que deixa o dólar mais volátil”, afirma o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, acrescentando que, dado o nível de juro real brasileiro, a taxa de câmbio deveria estar em nível mais baixo. “Mas temos esses temores de aumento de medidas populistas do governo, o que têm atrapalhado o real.”
Além das incertezas em torno da reforma da renda, em especial as dúvidas sobre as compensações para a perda de receita provocada pela isenção de IR para quem recebe até R$ 5 mil mensais, houve desconforto nos últimos dias com a demanda pelo chamado consignado privado.
Avalia-se que há uma incompatibilidade entre a tentativa do governo de estimular o consumo e o aperto monetário conduzido pelo Banco Central, que busca moderar a atividade para ancorar as expectativas de inflação.
Com máxima a R$ 5,7479 no início da tarde, o dólar encerrou a sessão em alta de 0,41%, cotado a R$ 5,7328, passando a apresentar valorização de 0,26% na semana. Após ter avançado 1,37% em fevereiro, a moeda americana recua 3,10% em março, o que leva as perdas acumuladas no ano para 7,24%.
Lá fora, termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes, o índice DXY subia cerca de 0,40% no fim da tarde, ao redor dos 104,500 pontos, com máxima da sessão aos 104,630 pontos. As taxas dos Treasuries longos subiram.
Presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) de Minneapolis, Neel Kashkari pontuou nesta quarta que o ambiente de incertezas em meio à indefinição das tarifas americanas dificulta o manejo da política monetária. Já o presidente do Fed de St. Louis, Alberto Musalem, alertou que o BC americano pode ter que manter os juros mais altos por mais tempo a depender dos efeitos do “tarifaço”, que ainda são incertos.
O economista André Galhardo, consultor econômico da plataforma de transferência internacional Remessa Online, vê a alta do dólar nesta quarta como um movimento natural de correção após a queda mais forte da terça, com investidores ainda tentando aquilatar os impactos das tarifas de Trump sobre a economia americana.
“Está chegando o grande anúncio das tarifas e o mercado passou a incorporar isso de forma mais intensa”, afirma o consultor da Remessa Online. “A economia americana está, sim, desacelerando. O problema é avaliar a magnitude dessa desaceleração e o potencial das tarifas para alterar a dinâmica de preços nos EUA”.
Por aqui, o BC informou que o fluxo cambial total em março (até o dia 24) está negativo em US$ 7,530 bilhões, em razão da saída líquida de US$ 7,676 bilhões. Pelo lado comercial, houve entrada líquida de US$ 146 milhões.
Operadores ressaltam que a apreciação do real no mês e no ano tem sido sustentada pelo desmonte de posições compradas em derivativos cambiais (dólar futuro, mini contratos, swap e cupom cambial) por parte dos investidores estrangeiros. Na terça, os não residentes reduziram essa posição em US$ 1,31 bilhão, para cerca de US$ 40 bilhões, menor nível desde junho de 2023.
Bolsa
Sem muitos gatilhos para orientar os negócios, o Ibovespa resistiu ao sinal negativo de Nova York, onde as perdas chegaram a 2,04% (Nasdaq) no fechamento, e subiu 0,34%, aos 132.519,63 pontos, com giro a R$ 22,0 bilhões. Dessa forma, renovou a máxima de fechamento do ano, no maior nível desde 2 de outubro. Nesta quarta-feira, oscilou dos 132.068,02 aos 132.983,92, em variação de pouco mais de 900 pontos entre o piso e o teto da sessão, em que saiu de abertura aos 132.069,01. Na semana, passa ao positivo (+0,13%), com ganho no mês a 7,92% e no ano a 10,17%.
Destaque nesta quarta-feira para os carros-chefes Vale (ON +0,61%) e Petrobras (ON +1,06%, PN +0,94%) e, entre os grandes bancos, para Bradesco (ON +1,73%, PN +1,63%). Na ponta ganhadora do Ibovespa, Braskem (+9,68%), Brava (+6,63%) e Vamos (+6,25%). No lado oposto, Automob (-7,41%), Minerva (-3,18%) e JBS (-2,70%).
A B3 atualizou os dados referentes à participação dos investidores na Bolsa de 17 de fevereiro até 21 de março. No mês de março, até o momento (dia 24), houve entrada de R$ 4,346 bilhões por parte de estrangeiros, resultado de compras acumuladas de R$ 214,663 bilhões e vendas de R$ 210,317 bilhões. No acumulado do ano, o fluxo de capital externo está positivo em R$ 11,869 bilhões.
“Dia de queda nos mercados globais, com agenda fraca, sem indicadores relevantes. O norte continua a ser a incerteza comercial nos Estados Unidos, com aproximação da implementação, no começo de abril, de tarifas recíprocas. Mas a Bolsa, aqui, mostrou resiliência mesmo com a piora no câmbio e na curva do DI”, diz Rodrigo Ashikawa, economista da Principal Asset Management no Brasil. O dólar à vista fechou o dia em alta de 0,41%, a R$ 5,7328.
Ashikawa destaca, na agenda da quinta-feira, tanto a divulgação do IPCA-15 referente a março como a do relatório de política monetária (RPM), o antigo relatório trimestral de inflação. Na sessão desta quarta, o comentário do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a possibilidade de negociações entre Mercosul e Japão animou setores ligados ao comércio exterior, observa Lucas Almeida, sócio da AVG Capital.
“Lá fora, o foco segue nas novas tarifas de Trump, que já aplicou 20% sobre importações chinesas e agora ameaça sobretaxar países que comprarem petróleo da Venezuela, além de ampliar restrições a empresas de tecnologia chinesas”, acrescenta o especialista, referindo-se a uma combinação de fatores que aumentam a incerteza global, pressionam as bolsas nos EUA e reduzem as chances de cortes de juros por lá – com o próprio Federal Reserve tendo sinalizado chance de dois cortes na taxa de referência ainda neste ano.
Taxas de juros
As taxas dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) fecharam em alta mais uma vez, ainda como reflexo da avaliação de que o Banco Central precisará ser mais rigoroso na política monetária para compensar a pressão inflacionária e o estímulo econômico vindo de medidas do governo. Esta percepção já começa a se refletir na precificação para a próxima decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), com apostas crescentes e majoritárias de que a Selic possa subir 0,75 ponto porcentual em maio.
O Copom vem surpreendendo os investidores desde a semana passada ao enfatizar que o quadro inflacionário está mais adverso e sinalizar ao menos mais um aumento da Selic em maio. O mercado esperava uma ênfase maior do colegiado nas chances de desaceleração da economia e, consequentemente, uma postura menos rigorosa da política monetária.
A preocupação do Copom com os canais de crédito também captou a atenção dos investidores, em particular diante do esforço do governo para lançar o crédito consignado a trabalhadores do setor privado, segundo Claudio Pires, sócio-diretor da MAG Investimentos. “Os primeiros números que estão saindo demonstram que o apetite por crédito é muito alto. É um pouco mais de gasolina na fervura da atividade econômica e da inflação”, afirmou.
Luciano Telo, executivo-chefe de investimentos do UBS Global Wealth Management, ressaltou que o tom do Copom é duro e preocupado com a inflação, e que o colegiado indicou que estará atento a “novidades expansionistas” tanto do ponto de vista fiscal quanto de crédito. “Quando o Copom garante que vai ter mais uma alta, fala em preocupação com o crédito ser mais expansionista, a assimetria vira para mais juros, não para menos”, acrescentou.
O Banco Central terá mais uma oportunidade para guiar os mercados na quinta, quando será divulgado o Relatório de Política Monetária, que substitui o Relatório Trimestral de Inflação – rebatizado como Relatório de Política Monetária. O presidente da instituição, Gabriel Galípolo, e o diretor de política econômica, Diogo Guillen, falarão em entrevista coletiva a partir das 11 horas.
A taxa de depósito interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 subiu a 15,165%, de 15,122% no ajuste anterior.
O DI para janeiro de 2027 aumentou a 15,145%, de 15,033%, e o para janeiro de 2029 fechou em alta de 14,900%, de 14,740% no ajuste anterior.