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Dólar vai a R$ 5,46 com remessas e cenário eleitoral no radar

O dólar apresentou alta firme no mercado local nesta terça-feira, 16, na contramão da tendência predominante da moeda americana no exterior. Operadores atribuíram a depreciação do real ao aumento de remessas de lucros e dividendos ao exterior e às expectativas para a corrida presidencial de 2026, em dia de divulgação de pesquisa de intenção de voto.

Com máxima de R$ 5,4759, no início da tarde, o dólar à vista encerrou a sessão em alta de 0,76%, a R$ 5,4630, passando a acumular valorização de 0,96% nos dois primeiros pregões da semana e de 2,40% em dezembro, após baixa de 0,85% em novembro. No ano, a moeda americana recua 11,60%.

O real amargou o pior desempenho entre as principais emergentes e de países exportadores de commodities mais relevantes, em sessão negativa para divisas ligadas ao petróleo, como o peso colombiano e a coroa norueguesa. A commodity recuou quase 3%, para os menores níveis de 2021.

Parte do mercado atribuiu a arrancada do dólar aqui ao movimento do xadrez eleitoral. Rumores pela manhã de que Pesquisa Genial/Quaest traria uma melhora da avaliação de governo Lula e um favoritismo expressivo do petista na corrida presidencial teriam levado a uma piora mais forte dos ativos domésticos. Ala relevante dos investidores teme uma degringolada das contas públicas em caso de reeleição de Lula, que não estaria disposto a promover uma política fiscal capaz de reduzir a relação dívida líquida/PIB.

Divulgado no início da tarde, o levantamento revelou alteração mínima na aprovação do governo. Já as estimativas de intenção de voto mostram vitória do petista em segundo turno contra todos os candidatos da oposição, incluindo o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), cujo nome foi incluído pela primeira vez em simulações, e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).

O filho do ex-presidente Jair Bolsonaro tem intenção de voto similar a de Tarcísio, preferido pelos investidores por, em tese, ter perfil mais moderado e chances maiores de derrotar Lula. Analistas ponderam que a consolidação do nome de Flávio diminui a possibilidade de uma vitória da oposição no pleito de 2026.

O economista-chefe da corretora Monte Bravo, Luciano Costa, vê impacto na queda do petróleo e dos ruídos políticos na formação da taxa de câmbio, mas chama a atenção o provável aumento do fluxo de saída de recursos, com empresas antecipando remessas ao exterior diante de dúvidas que ainda cercam a tributação de dividendos após a aprovação da reforma do Imposto de Renda.

Costa ressalta que grandes empresas, com lucros retidos de exercícios anteriores, anunciaram pagamento de dividendos extraordinários neste fim de ano. Há também a possibilidade de números mais expressivos de remessas de filiais de multinacionais sediadas no Brasil às matrizes no exterior.

“Já sabíamos que haveria um aumento mais forte das remessas neste fim de ano, até por uma questão de precaução por conta das dúvidas com a tributação. Esta é praticamente a última semana do ano para o mercado, já que a liquidez tende a cair bastante nas próximas semanas com o Natal e o Ano Novo”, afirma Costa.

Principal evento da agenda doméstica, a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) trouxe um tom menos duro do que o comunicado da semana passada, quando a taxa Selic foi mantida em 15% ao ano. Parte dos analistas identificou sinais sutis de abertura de uma janela para eventual início de ciclo de queda de juros em janeiro, em especial na avaliação do comitê sobre a dinâmica do mercado de trabalho. A maioria, contudo, ainda aposta que o BC vai começar a afrouxar o torniquete monetário em março.

Termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes, o índice DXY operou em queda ao longo do dia e rondava os 98,100 pontos no fim da tarde, após mínima aos 97,869 pontos. Houve um pequeno aumento das chances de corte de juros pelo Federal Reserve em janeiro após a divulgação do relatório de emprego (payroll) de novembro, mas a aposta majoritária, com mais de 70%, ainda é de manutenção da taxa no início de 2026.

Bolsa

Após ter tocado os 163 mil pontos na máxima da sessão anterior, então em alta pelo quarto dia seguido, o Ibovespa voltou ao campo negativo nesta terça-feira, 16, de cautela também no exterior. E não conseguiu sustentar no fechamento a linha de 160 mil pontos pela qual lutou em boa parte do dia, tampouco o degrau seguinte, de 159 mil, perdido ao fim, na mínima a 158.557,57 pontos que coincidiu com o encerramento, em queda de 2,42%. Reforçado, o giro foi a R$ 31,6 bilhões nesta véspera de vencimento de opções sobre o índice. Na semana, o Ibovespa cai 1,37%, também oscilando para baixo (-0,32%) no mês. No ano, sobe 31,82%.

Em Nova York, os principais índices de ações mostraram variações contidas, mas também aprofundaram a tendência de baixa ao longo da tarde, em grau, contudo, mais discreto do que o do Ibovespa, entre -0,62% (Dow Jones) e +0,23% (Nasdaq) no fechamento. As bolsas de Nova York e da Europa foram pressionadas, em especial, pelo setor de energia, com a queda de quase 3% do petróleo. Na commodity, investidores ponderaram sinais de avanço nas negociações de cessar-fogo entre Rússia e Ucrânia e leituras divergentes sobre atividade, emprego e varejo nos EUA.

Na B3, o dia foi de fortes perdas no setor financeiro, com as ações dos maiores bancos em baixa até 5,22% (BTG Unit, na mínima do dia) no fechamento, e também em Petrobras, em torno de 3% na ON (-2,74%) e PN (-3,03%). Na ponta negativa do Ibovespa, Rumo (-6,94%), Cosan (-6,78%) e Smart Fit (-6,56%). Do lado ganhador, Brava (+2,47%), Gerdau (+1,53%) e Metalúrgica Gerdau (+1,37%) – apenas nove de 82 papéis da carteira Ibovespa fecharam em alta. O índice operou em baixa desde a manhã, com máxima do dia correspondente à abertura, aos 162.481,74 pontos.

Além de BTG, outras ações do setor financeiro, o segmento de maior peso no Ibovespa, fecharam o dia nas respectivas mínimas da sessão, como Santander (Unit -3,58%), Itaú (PN -2,58%) e Bradesco (ON -2,78%). Exceção entre as blue chips, Vale ON conservou ganho de 0,38% no fechamento, embora bem aquém do ganho superior a 1% visto mais cedo no principal papel do Ibovespa.

Da agenda desta terça, Marcelo Boragini, especialista em renda variável da Davos Investimentos, destaca dois pontos, ambos acompanhados muito de perto nos mercados: nos Estados Unidos, o relatório de emprego, o payroll, e, no Brasil, a ata da reunião do Copom realizada na semana passada. Do payroll, ele ressalta a criação de 64 mil vagas em novembro, número acima das expectativas, mas, ao mesmo tempo, com a taxa de desemprego em alta, a 4,6% – um movimento que, segundo ele, chamou a atenção dos agentes do mercado.

“De forma geral, os dados reforçam a leitura de que o mercado de trabalho dos Estados Unidos passa por uma desaceleração gradual, sem sinais de deterioração mais acentuada”, diz Boragini, para quem a leitura mantém o Federal Reserve em abordagem “cautelosa, avaliando com mais cuidado o momento apropriado para eventuais ajustes adicionais na política monetária”.

“Nos Estados Unidos, o ambiente também é de correção. Falta, neste momento, um conjunto de dados que realmente anime os investidores. O payroll divulgado nesta terça veio praticamente em linha com o esperado, levemente acima das projeções, porém bem abaixo do dado anterior”, diz Leonardo Santana, especialista em investimentos e sócio da casa de análise Top Gain.

Boragini, da Davos, acrescenta que, no Brasil, a ata do Copom trouxe um tom mais conservador, em linha com a comunicação recente do Banco Central. “O documento reconhece a acomodação da inflação, mas destaca a persistência de riscos relevantes no horizonte, o que reduz a probabilidade de um corte de juros já na reunião de janeiro – expectativa que, embora ainda exista, perdeu força após a divulgação da ata”, diz.

“A ata veio ainda hawkish, em sentido contracionista para a política monetária”, diz Julio Barros, economista do Daycoval.”Janeiro ainda é cedo para Selic mais baixa, e quadro deve estar mais claro em março, quando deve vir o corte da taxa de juros”, acrescenta. “Parte do mercado esperava ata um pouco mais dovish, com algumas sinalização sobre o início do corte de juros, mas veio sem brechas, o que pesou um pouco sobre o Ibovespa desde a abertura”, diz Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos.

Além da agenda econômica doméstica e do exterior, o mercado local tomou nota, também, de pesquisa eleitoral da Genial/Quaest, a primeira sem o nome do ex-presidente Jair Bolsonaro entre as alternativas, e com o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) como pré-candidato. “A pesquisa trouxe números muito fortes para o presidente Lula, em vitória folgada sobre possíveis candidatos, como os governadores Tarcísio de Freitas (São Paulo) e Ratinho Jr (Paraná). Embora falte muito tempo para a eleição, nenhum candidato de oposição parece forte o suficiente para bater de frente com Lula”, diz Rodrigo Alvarenga, sócio da One Investimentos.

A possibilidade de vitória do governo na eleição presidencial de 2026 enfraquece a perspectiva de um ajuste fiscal crível a partir de 2027, como sonha o mercado ao apostar na eventual candidatura de Tarcísio, tido como o nome mais amigável a visões próximas às defendidas pelos investidores.

Juros

Ignorando o alívio vindo de fora com o fechamento dos Treasuries, os juros futuros negociados na B3 tiveram alta firme no pregão desta terça-feira, 16, com ganho de inclinação na curva. Se na parte curta, a falta de sinalização do Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu ligeiramente apostas de cortes da Selic em janeiro, os trechos intermediários e longos subiram de olho em percepção sobre o cenário político que, depois, foi confirmada por publicação de pesquisa eleitoral Genial/Quaest.

Com previsão de divulgação na quarta, o levantamento veio a público no início desta tarde e mostrou que o presidente Lula tem vantagem sobre todos os adversários no primeiro turno e ganharia de todos os opositores no segundo turno se as eleições de 2026 fossem hoje.

Na primeira enquete do instituto depois da pré-candidatura de Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o nome do senador figura como o mais bem posicionado da direita na primeira etapa do pleito, o que dificulta uma unidade da oposição e o protagonismo do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) – que, na visão do mercado, seria o candidato mais competitivo e com maiores chances de implementar um ajuste fiscal.

Já do lado dos dados, a ata do Copom não trouxe novidades em relação ao tom conservador do Banco Central, mas a insistência em não dar pistas sobre o início do ciclo de cortes diminuiu ligeiramente as apostas de uma redução da Selic em janeiro. Encerrados os negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 subiu de 13,63% no ajuste anterior para 13,725%. O DI para janeiro de 2029 aumentou de 12,982% no ajuste para 13,155%. O DI para janeiro de 2031 marcou 13,435%, vindo de 13,259% no ajuste.

Head de política monetária do Santander, Marco Antonio Caruso observa que o Copom reconheceu progresso significativo no processo de desinflação, mas não deu indício algum de que o juro básico será flexibilizado em janeiro, que segue como cenário-base da instituição. “É evidente que o Copom não pretende antecipar seus movimentos futuros”, afirma Caruso, que aguarda o Relatório de Política Monetária (RPM), a ser conhecido nesta quinta-feira, para reavaliar as “condições subjacentes”.

Entre segunda e essa terça, as apostas de manutenção da Selic em janeiro aumentaram ligeiramente, de 47% para 53% considerando o mercado de opções digitais de Copom negociadas na B3, nota André Muller, economista-chefe da AZ Quest Investimentos. Já a Selic terminal para 2026 apontada pela curva futura ficou praticamente estável, ao oscilar de 12,35% para 12,40%. “Nesse horizonte, há influência da percepção sobre a ata, que veio sem sinalização alguma”, nota Muller.

Em sua visão, no entanto, a piora generalizada dos ativos domésticos nesta terça teve como principal gatilho a volatilidade do cenário eleitoral, com a sinalização nas pesquisas de que o filho do ex-presidente Jair Bolsonaro poderia ser um candidato viável – o que tira peso do nome de Tarcísio, que teria mais probabilidade de vencer Lula. “Na abertura do dia, tivemos alta dos juros longos e queda da Bolsa, um típico movimento de aversão a risco. Há uma precificação maior de que Flávio pode seguir na corrida eleitoral. A curva abriu de maneira surpreendente e a ata não tem a ver com isso a essa altura do campeonato”, frisou.

Lá fora, mas sem exercer influência sobre a curva local na sessão desta terça-feira, os rendimentos dos Treasuries caíram de forma generalizada, com os investidores digerindo dados mistos do payroll. O principal relatório de mercado de trabalho dos Estados Unidos mostrou que foram criados 64 mil empregos em novembro, acima da mediana de 50 mil do Projeções Broadcast. Em outubro, porém, foram cortadas 105 mil vagas, e houve revisões para baixo nas leituras de setembro e agosto.

“O relatório de emprego de novembro indica que o mercado de trabalho dos Estados Unidos permanece resiliente, mas começa a mostrar sinais de enfraquecimento”, avalia Luis G. Ferreira, CIO do EFG Asset Management para as Américas. Como, em sua visão, o Federal Reserve (Fed) está dando mais peso ao emprego, em detrimento da inflação, ainda há espaço para continuidade da queda dos juros em 2026, avalia, com um corte de 0,25 ponto porcentual no primeiro semestre e outro de igual magnitude na segunda metade do ano.

Estadão Conteudo

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