A injeção de liquidez do Banco Central (BC) segurou hoje o dólar, permitindo ao real um desempenho que ficou na contramão das moedas de outras economias emergentes. Após oscilar pela manhã entre a mínima (R$ 6,1496) e a máxima da sessão (R$ 6,1979), a divisa americana se fixou no terreno negativo, ainda que sem o real mostrar muito fôlego. A quinta-feira terminou com o dólar a R$ 6,1794, uma modesta desvalorização de 0,09%. Neste fim de tarde, a moeda para janeiro caía aos R$ 6,1805 (-0,39%).
Se no exterior as moedas refletiram a percepção entre investidores de que ficou menor o espaço para cortes de juros nos Estados Unidos – o que contribuiu para a desvalorização, entre outros, do peso no México e na Colômbia, além do rand sul-africano -, no Brasil, o leilão à vista de US$ 3 bilhões, na primeira meia hora do pregão, impediu que o real acompanhasse a tendência.
Segundo o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, o leilão do BC parece ter sido mais do que suficiente para suprir a demanda por dólares, que cai bastante no período entre as festas de fim de ano. “De resto, tudo joga contra o real: o acirramento entre Congresso e Judiciário, o dólar globalmente mais forte contra as moedas emergentes, a queda das commodities”, comenta Borsoi.
Operadores também citam o início das rolagens de contratos cambiais futuros e a entrada de dólares por exportadores entre as explicações do comportamento do mercado de câmbio na volta do Natal. Desde o início do mês, porém, a saída de dólares superou a entrada em US$ 18,427 bilhões, conforme dados do BC registrados até a última sexta-feira (20).
Nesta quinta-feira, a operação extraordinária ficou restrita somente ao BC, com o Tesouro não realizando operações de recompra de títulos.
Em entrevista coletiva sobre o relatório da dívida pública em novembro, o coordenador-geral de Operações da Dívida Pública substituto, Roberto Lobarinhas, disse que a atuação do Tesouro na semana passada foi “tão somente” para balizar e devolver funcionalidade ao mercado. “Certamente a atuação do Tesouro não visa frear a alta do dólar, controlar o câmbio ou coisa que o valha, tampouco controlar a curva de juros”, afirmou.
Ibovespa
Desde que mergulhou 3,15% no fechamento de 18 de dezembro, saindo então da linha dos 124 mil para a dos 120 mil pontos, o Ibovespa tem oscilado em margem mais estreita, limitada aos 122 mil, marca vista no encerramento do dia 20, sexta-feira passada. Hoje, faltando duas sessões para o fim do ano, reconquistou por pouco um degrau, aos 121.077,50 pontos, em leve alta de 0,26%, apesar do avanço da curva do DI ante a tensão entre o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso em torno da liberação de emendas parlamentares – que pode se espraiar a 2025 e afetar a votação de matérias ainda pendentes, e importantes, como o Orçamento federal.
Desde a queda no dia 18, em que cedeu quase 4 mil pontos, o Ibovespa colheu três ganhos e uma perda, mas segue no negativo no mês (-3,65%) e muito distante de zerar as perdas do ano (-9,77%). Hoje, o índice da B3 oscilou dos 120.427,86 aos 121.611,92 pontos, com abertura aos 120.766,57. O giro ficou em R$ 16,2 bilhões na sessão, em que o Ibovespa contou com o apoio das ações de maior liquidez e participação relativa no índice, como Vale (ON +0,29%) e Petrobras (ON +1,26%, na máxima do dia no fechamento; PN +0,39%), além das de grandes bancos (Itaú PN +0,65%; Bradesco ON +1,13%, PN +0,78%; Santander Unit +0,98%; BB ON +1,17%).
Na ponta ganhadora do Ibovespa, destaque nesta quinta-feira para IRB (+11,30%), Brava (+6,64%) e Pão de Açúcar (+5,35%). No lado oposto, CVC (-7,74%), Magazine Luiza (-6,45%) e Minerva (-4,04%).
“As duas últimas semanas do ano costumam ter liquidez reduzida, mas o Ibovespa conseguiu emplacar uma pequena alta, vindo de um pregão difícil na sessão anterior, com abertura na curva de juros doméstica, hoje, ainda em razão das incertezas fiscais e sobre a trajetória da dívida pública em relação ao PIB. O governo perdeu o benefício da dúvida, e isso fica muito claro na precificação dos ativos”, diz Henrique Cavalcante, analista da Empiricus Research, referindo-se em especial ao prosseguimento da pressão na curva do DI, que afeta principalmente as ações sensíveis a juros e correlacionadas ao ciclo doméstico, como as de consumo.
Assim, enquanto o índice de consumo fechou o dia em baixa de 0,82%, limitando a progressão do Ibovespa nesta quinta-feira, o de materiais básicos, correlacionado a preços e demanda formados no exterior, subiu hoje 0,31%.
Cavalcante menciona, também, “componente de dúvida adicional” sobre a questão fiscal desde que o ministro Flávio Dino, do STF, bloqueou o pagamento de emendas parlamentares que tinham entrado nas negociações para a aprovação do pacote de cortes de gastos pelo Congresso. “O Orçamento de 2025 será votado em fevereiro ou março, após o recesso de início de ano, e o governo tende a encontrar um Congresso mais rígido e reticente com esse bloqueio de emendas, o que preocupa o mercado depois de um pacote de cortes que foi desidratado”, acrescenta o analista.
Em meio ao impasse sobre as emendas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), estiveram reunidos nesta tarde em Brasília, no Palácio da Alvorada. O encontro ocorre três dias depois de o ministro Flávio Dino determinar o bloqueio de R$ 4,2 bilhões em emendas parlamentares.
Como mostrou o Estadão/Broadcast, parlamentares dizem que a ação de Dino trouxe nova tensão entre Judiciário e Legislativo. O senador Ângelo Coronel (PSD-BA), relator do Orçamento de 2025, disse que só colocará a matéria para ser votada quando as regras da emendas estiverem pacificadas e quando não houver “fogo cruzado” entre os Poderes, reporta de Brasília a jornalista Sofia Aguiar, do Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado).
Juros
Em meio ao desconforto fiscal doméstico, que ganhou um novo capítulo nesta semana com a chamada “crise das emendas”, os juros futuros encerraram a primeira sessão após o feriado de Natal em alta firme, com avanço de mais de 30 pontos nos vértices mais longos.
No meio da tarde, o mercado chegou a experimentar um certo alívio, na esteira do arrefecimento das taxas dos Treasuries, com o retorno dos papéis de 2 e 30 anos passando a operar em terreno negativo. Mas o caldo voltou a entornar nos minutos finais da sessão, sem que operadores tenham identificado um gatilho específico. A liquidez reduzida, contudo, tende a exacerbar movimentos tanto para cima quanto para baixo.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 encerrou em 15,41%, de 15,246% no ajuste anterior. Após máxima a 15,755%, DI para janeiro de 2027 terminou em 15,70% (de 15,454%). Já o contrato de DI para janeiro de 2029 subiu de 14,999% para 15,41% com máxima a 15,425%.
Com a agenda esvaziada, as atenções se voltaram aos atritos entre Judiciário e Legislativo e seus reflexos potenciais no andamento de projetos do governo no Congresso. A decisão do ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), na segunda-feira, 23, de suspender o pagamento de emendas parlamentares pode ameaçar até a votação do Orçamento de 2025.
Pela manhã, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), convocou reunião com lideranças hoje à tarde para debater o tema das emendas. O relator do Orçamento, senador Ângelo Coronel (PSD-BA), avisou: a peça orçamentária vai ao plenário apenas quando as regras de emendas estiverem pacificadas.
À tarde, em entrevista à CNN Brasil, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, tentou aplacar os ânimos e disse que há expectativa de votar o Orçamento de 2025 até março do próximo ano. Por volta das 16h30, o Broadcast informou que Lira estava reunido com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio do Alvorada.
O estrategista-chefe e sócio da EPS Investimentos, Luciano Rostagno, observa que, com poucos indicadores no exterior e os mercado europeus fechados, em razão de feriado, o ambiente acabou prevalecendo e ditando a direção dos juros futuros.
“O mercado reagiu negativamente à decisão do Dino sobre o bloqueio de emendas”, afirma Rostagno, ressaltando que, nos níveis atuais, os juros futuros já refletem a aposta em uma postura agressiva por parte do Banco Central na condução da política monetária.
Segundo o economista, curva já espelha alta de 150 pontos-base na taxa básica no próximo Copom, acima do forward guidance fornecido pelo comitê do BC no último dia 11, quando escreveu no comunicado que antevia uma elevação de 100 ponto em janeiro e outra de igual magnitude na reunião seguinte, em março. Para o nível da Selic terminal, a curva mostra 16,75%.
Para Rostagno, um alívio consistente do mercado de juros futuros virá apenas “com uma nova postura” do governo em relação ao quadro fiscal. “Mas não tem sinais de que isso vai acontecer no curto prazo. Ele teria de sinalizar que já está preparando novas medidas e sua estratégia”.
O anúncio à tarde do reajuste de 13,6% na tarifa de ônibus pela prefeitura de São Paulo não trouxe revisões relevantes nas projeções de IPCA 2025 e pouco mexeu com as taxas. O economista-chefe do Banco Bmg, Flávio Serrano, estima que o aumento das tarifas deve trazer uma pressão altista de 0,04 ponto porcentual para o IPCA do ano que vem. Ele, contudo, não alterou sua projeção de que a inflação oficial encerre 2025 em 4,6%.
O Tesouro não realizou operações hoje de recompra de títulos. Já o Banco Central vendeu oferta integral de US$ 3 bilhões em leilão de moeda no mercado spot, o que contribuiu para a leve baixa do dólar.
Em entrevista coletiva sobre o relatório da dívida pública em novembro, o coordenador-geral de Operações da Dívida Pública substituto, Roberto Lobarinhas, disse que a atuação do Tesouro na semana passada foi “tão somente” para balizar e devolver funcionalidade ao mercado. “Certamente a atuação do Tesouro não visa frear a alta do dólar, controlar o câmbio ou coisa que o valha, tampouco controlar a curva de juros”, afirmou.
DFonte: Associated Press.