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Dólar tem leve alta com fluxo e perdas de divisas latino-americanas

O dólar ganhou força ao longo da tarde e encerrou a sessão desta quinta-feira, 13, em leve alta, na contramão do sinal de baixa da moeda americana no exterior. Operadores afirmam que eventual saída de recursos da bolsa doméstica e temores de aumento das remessas ao exterior nas próximas semanas limitaram apostas no real, sobretudo após a taxa de câmbio ter rompido o piso de R$ 5,30.

Outro ponto que pode ter abalado a moeda brasileira foi a perda de fôlego de divisas emergentes latino-americanas, justamente as que lideraram os ganhos recentes entre emergentes. Principal par do real, o peso mexicano também passou a cair em relação dólar ao longo da segunda etapa de negócios. Destaque negativo para o peso colombiano, com perdas na casa de 1%.

Com mínima de R$ 5,2741 e máxima de R$ 5,3033, o dólar à vista encerrou a sessão desta quinta-feira, 13, em alta de 0,10%, a R$ 5,2983. A divisa ainda perde 0,70% na semana, o que leva a desvalorização em novembro a 1,52%, após alta de 1,08% em outubro. No ano, a moeda americana recua 14,27% em relação ao real.

O gestor de portfólio Marcelo Bacelar, da Azimut Brazil Wealth Management, ressalta que o rali recente do real se deu em meio a um movimento global de rotação global de carteiras, com migração de recursos de países desenvolvidos para moedas e bolsas emergentes. “Foi um movimento basicamente externo. O tom mais duro da comunicação do Copom também contribuiu um pouco para esse processo de queda do dólar”, afirma o gestor, ressaltando que a taxa Selic elevada estimula operações de carry trade e torna muito custoso o carregamento de posições em dólar.

A dinâmica de rotação de portfólios que favoreceu divisas emergentes parece ter perdido força hoje, com o dólar apresentando queda mais expressiva em relação a moedas fortes, como o euro, o franco suíço e a libra. O índice DXY chegou a furar o piso dos 99,000 pontos, com mínima aos 98,991 pontos. No fim do dia, rondava os 99,155 pontos, em queda de cerca de 99,160 pontos.

Na noite de quarta, a Câmara dos Representantes dos EUA aprovou projeto que encerrou um shutdown de 43 dias da máquina pública americana. A paralisação do governo promoveu um “apagão de dados” que privou o Federal Reserve de indicadores-chave para a condução da política monetária, em especial os referentes ao mercado de trabalho.

Falas divergentes de dirigentes do BC americano, após o chairman Jerome Powell ter ressaltado que um corte de juros em dezembro não está garantido, lançam dúvidas sobre a continuidade do afrouxamento monetário. Ferramenta de monitoramento do CME Group mostra que as chances de manutenção da taxa básica americana em dezembro superaram hoje 50%.

Para Bacelar, da Azimut Brazil, a fraqueza global do dólar tem levado a uma apreciação do real, apesar de um ambiente marcado por deterioração das contas externas e incertezas fiscais. A perspectiva de aumento das remessas ao exterior até o fim do ano pode limitar o fôlego da moeda brasileira nas próximas semanas, observa o gestor. “Tem essa questão da tributação de 10% dos dividendos que pode provocar uma saída maior de recursos. Mas pode ser que o ambiente externo siga favorável e se sobreponha a essas questões”, afirma o gestor.

De fato, há dúvidas entre analistas ouvidos pela Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, sobre como as empresas vão lidar com a taxação de 10% de lucros enviados ao exterior, estabelecida no projeto que amplia a isenção do Imposto de Renda (IR). Isso apesar de o projeto isentar dividendos apurados em 2025 mesmo que sejam distribuídos em 2026, 2027 e 2028.

A leitura majoritária, por ora, é a de que o BC vai irrigar o mercado com linhas com compromisso de recompra com o aumento de remessas no fim do ano. É possível até que haja venda de dólar à vista, mas em operações pontuais e em tamanho bem inferior ao observado em dezembro do ano passado, quando foram injetados US$ 21,575 bilhões no segmento spot.

Bolsa

Após ter praticamente refugado na quarta-feira, 12, no que seria a primeira realização de lucros após a série de 15 altas – 12 das quais em níveis recordes consecutivos -, o Ibovespa trocou a relativa estabilidade vista no fechamento de ontem e também ao longo de boa parte da sessão desta quinta-feira, 13, ao acentuar perdas à tarde – em linha com o observado em Nova York – e encerrar em baixa, ainda que moderada na reta final a 0,30%, aos 157.162,43 pontos.

Na mínima da sessão, mostrava no meio da tarde perda de 0,71%, aos 156.509,44 pontos, saindo de abertura aos 157.632,99 e tocando máxima do dia a 158.319,14 pontos. O giro financeiro foi a R$ 29,1 bilhões. Na semana, o Ibovespa sobe 2,01% e, no mês, acumula ganho de 5,10%. No ano, avança 30,66%.

“O Ibovespa acompanhou o cenário internacional, com bolsas americanas em queda firme apesar do fim do shutdown a interrupção por 43 dias de atividades públicas essenciais dos EUA, como a divulgação de dados econômicos oficiais. Os negócios com ações em Nova York seguem pressionados, também, pelo segmento de tecnologia, em correção ante a percepção de que os valuations precificações observados no setor estão esticados”, diz Bruno Perri, estrategista, economista-chefe e sócio-fundador da Forum Investimentos.

Em Nova York, nesse contexto, destaque mais uma vez para o forte ajuste no Nasdaq, em retração de 2,29% no fechamento desta quinta-feira, à frente do S&P 500 (-1,66%) e do Dow Jones (-1,65%). No mês, as perdas acumuladas pelo Nasdaq chegam agora a 3,60%.

Na B3, Petrobras ON e PN, que contribuíam para algum equilíbrio do Ibovespa mais cedo, limitaram os ganhos do dia a 0,90% e a 0,43%, pela ordem, no fechamento. E Vale ON, a principal ação do Ibovespa, oscilou do meio para fim da tarde ao terreno negativo, em baixa de 0,14% no encerramento. Por outro lado, Banco do Brasil ON, que pesava um pouco mais até o meio da tarde, moderou o ajuste posterior ao balanço trimestral, a -1,32% no fechamento da sessão, em dia positivo para as demais instituições financeiras – destaque para BTG (+0,61%).

Por sua vez, Hapvida segurou a ponta perdedora do Ibovespa na sessão, em queda de 42,21% no fechamento, também após a publicação do balanço trimestral, à frente de Raízen (-6,45%) e de Braskem (-4,89%). Na ponta ganhadora do índice da B3, MRV (+5,16%), Allos (+4,58%) e MBRF (+4,36%).

Para Victor Borges, operador de renda variável da Manchester Investimentos, o fim da shutdown nos Estados Unidos, com a retomada gradual das atividades e o pagamento dos salários que ficaram em atraso no período, não apaga o efeito negativo já percebido na economia americana, e traz dúvidas, também, quanto à “seriedade e credibilidade” de dados econômicos que ficaram por ser divulgados, como os de inflação e emprego.

Nesta quinta, a porta-voz da Casa Branca chegou a mencionar que números oficiais ainda não divulgados poderão jamais vir a público – uma omissão que seria muito sentida no momento em que o Federal Reserve segue em busca de novos sinais sobre os preços e o mercado de trabalho, em meio ao processo de cortes de juros nos EUA, iniciado em setembro e a que deu continuidade na reunião do fim de outubro.

Em relatório, Fernando Siqueira, head de research da Eleven Financial, aponta que o Índice de Força Relativa (IFR) do Ibovespa – uma métrica utilizada para verificar se está ‘sobrecomprado’ ou ‘sobrevendido’ – atingiu na terça-feira, 11, o último dia do rali de 15 sessões, um dos maiores níveis já observados no indicador. “Buscamos no histórico momentos em que o IFR alcançou níveis semelhantes e os resultados são consistentes: movimentos de realização no curto prazo, seguidos pela continuação da tendência de alta, antes que sinais mais estruturais de enfraquecimento surjam”, diz.

“Nos episódios de 1997 e 1999, o padrão foi claro: correções rápidas, entre 4% e 7%, logo após o IFR extremo; retomada da alta e, apenas depois disso, vieram divergências e quedas mais profundas provocadas por fatores externos ou perda de momentum”, acrescenta Siqueira.

Juros

A curva de juros futuros operou com viés de queda nos vencimentos curtos e intermediários em boa parte da sessão desta quinta-feira, 13, em linha com os dados mais fracos do varejo, mas o movimento foi apagado na fase final dos negócios. O recuo da ponta curta perdeu ímpeto na segunda etapa do pregão, acompanhando a trajetória de maior fôlego do dólar ante o real e a piora nos mercados externos de renda fixa, ao mesmo tempo em que o “miolo” da curva, que também estava em baixa, inverteu o sinal. Segundo agentes, o desempenho negativo no exterior, que se acentuou ao longo do dia, contaminou os ativos locais.

Encerrados os negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 oscilou de 13,654% no ajuste de quarta para máxima intradia de 13,665%. O DI para janeiro de 2029 passou de 12,82% para 12,84%. O DI para janeiro de 2031 marcou 13,175%, de 13,157% no ajuste de quarta.

“Hoje o mercado de DIs acompanhou mais o exterior”, disse Tiago Hansen, diretor de gestão e economista da Alphawave Capital. “Os juros futuros nos Estados Unidos subiram mais de 1%”, observou, o que deixou em segundo plano os resultados aquém do previsto no varejo doméstico.

Os rendimentos dos Treasuries exibiram alta firme na sessão, impulsionados por incertezas dos investidores sobre a trajetória de juros do Federal Reserve (Fed) após o encerramento da paralisação do governo americano. CIO do EFG International para Américas, Luis Ferreira afirma que, embora o efeito negativo do shutdown sobre a economia americana seja temporário, a volatilidade estatística dificulta a leitura para formuladores de política pública. “Os principais riscos são uma reaceleração inesperada da inflação, que mudaria rapidamente a trajetória esperada da política monetária, e eventuais excessos no ciclo de investimentos em inteligência artificial”, disse.

De acordo com o executivo do EFG, os estímulos e renúncias fiscais previstos nos EUA tendem a pressionar a taxa de juros de longo prazo, em um contexto de déficit ainda elevado e dívida pública acima de 100% do PIB. Como a política fiscal deve seguir expansionista, o prêmio na parte longa da curva aumenta. “Ao mesmo tempo, a possível postergação do corte de juros de dezembro, devido à falta de dados após o shutdown, mantém o mercado em compasso de espera e reforça essa demanda por prêmio”, apontou.

Por aqui, a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) mostrou que as vendas do comércio restrito caíram 0,3% ante agosto, feitos os ajustes sazonais, abaixo da mediana do Projeções Broadcast, de avanço de 0,3%. Já a atividade do varejo ampliado subiu 0,2% na passagem mensal, ante consenso de alta de 0,1% do Projeções Broadcast.

Para Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, o mercado ainda se divide entre janeiro e março como ponto de início do ciclo de flexibilização monetária, mas está claro que a direção é de cortes, leitura endossada pelo comportamento do varejo.

“Os números são um sinal de que a política monetária está atuando de forma mais forte sobre a atividade”, comenta Cruz. “Vamos continuar vendo sinais mistos, longe de desaceleração mais intensa porque cada setor tem sua dinâmica e há também impulsos fiscais fazendo efeito. Mas acho que o mercado enxerga que o corte de juros deve começar, embora fique a dúvida entre janeiro ou março”, disse.

Já nos vértices mais longos, Cruz aponta a cautela com o quadro fiscal e o cenário eleitoral como possíveis fatores de pressão sobre os DIs. “Vimos notícias sobre o STF poder mudar regras da reforma da Previdência de 2019, e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad não consegue avançar na taxação de bets e fintechs”, comentou. Além disso, acrescenta, pesquisa Genial/Quaest publicada nesta quinta mostrou o presidente Lula com vantagem em todos os cenários para primeiro e segundo turno nas eleições de 2026 – o que o mercado interpreta como maior risco fiscal.

Estadão Conteudo

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