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Dólar tem 4º pregão seguido de recorde com fiscal e Trump; Ibovespa inicia dezembro em baixa

O dólar à vista abriu a semana em alta firme no mercado doméstico e fechou em nível recorde pelo quarto pregão seguido. Além do aumento de prêmios de risco associados ao quadro fiscal, reflexo ainda da decepção com a potência do pacote de corte de gastos anunciado pelo governo na semana passada, o real sofreu com o fortalecimento global da moeda americana.

A ameaça do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, de impor tarifas de 100% a países que compõem o Brics, caso o bloco tente substituir o dólar como referência nas negociações internacionais, prejudicou divisas emergentes e de países exportadores de commodities. Entre as moedas fortes, o euro recuou em razão do impasse na aprovação do orçamento na França e as movimentações da extrema-direita para tentar derrubar o primeiro ministro do país, Michel Barnier.

Tirando uma queda bem limitada logo na abertura dos negócios, quando registrou a mínima da sessão (R$ 5,9959), o dólar operou em alta ao longo do restante do pregão, com máxima no início da tarde (R$ 6,0919). No fim do dia, a moeda era negociada a R$ 6,0680, avanço de 1,11%. Foi a quinta sessão consecutiva de alta do dólar, período em que acumulou valorização de 4,52%. No ano, a divisa avança 25,03% em relação ao real.

Para o economista-chefe da corretora Monte Bravo, Luciano Costa, o real ainda se recente da frustração dos investidores com o pacote fiscal do governo e os “ruídos” provocados pela divulgação em conjunto da isenção de Imposto de Renda (IR) para quem recebe até R$ 5 mil mensais, embora esta medida tenda a ser apreciada pelo Congresso em 2025.

“Obviamente que a declaração de Trump sobre os Brics pesa. E o enfraquecimento do euro com o impasse no orçamento na França ajuda a fortalecer o dólar globalmente. Mas a questão fiscal ainda tem papel preponderante na depreciação do real”, afirma Costa, para quem a economia com as medidas anunciadas ficará em torno de R$ 40 bilhões e R$ 45 bilhões, muito aquém dos R$ 71,9 bilhões estimados pelo governo para 2025 e 2026.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reuniu hoje no Palácio do Planalto com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e líderes do governo no Congresso para discutir a tramitação do pacote fiscal, segundo apurou o Broadcast.

Na última sexta-feira, 29, tanto o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), quanto o do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), prometeram celeridade na apreciação do plano fiscal no Congresso. Ambos alertaram que a isenção do IR avançará apenas se não comprometer o equilíbrio das contas públicas. Também na sexta-feira, Haddad, em almoço de fim de ano da Febraban, acenou com novas medidas de contenção de gastos, amenizando parcialmente e de forma bem pontual as pressões sobre a moeda brasileira.

Para Costa, da Monte Bravo, apesar das sinalizações de Haddad, a avaliação é a de que o governo mostra uma incapacidade de gerar resultados primários para cumprir as metas do arcabouço fiscal – o que compromete os esforços para estancar o crescimento da relação entre dívida/PIB e, por tabela, aumenta os prêmios de risco embutidos nos ativos locais.

“Haddad falou em novas medidas, mas não deve ser algo para o curto prazo. Não há razão para um alívio nessa percepção de risco que possa trazer o dólar para baixo”, diz Costa, ressaltando que uma eventual aceleração do ritmo de alta da taxa Selic já está embutida nos juros futuros e não deve estimular uma recuperação do real. “Acredito que apenas uma fala do próprio Lula de compromisso com o ajuste fiscal e a agenda de Haddad pode diminuir o estresse.”

Pela manhã, em evento da XP Investimentos, o diretor de política monetária e futuro presidente do BC, Gabriel Galípolo, fez novamente a defesa do regime de câmbio flutuante e reiterou que a autoridade monetária intervém no mercado de câmbio apenas em caso de “disfuncionalidade” – que, segundo operadores, pode ocorrer com problemas de liquidez e saídas atípicas de recursos.

Ibovespa

O Ibovespa buscou reaproximação dos 126 mil pontos no melhor momento desta primeira sessão de dezembro, mas não conseguiu se afastar muito da estabilidade mesmo na máxima do dia, em variação restrita no começo de semana que traz o PIB do terceiro trimestre e, nos Estados Unidos, novos dados sobre o mercado de trabalho. Assim, o índice da B3 oscilou de 124.733,89 a 125.901,06 pontos, saindo de abertura aos 125.667,63. Ao fim, mostrava perda de 0,34%, aos 125.235,54 pontos, com giro financeiro a R$ 24,6 bilhões na sessão. Em 2024, cai 6,67%.

Com o ano ingressando no último mês, os investidores aguardam, na outra semana, as deliberações sobre juros do Federal Reserve, nos Estados Unidos, e do Copom, no Brasil. E ainda digerem com dificuldade o pacote de cortes de gastos da semana passada, com descrença de que o governo conseguirá alcançar a prometida economia de R$ 70 bilhões ao longo dos próximos dois anos. Assim, o câmbio se manteve pressionado nesta abertura de dezembro, chegando o dólar a R$ 6,09 na máxima da sessão – após o nível inédito de R$ 6,11 no intradia da sexta-feira – e fechando, hoje, a R$ 6,0680, novo recorde histórico de encerramento, em alta de 1,11%.

“Apesar de manifestações pontuais do Banco Central e de deputados em apoio à credibilidade fiscal, boa parte do mercado interpreta que essas medidas não serão suficientes. A visão predominante é que o novo arcabouço fiscal dificilmente será cumprido nos próximos anos, mantendo a dívida pública brasileira em uma trajetória insustentável”, aponta Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos.

Na B3, Petrobras ON e PN mostraram ganhos de 0,26% e 0,64% no fechamento, mais modestos do que os vistos durante a sessão, assim como Vale ON, em alta limitada a 0,24%, o que foi insuficiente para compensar o efeito negativo das ações de grandes bancos sobre o índice da B3, em baixa entre 0,81% (BB ON) e 2,14% (Bradesco PN) na sessão. Em Nova York, os principais índices mostraram variação entre -0,29% (Dow Jones) e +0,97% (Nasdaq) no fechamento. Na ponta ganhadora do Ibovespa, destaque hoje para Ambev (+4,08%), SLC Agrícola (+3,22%) e Minerva (+2,74%). No lado oposto, Azul (-7,91%), Raízen (-4,55%) e LWSA (-4,28%).

“O Ibovespa tendeu hoje levemente ao negativo, com alguma melhora em parte da tarde quando renovou as máximas do dia. Houve certa melhora na curva de juros também em parte da sessão, mas os vértices mais longos ainda mostram viés de alta. Novembro terminou da pior forma possível, o que define, por enquanto, o humor para o final do ano. Chegamos a dezembro com cenário um pouco mais conturbado”, diz Pedro Caldeira, sócio da One Investimentos, acrescentando que certo rebalanceamento das carteiras resultou em recente melhora de fluxo para os ativos.

“Perspectiva ainda é muito incerta para que ocorra uma virada de chave, o que interfere na alocação de recursos e também na liquidez para este mês de dezembro”, observa Caldeira.

Juros

O mercado de juros começou a semana sob volatilidade, tentando corrigir parte das altas consideradas exageradas da semana passada, mas tendo como limitação o cenário de incertezas fiscais, a pressão do câmbio e da deterioração das expectativas de inflação. As taxas curtas, principalmente, estiveram em baixa durante boa parte da sessão, mas reduziram o fôlego no meio da tarde, enquanto a ponta longa tentava permanecer nos níveis dos ajustes anteriores, porém chegava ao fechamento com alta moderada.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 cedeu de 13,96% no ajuste de sexta-feira para 13,88%. A do DI para janeiro de 2027 encerrou em 14,08%, de 14,05% no ajuste anterior. O DI para janeiro de 2029 terminou com taxa de 13,86% (de 13,80).

O DI para janeiro de 2026 foi o destaque da segunda-feira, por mostrar um comportamento mais uniforme, de baixa. Este é o vencimento que capta a percepção dos agentes para as reuniões de política monetária em 2025 e vinha sendo penalizado nas últimas sessões pelo aumento das apostas em um Copom mais agressivo nos próximos meses. A curva chegou a precificar taxa terminal bem próxima a 15%, mas nesta tarde estava em 14,75%.

O economista Victor Beyruti, da DA Economics, afirma que as taxas estavam muito esticadas e o mercado aproveitou para reduzir excessos, apesar da alta do dólar e dos juros dos Treasuries. “Temos um ajuste técnico aparando exageros e o mercado tirando um pouco do radar a possibilidade de alta de 100 pontos-base nas próximas reuniões”, disse.

O espaço para correção foi pavimentado ainda na sexta-feira com a sinalização do Congresso de que a discussão sobre o aumento da faixa de isenção da cobrança de imposto de renda para rendimentos até R$ 5 mil ficará para o próximo ano. Além disso, foram bem recebidas as indicações para as diretorias do Banco Central (BC), especialmente a de Nilton David, da tesouraria do Bradesco, para a Política Monetária.

O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, reiterou hoje que a agenda de discussão sobre ampliação da faixa de discussão do IR é algo para 2025. A declaração foi feita em evento da XP Investimentos, em São Paulo, do qual também participou o diretor de Política Monetária e futuro presidente do BC, Gabriel Galípolo.

Galípolo reforçou o papel da instituição de reancorar as expectativas de inflação e disse que no descolamento ante as metas há um elemento estrutural, que não responde à ideia de um BC passivo, ainda que exista um movimento conjuntural nas últimas semanas. “Esse é um processo de desancoragem, que já está aí há algum tempo e que nos incomoda há bastante tempo.”

Semana a semana as medianas de IPCA vêm se desgarrando dos 3% e, em alguns recortes, dos 4,5% que é o teto da meta de inflação, mesmo com o mercado ajustando também para cima as expectativas de Selic. A mediana para 2024 atingiu 4,71% e a de 2025, 4,40%. As de 2026 e 2027 foram para 3,81% e 3,50%. A projeção de Selic em 2024 manteve-se em 11,75%, mas a de 2025 (12,25% para 12,63%) e de 2026 (10,00% para 10,50%) subiram.

Estadão Conteudo

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