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Dólar sobe com cautela pré-feriado e Fed no radar

O dólar encerrou a sessão desta quarta-feira, 19, em alta de 0,39%, a R$ 5,3385, após máxima de 5,3476. A expectativa pela divulgação do relatório de emprego (payroll) de setembro nos EUA amanhã, dia 20, quando o mercado local estará fechado em razão do feriado do Dia da Consciência Negra, inibiu o apetite por negócios e deprimiu a liquidez. O tombo de mais de 2% do petróleo e provável saída de recursos da bolsa doméstica contribuíram para o escorregão do real.

“A clima é de cautela com a espera pelos dados atrasados da economia americana em um momento no qual o Federal Reserve já parece estar com o pé no freio e há uma preocupação com a bolha nas ações de tecnologia nos EUA”, afirma o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, lembrando que à noite sai o balanço da Nvidia, uma das estrelas do setor de Inteligência Artificial (IA).

As máximas do dólar à tarde vieram após o Departamento de Estatística do Trabalho dos EUA (BLS, na sigla em inglês) informar que não vai divulgar o payroll de outubro e que vai adiar a divulgação do relatório de novembro para 16 de dezembro. A justificativa é que a paralisação parcial do governo dos EUA por 43 dias, o maior shutdown da história do país, atrasou a coleta e o processamento de dados.

Sem indicadores para guiar suas decisões, é provável que o Fed opte por interromper o processo de alívio monetário em dezembro, após dois cortes seguidos de 25 pontos-base na taxa básica americana. Logo após as informações do BLS, ferramenta de monitoramento do CME Group mostrou que as chances de manutenção dos juros em dezembro saltaram de 51% para 61%

“Sem ter os dados completos do mercado de trabalho, o Fed deve esperar antes de tomar a decisão de continuar a cortar os juros. Provavelmente, a opção vai ser por manutenção em dezembro, o que acaba dando alguma força para o dólar”, afirma o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni.

Termômetro do comportamento da moeda americana em relação a uma cesta de seis divisas fortes, em especial euro e iene, o índice DXY superou o nível dos 100,000 pontos e operava ao redor dos 100,230 pontos no fim da tarde, em alta de cerca de 0,70%. Entre emergentes pares do real, a moeda americana zerou as perdas em relação ao peso mexicano e passou a subir frente ao rand sul-africano.

A divulgação da ata do encontro de política monetária do Fed no fim de outubro confirmou que os membros do comitê de política monetária (FOMC, na sigla em inglês) estão mais inclinados a não promover nova redução dos juros neste ano. Alguns integrantes disseram que poderiam ter votado pela manutenção em outubro. Muitos dirigentes consideraram que “provavelmente” não será apropriado reduzir a taxa em dezembro.

Apesar de ter ultrapassado nesta semana o nível de R$ 5,30, o dólar recua 0,78% em novembro, após avançar 1,08% em outubro. No ano, a moeda americana cai 13,62% em relação ao real, que tem o segundo melhor desempenho entre as moedas latino-americanas, atrás apenas do peso colombiano.

O economista-chefe para o Brasil do Barclays, Roberto Secemski, afirma que o real tem sido beneficiado pelo cenário externo e pela postura dura do Banco Central brasileiro. Ele observa que a sazonalidade do fluxo cambial no fim de ano tende a ser desfavorável à moeda, com os mercados preocupados com uma saída maior de recursos em razão da taxação de dividendos enviados ao exterior a partir do ano que vem.

Secemski pondera que a sazonalidade negativa tende a ser mais moderada em anos no qual o dólar está estável e o carry é elevado. Além disso, o Banco Central está preparado para intervir no mercado de câmbio. O economista vê um bom desempenho da moeda brasileira até o primeiro trimestre do ano que vem.

“Prevemos um desempenho inferior do real à medida que as eleições do próximo ano se aproximem, já que os investidores locais e as empresas tendem a comprar dólar quando as eleições são acirradas e os resultados são binários, como esperamos em 2026”, afirma Secemski.

À tarde, o BC informou que o fluxo cambial em novembro (até o dia 14) está negativo em US$ 3,004 bilhões, com saídas líquidas de US$ 2,536 bilhões pelo canal financeiro. No ano, o fluxo cambial total é negativo em US$15,688 bilhões, resultado de saída de US$ 56,876 bilhões do lado financeiro. Já o fluxo comercial é positivo US$ 41,188 bilhões.

Bolsa

Ibovespa seguiu em correção nesta véspera de feriado pela Consciência Negra, em que não haverá negócios na B3 – com mercados abertos lá fora. Pela terceira sessão consecutiva, o índice da B3 permaneceu no campo negativo, em ajuste um pouco mais acentuado do que nos dois dias anteriores. Ao final, marcava 155.380,66 pontos, em baixa de 0,73% na sessão, vindo de perdas de 0,30%, ontem, e de 0,47% na segunda-feira. Assim, desde que renovou máxima de fechamento pela 12ª sessão consecutiva, no dia 11, o Ibovespa em seis pregões desde 12 de novembro registrou apenas um ganho, de 0,37%, na última sexta-feira, dia 14.

O ajuste ante o recorde intradia, também de 11 de novembro, assim como em relação à máxima de fechamento, da mesma sessão, permanece discreto, considerando respectivamente as marcas de 158.467,21 e de 157.748,60 pontos. O giro financeiro foi a R$ 25,7 bilhões nesta quarta-feira. Na semana, o Ibovespa recua 1,49% e, no mês, ainda acumula ganho de 3,91%. No ano, sobe 29,18%.

Entre a mínima e a máxima da sessão desta quarta-feira, 19, o índice da B3 oscilou entre 155.212,37 e 156.521,70 pontos, nível correspondente à abertura. Na ponta perdedora no fechamento, MBRF (-8,62%), Minerva (-4,12%) e Cemig (-3,05%). No lado oposto, Pão de Açúcar (+4,76%), Smart Fit (+2,51%) e Embraer (+2,37%). Entre as blue chips, o sinal negativo prevaleceu em Vale (ON -0,11%), Petrobras (ON -0,26%, PN -0,52%) e também no setor financeiro, o de maior peso no Ibovespa, com destaque para Banco do Brasil (ON -1,37%) e Bradesco (ON -0,74%, PN -1,00%).

Em análise gráfica, o Itaú BBA aponta que o Ibovespa segue “em tendência de alta no curto prazo, próximo da primeira resistência em 158.500 pontos, antes de seguir ao próximo patamar em 165.000 pontos”. “Do lado da baixa, o índice testou o suporte inicial em 156.300”, mas recuperou-se, “dando sinais de resiliência neste momento”, acrescenta o banco.

“Se voltar a cair e perder a mínima em 155.800, abrirá espaço para um movimento de realização de lucros mais consistente e encontrará suportes em 149.800 e 148.500 pontos, patamar que mantém o índice em tendência de alta”, observa o Itaú BBA.

Por aqui, acrescenta a equipe de análise técnica do banco, a maioria dos índices continuam perto das máximas dos últimos 12 meses – “e a confiança de que esse movimento de alta pode ser mais consistente e diversificado” em vários setores aumentou. Na avaliação do Itaú BBA, parte das ações mostram estar esticadas para o curto prazo, embora existam, também, ativos que começam a dar sinais de ponto de compra.

“A história serve de alerta: o bull market de 2016-2018 também começou embalado por otimismo com reformas e liquidez global, mas perdeu força assim que o cansaço fiscal reapareceu”, aponta, pelo lado dos fundamentos macro, Thiago Duarte, analista da corretora Axi. “O contexto atual não é muito diferente: o Brasil ainda enfrenta entraves estruturais – sistema tributário complexo, rigidez trabalhista e fragmentação política – que limitam o crescimento sustentável.”

Ainda assim, ressalva o analista, os lucros corporativos permanecem robustos, o país segue como o mercado acionário mais líquido da região e a estabilidade do real dá suporte no curto prazo. “Porém, se o apetite global por risco enfraquecer ou as commodities perderem força, é provável vermos uma correção rápida”, acrescenta.

Juros

Os juros futuros tiveram o melhor comportamento entre os ativos de risco domésticos no morno pregão desta quarta-feira, 19, percorrendo boa parte da segunda etapa da sessão em viés de queda por toda a extensão da curva. As taxas intermediárias e longas chegaram a tocar mínimas intradia pouco antes da divulgação da ata do Federal Reserve (Fed), mas sem se afastar dos ajustes anteriores.

Segundo agentes, em um dia de liquidez reduzida nos negócios às vésperas do feriado da Consciência Negra amanhã – quando será conhecido o payroll de setembro -, a sessão foi marcada por cautela dos investidores e possíveis ajustes técnicos, sem grandes catalisadores para as taxas.

Os rendimentos dos Treasuries, que inverteram o sinal negativo observado até então após a publicação da ata do Fed, não foram suficientes para mudar a tendência lateral dos DIs. No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 oscilou de 13,638% no ajuste anterior para 13,63%. O DI para janeiro de 2029 passou de 12,884% no ajuste antecedente a mínima intradia de 12,86%. O DI para janeiro de 2031 marcou 13,205%, vindo de 13,239% no ajuste.

No documento que acompanhou a última decisão de juro do banco central americano, de outubro, os integrantes do Comitê de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês) avaliaram que a análise econômica ficou mais difícil em meio ao shutdown, que suspendeu a divulgação de estatísticas oficiais. A ata mostra, ainda, um FOMC dividido sobre cortar ou manter a taxa básica no encontro de dezembro. De outro lado, a percepção de que o mercado de trabalho está perdendo força foi reiterada, mas a visão é de que a inflação no país segue elevada.

“Tivemos um Fed bastante misto, mas no geral os dirigentes estão céticos quanto ao efeito das tarifas na inflação”, afirma Marcos Praça, diretor de análise na Zero Markets Brasil. O comitê avalia que haverá um efeito inflacionário da política tarifária de Trump ao longo dos próximos trimestres. Com essa sinalização, as apostas para manutenção dos Fed Funds em dezembro, que estavam em 50% ontem, agora estão perto de 70%, observa Praça.

Até lá, muito provavelmente o Fed não terá à mão os dados do payroll de outubro e novembro, cuja apuração foi afetada pela paralisação do governo americano. “O mercado acredita que não terá corte pela falta de dados”, comentou o diretor.

“Foi reforçada a narrativa de que a decisão para dezembro não está tomada, dependendo de dados econômicos”, afirma Paula Zogbi, estrategista-chefe da Nomad. “Vale lembrar, porém, que a reunião ocorreu em outubro, e muito mudou no cenário macro desde então, incluindo o término do shutdown e a expectativa de acesso a novos dados essenciais para a tomada de decisão”, ponderou.

Por aqui, Praça, da Zero Markets, afirma que a narrativa de perda de ímpeto da inflação e de desaceleração do nível de atividade, na ausência de novidades no pregão, seguiu sustentando a acomodação das taxas futuras. “Hoje [quarta-feira] foi um dia bem neutro, antes do feriado e do payroll. O pessoal está em cima do muro aguardando dados mais relevantes”.

Em relatório divulgado nesta quarta, o Barclays informa que revisou recentemente para baixo sua projeção para a alta do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2025, de 4,6% para 4,4%. Segundo Roberto Secemski, economista-chefe para Brasil do banco britânico, os preços de alimentação a domicílio e bens industriais têm mostrado evolução benigna, embora os serviços ainda continuem mais resilientes. A previsão para 2026 foi mantida em 4,2%.

Estadão Conteudo

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