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Dólar sobe 0,12% e vai a R$ 5,41, mas recua 0,39% na semana

Após trocas de sinal ao longo do pregão, o dólar encerrou esta sexta-feira, 12, cotado a R$ 5,4108, em alta de 0,12%, mas apresentou desvalorização de 0,39% na semana. Segundo operadores, o comportamento do real esteve atrelado à dinâmica da moeda americana no exterior e, em menor medida, aos ruídos e pesquisas envolvendo a corrida presidencial de 2026.

A avaliação é que a taxa de câmbio busca uma acomodação após o choque promovido no fim da semana passada pelo anúncio da pré-candidatura do senador Flávio Bolsonaro à presidência da República. Por ora, o desfecho da Super Quarta, com corte de juros nos EUA e manutenção da taxa Selic em 15% – que resultou em ampliação do diferencial de juros – dá certo amparo ao real, mitigando eventuais pressões de aceleração das remessas ao exterior a partir da semana que vem.

“Foi um dia de bastante volatilidade para a taxa de câmbio nesta sexta. O tema eleições passou a ser cada vez mais relevante desde o anúncio da possível candidatura de Flávio Bolsonaro e mexeu bastante com o dólar durante a semana”, afirma a economista-chefe do Ouribank, Cristiane Quartaroli. “Com a decisão do BC de manter a Selic em 15%, o diferencial de juros deve permanecer bem elevado por algum tempo, o que favorece o ingresso de fluxo de capital especulativo”.

Pela manhã, o dólar furou o piso de R$ 5,40 e tocou mínima a R$ 5,3796. Além da apreciação de divisas emergentes e de possível fluxo para ações domésticas, houve também levantamento eleitoral mostrando o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), à frente do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em eventual segundo turno. Flávio Bolsonaro deu nos últimos dias declarações prometendo moderação e pregando austeridade fiscal, mas Tarcísio ainda é visto por investidores como mais apto tanto para derrotar Lula quanto para promover um ajuste estrutural das contas públicas.

Para o gerente de câmbio da Treviso Corretora, houve uma correção ao longo da semana do movimento de depreciação do real na sexta-feira passada, 5, quando Flávio oficializou sua pré-candidatura ao Palácio do Planalto, afirmando que foi escolhido por seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro. Na ocasião, o dólar à vista fechou em alta de 2,29%.

“Os ruídos políticos diminuíram um pouco nos últimos dias. O encontro do Flávio com o pessoal da Faria Lima prometendo apoiar a política econômica que foi adotada por Paulo Guedes pode ter ajudado a reduzir a tensão”, afirma Galhardo, em referência ao ministro da Economia no governo de Jair Bolsonaro.

As máximas vieram no início da tarde, com pico a R$ 5,4256, na esteira da piora da aversão ao risco no exterior, com aprofundamento das perdas em Nova York, em meio à apreensão sobre suposta bolha no setor de Inteligência Artificial (IA), e avanço pontual da moeda americana em relação a divisas emergentes, em especial latino-americanas.

A decisão do governo dos Estados Unidos de remover o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e de sua esposa Viviane Barci de Moraes, da lista de sanções no âmbito da Lei Magnitsky, pode ter contribuído para apreciação pontual do real ao longo da tarde, que não se sustentou no fechamento.

Bolsa

O Ibovespa retomou nesta sexta-feira, 12, em fechamento a linha de 160 mil pontos, após ter mergulhado do recorde intradia de 165 mil pontos para encerramento a 157 mil ao longo da sexta anterior. Assim, na semana que chega ao fim, teve recuperação de 2,16%, voltando a ficar positivo no mês, em alta de 1,07%. No ano, o índice da B3 sobe 33,66%, de novo acima do desempenho acumulado em 2019 (+31,58%), a caminho ainda da maior ganho desde 2016, quando avançou quase 39%.

Entre a mínima e a máxima desta sexta, oscilou dos 159.189,10, correspondente ao nível de abertura, até os 161.263,40 pontos, com giro a R$ 23,2 bilhões na sessão. No fechamento, marcava alta de 0,99%, aos 160.766,37 pontos, ganhando fôlego ao longo da tarde, na contramão de desempenho negativo dos índices de ações em Nova York, onde as perdas do dia ficaram entre 0,51% (Dow Jones) e 1,69% (Nasdaq), ainda em torno dos temores sobre a bolha na IA.

O ganho de fôlego do Ibovespa à tarde, em dia de poucos vetores para os negócios, acompanhou a notícia de que os Estados Unidos suspenderam as restrições que haviam sido impostas ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e esposa, no âmbito da Lei Magnitsky. A notícia reforça a percepção de que a relação Brasil-Estados Unidos segue em recuperação.

Assim, Vale ON, a principal ação do Ibovespa, moderou as perdas e fechou a sessão perto da estabilidade (-0,06%), e as ações de bancos receberam impulso, embora moderado no fechamento, com destaque ainda para o estatal Banco do Brasil (ON +0,60%) e, em especial, para o principal papel do setor financeiro, Itaú (PN +0,89%), e Bradesco (ON +1,20%, PN +0,65%). Santander Unit destoou ao fim (-0,09%).

Petrobras ON e PN subiram, pela ordem, 1,22% e 1,06%. Com a melhora nas blue chips, o Ibovespa se firmou além dos 160 mil pontos, no meio da tarde, acentuando a retomada, em alta pelo terceiro dia, e na contramão de etapa vespertina ainda bem negativa em Nova York. Na ponta ganhadora do Ibovespa, Hapvida (+5,45%), Assaí (+4,19%) e Vivara (+3,45%). No lado oposto, Cosan (-2,18%), Minerva (-1,79%) e Raízen (-1,16%). Na semana, o Ibovespa colheu apenas um leve revés, na terça-feira (-0,13%), sem que o índice aguçasse a correção da última sexta-feira.

“Nesta semana, o mercado buscou se recuperar da última sexta-feira, mas longe de apagar as perdas daquilo que talvez fique conhecido como ‘Flávio Day'”, diz Felipe Cima, analista da Manchester Investimentos, acrescentando que a manutenção, ou não, da pré-candidatura mal recebida pelo mercado tende a permanecer como pergunta em aberto até o Carnaval.

“A ideia que se tem, no momento, é de que Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, não concorre à Presidência se não for ungido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro”, observa o analista, em referência ao nome preferido do mercado, em razão da visão de que teria compromisso maior do que qualquer outro candidato com um ajuste fiscal já em 2027, se vier a disputar e vencer a eleição de 2026.

“Sondagens eleitorais mostrando ganho de tração de candidaturas de centro-direita, com destaque para o governador Tarcísio de Freitas, também reforçam o modesto otimismo com o mercado local”, aponta Bruno Perri, economista-chefe, estrategista e sócio-fundador da Forum Investimentos. Ele destaca a pesquisa Futura/APEX, com possibilidade de vitória de Tarcísio no segundo turno. “E o comentário de Michelle Bolsonaro, de que aceitaria ser vice do governador paulista no pleito presidencial em 2026, o que deu algum fôlego uma semana após o ‘Flávios Day'”, acrescenta Perri.

Desde o intervalo iniciado na semana de 17 de novembro, há quase um mês, o Ibovespa tem alternado ganhos e perdas semanais. Cada recuo semanal, contudo, tem sido mais do que compensado pela variação posterior, mantendo o viés positivo para o índice, que vem de recorde de fechamento mais recente na casa de 164 mil pontos, em 4 de dezembro – ou seja, o dia anterior à correção de 4,31% suscitada, na última sexta-feira, pela pré-candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) à presidência da República em 2026.

“Dia negativo em Nova York com piora também na Europa, mas aqui o Ibovespa resistiu, com destaque para o setor de varejo e consumo na sessão, em dia não tão bom para parte do setor de commodities”, diz Bruna Centeno, economista e advisor na Blue3 Investimentos. “Recuperação da tarde contou com apoio também das ações do setor financeiro, com alívio das tensões entre Brasil e Estados Unidos, após a decisão de revogar o enquadramento de Moraes na Magnitsky”, diz Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.

Depois da recuperação desta semana, o mercado segue otimista sobre o desempenho das ações no curtíssimo prazo no Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira. Entre os participantes, 60% acreditam que o Ibovespa terá alta na próxima semana, enquanto 20% esperam queda e outros 20%, estabilidade. Na edição anterior, o quadro era binário, com 50% de expectativas de alta e 50%, estabilidade, sem respostas indicando baixa.

“Mesmo com o ano quase acabando, a última semana antes das festas promete novidades importantes. Nos EUA, teremos a leitura atrasada do payroll (mercado de trabalho) e o CPI (inflação), ambos de novembro, previstos para os dias 16 e 18. Essas leituras ganham ainda mais peso depois que Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, reforçou que o comitê está em ‘modo de espera’, com decisões condicionadas à evolução dos indicadores econômicos”, diz Bruna Sene, analista de renda variável da Rico.

Juros

Em um dia já de calmaria nos juros futuros negociados na B3, as taxas encontraram espaço para acelerar o ritmo de queda após a notícia de que os Estados Unidos retiraram o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes da lista de sanções Global Magnitsky. Segundo documento do Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros (OFAC, na sigla em inglês), que não explica o motivo da exclusão, também estão livres da restrição sua esposa Viviane Barci de Moraes e a empresa Lex, que pertence à família do magistrado.

Agentes afirmam, no entanto, que o fator adicional de alívio nas relações entre Brasil e EUA foi apenas mais um condutor, e não o principal, do recuo dos juros nesta sexta-feira. Desde a abertura, os vencimentos intermediários e longos mostraram recuo mais significativo, refletindo o otimismo com a percepção de que um corte da Selic está próximo e, também, com a leitura de que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), ainda está no páreo para concorrer à eleição presidencial de 2026.

“Há um otimismo mais generalizado. O mercado não quer acreditar na candidatura de Flávio Bolsonaro, e ainda está com esperança sobre Tarcísio”, disse um economista de uma grande tesouraria à Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, que também apontou fluxo estrangeiro relevante como outro fator que explica o declínio dos DIs.

Encerrados os negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 cedeu de 13,747% no ajuste de quinta para mínima intradia de 13,635%. O DI para janeiro de 2029 diminuiu de 13,163% no ajuste precedente para 13,015%. O DI para janeiro de 2031 marcou 13,315%, vindo de 13,44% no ajuste.

Economista-chefe e fundadora da Buysidebrazil, Andrea Damico afirma que a notícia sobre Moraes é positiva para os ativos domésticos porque tem viés institucional e tira da mesa preocupações com restrições adicionais a bancos, por exemplo. “Teve toda uma discussão lá atrás sobre os bancos ficarem mais vulneráveis. Agora, tudo isso em tese é revertido, então é algo bastante benigno para os ativos brasileiros”, disse.

Segundo Marianna Costa, economista-chefe da Mirae Asset, a decisão dos EUA fez preço na curva porque os DIs cederam um pouco mais depois da notícia, em linha com a movimentação do dólar à vista. Mas Costa destaca que, no início da tarde, os agentes estiveram atentos a declarações de dirigentes do Federal Reserve (Fed), em especial do presidente da distrital de Chicago, Austan Goolsbee. Gooslbee surpreendeu ao defender manutenção do juro na última reunião do Comitê de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês), mas hoje declarou que sua decisão não teve a ver com abordagem ‘hawkish’, mas sim para dissipar a incerteza, não excluindo totalmente um cenário de mais cortes em 2026.

Por aqui, publicada nesta sexta pelo IBGE, a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) mostrou que o volume prestado pelo setor subiu 0,3% entre setembro e outubro, feitos os ajustes sazonais, depois de ter avançado 0,7% na medição anterior. A leitura atual foi a nona expansão consecutiva na margem e ficou em linha com a mediana de estimativas do Projeções Broadcast.

Para Costa, os dados confirmam desaceleração na margem, e o ajuste para baixo nos DIs reverberam a tendência já observada ontem, com o mercado digerindo o tom conservador do último comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom), e à espera da ata e do Relatório de Política Monetária (RPM). Os dois documentos serão conhecidos na próxima semana. A economista segue projetando redução de 25 pontos-base da Selic em janeiro, mas se diz propensa a mudar a perspectiva para março, com um corte de 50 pontos-base. “A discussão sobre o início de cortes em março e em ritmo superior ganhou força”.

No cômputo semanal, o chacoalhão provocado pelo anúncio da pré-candidatura de Flávio Bolsonaro na última sexta-feira afetou a dinâmica da curva, que caiu em bloco, mas não perdeu inclinação ante os níveis de fechamento de 5 de dezembro. Nessa métrica, o DI para janeiro de 2027 recuou 15,5 pontos-base, o DI para janeiro de 2029 cedeu 18 pontos-base, e o para janeiro de 2031, 13 pontos-base.

Estadão Conteudo

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