Após operar em alta moderada pela manhã, em linha com o comportamento predominante da moeda americana no exterior, o dólar perdeu força ao longo da tarde e fechou a sessão desta quarta-feira, 12, cotado a R$ 5,8088, em queda de 0,05%.
Além da melhora de certas divisas emergentes pares do real, como o peso mexicano, analistas atribuíram a perda de força da moeda americana a informações sobre a Lei Orçamentária Anual (LOA) divulgadas na segunda etapa de negócios.
Reportagem exclusiva do Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) mostrou que, em ofício à Comissão Mista de Orçamento (CMO), o governo pediu alterações da LOA, com corte de R$ 7,7 bilhões no Bolsa Família e de R$ 7 bilhões em ações do Ministério da Educação.
De outro lado, o governo pediu que cerca de R$ 3 bilhões fossem repostos em alguns investimentos nas mesmas áreas e acréscimo de R$ 3 bilhões no Auxílio-Gás. Além disso, seriam necessários cerca de R$ 7,8 bilhões para a rubrica de “Benefícios Previdenciários”.
O executivo não previu nesta conta as despesas com o programa educacional Pé-de-Meia, mas pediu que os gastos com o programa de incentivo à permanência escolar possam ser suplementados depois da aprovação do Orçamento.
Em meio às informações sobre a LOA, o dólar chegou a esboçar um movimento mais forte de queda e desceu até mínima a R$ 5,7857, mas logo em seguida retomou parte do fôlego e voltou a operar na casa de R$ 5,80.
O sócio-diretor da MAG Investimentos, Claudio Pires, afirma que o enquadramento de programas sociais como o Auxílio-Gás dentro do Orçamento de forma clara é, a princípio, uma notícia com potencial para trazer uma redução dos prêmios de risco e melhora do câmbio.
Pires ressalta, contudo, que ainda há dúvidas se a magnitude de cortes anunciados, como os referentes ao Bolsa Família, são suficientes para abrir espaço a outras despesas que o governo pretende aumentar.
“Sem exceções no Orçamento, o arcabouço ganha relevância e isso pode trazer alívio no câmbio. Mas ainda é preciso esperar mais detalhes e a própria aprovação da lei orçamentária”, afirma o sócio da MAG Investimentos, acrescentando que há dúvidas também em torno da reforma do Imposto de Renda, com isenção para quem ganha até R$ 5 mil por mês.
Mais cedo, o mercado cambial digeriu sem grandes solavancos dados de inflação ao consumidor aqui e nos Estados Unidos, que vieram, no geral, de acordo com as expectativas.
Tampouco houve impacto relevante do início da vigência das tarifas de 25% impostas aos EUA sobre o aço e alumínio. O governo brasileiro prega o diálogo e descarta, por ora, a possibilidade de retaliação.
O IPCA acelerou de 0,16% em janeiro para 1,31% em fevereiro, pouco abaixo da mediana de Projeções Broadcast (1,32%). Foi o mais alto para o mês 2003 (1,57%). Houve desaceleração dos núcleos e de serviços, que ainda permanecem, contudo, em níveis elevados.
A leitura do IPCA reforça a expectativa de continuidade do aperto monetário após a provável alta da taxa Selic em 1 ponto porcentual na reunião do Comitê de Política Monetária na semana que vem.
Nos EUA, o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) e seu núcleo subiram 0,2% em fevereiro, abaixo da mediana de Projeções Broadcast (0,3%). A consultoria Capital Economics pontua que os componentes do CPI que influenciam o PCE, índice de inflação favorito do Federal Reserve, subiram em ritmo mais forte no mês passado.
Termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes, o índice DXY operou em leve alta ao longo do dia, voltando a superar a linha dos 103,500 pontos.
Pires, da MAG Investimentos, observa que a apreciação recente do real está ligada ao enfraquecimento global do dólar e à queda das taxas dos Treasuries nas últimas semanas, diante da expectativa de que a política protecionista errática de Donald Trump provoque desaceleração da atividade nos EUA.
Ele não considera, porém, que o Fed reduza a taxa básica americana em 75 pontos-base neste ano, como ala majoritária do mercado espera, o que limita o espaço para nova rodada de baixa do dólar. De outro lado, Pires afirma que, com a desaceleração da atividade local, é provável que não haja alta mais pronunciada da taxa Selic.
“Esses são dois vetores que podem provocar uma depreciação do real. Vemos o nível atual do dólar como um bom patamar de acomodação, com viés de alta”, diz o sócio-diretor da MAG Investimentos, que prevê taxa de câmbio em R$ 6,00 no fim do ano.
Bolsa
Em dia de agenda mais cheia, o Ibovespa operou em margem de pouco mais de mil pontos entre a mínima (122.969,29) e a máxima (124.048,45) da sessão, em que os destaques foram as leituras sobre a inflação no Brasil e nos Estados Unidos, divulgadas ainda pela manhã. No fechamento, vindo de perdas nas duas sessões anteriores, o Ibovespa mostrava leve alta de 0,29%, aos 123.863,50 pontos, com giro reforçado a R$ 36,1 bilhões, em dia de vencimento de opções sobre o índice. Na semana, o Ibovespa acumula perda de 0,94%, limitando o ganho do mês a 0,87% e o do ano a 2,98%.
Entre as blue chips, o dia foi majoritariamente negativo, e ao fim misto para Petrobras (ON +0,36%, PN sem variação), em dia de ganhos na casa de 2% para o petróleo em Londres e Nova York, após dados dos EUA terem apontado grande queda nos estoques de gasolina na última semana. Destaque para o recuo de 1,25% em Vale ON, que na terça havia contribuído de outra forma com o Ibovespa ao oscilar para cima. Em geral, os grandes bancos também iam mal nesta quarta-feira, mas melhoraram no fechamento, com destaque para Santander Unit (+0,12%), Itaú PN (+0,31%) e Bradesco ON (+0,48%).
Na ponta ganhadora do Ibovespa, RDSaúde (+5,03%), Minerva (+4,26%) e Cogna (+4,24%). No lado oposto, Azzas (-13,39%), Braskem (-4,02%) e Automob (-3,85%). Entre as componentes do índice, o desempenho de Azzas refletiu a “insatisfação do mercado com o balanço divulgado, em que lucrou 38,5% menos no quarto trimestre”, diz Anderson Silva, head da mesa de renda variável e sócio da GT Capital.
No quadro mais amplo, “nos Estados Unidos, o CPI índice de preços ao consumidor veio abaixo do esperado, mas aqui houve uma aceleração, um pouco acima do esperado. Sinais divergentes sobre os preços, lá e aqui. Mas, nos Estados Unidos, apesar do arrefecimento, há ainda os receios em torno dos efeitos das tarifações do Trump”, diz Pedro Caldeira, sócio e operador da mesa de renda variável da One Investimentos. Em Nova York, os principais índices de ações fecharam o dia com variação entre -0,20% (Dow Jones) e +1,22% (Nasdaq).
“O IPCA em 12 meses até fevereiro foi a 5,06%, em momento no qual o Copom já tinha o guidance de alta de 100 pontos-base para a Selic na reunião da semana que vem”, diz Ian Lopes, economista da Valor Investimentos, referindo-se à percepção de que a taxa básica de juros do Brasil chegue a 15%, provavelmente, no final de ciclo – um nível elevado que desestimula o investimento em ativos de risco, como ações, em meio também às incertezas sobre o protecionismo americano, que tende a afetar o dinamismo econômico global.
Para Patricia Krause, economista-chefe da Coface para América Latina, a leitura de fevereiro do IPCA não trouxe muitas novidades, com o avanço de 1,31%, na margem, em linha com o esperado após uma baixa de ritmo em janeiro. “Projeções do Focus continuam em alta para os preços em 2025, o que mantém o BC no rumo de colocar a Selic a 14,25% em março, com a inflação ainda distante do centro da meta.”
Taxas de juros
Os juros futuros chegaram a cair pontualmente com a informação do Broadcast de que o governo federal sugeriu um corte no Bolsa Família para ajustar a Lei Orçamentária Anual de 2025. Mas o movimento não se sustentou porque o corte de R$ 7,7 bilhões proposto foi considerado baixo, além de ter como contraponto a inclusão de despesas como Auxílio-Gás e em Benefícios Previdenciários.
A abertura da curva nos vértices médios e longos também teve respaldo no movimento dos rendimentos dos Treasuries, que subiram após aceleração da alta de preços nos componentes do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) nos EUA.
Por volta das 17h20, a taxa de depósito interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 operava perto da estabilidade a 14,710%, de 14,714% no ajuste anterior. O DI para janeiro de 2027 subia a 14,580%, de 14,544%, e o vencimento para janeiro de 2029 avançava para 14,565%, de 14,471% no ajuste da terça.
Destaque do noticiário no período da tarde, o governo federal pediu ao Congresso alterações na LOA deste ano, com corte de R$ 7,7 bilhões no Bolsa Família e de R$ 7 bilhões em ações do Ministério da Educação.
Mas foi solicitado também a inclusão de uma série de novas despesas, como acréscimo de R$ 3 bilhões para o Auxílio-Gás, cerca de R$ 7,8 bilhões para a rubrica de “Benefícios Previdenciários” do Fundo do Regime Geral de Previdência Social, e R$ 3 bilhões na rubrica “Apoio Financeiro Reembolsável mediante Financiamento e outros Instrumentos Financeiros para Projetos de Mitigação e Adaptação à Mudança do Clima” do Fundo Social.
“O tema é delicado. Eu tenho ressalvas com este tipo de anúncio”, afirma o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez. Ele destaca que o corte de R$ 7,7 bilhões no Bolsa Família é considerado baixo, e frisa que “apostar em corte no Bolsa Família em meio à queda de popularidade do governo Luiz Inácio Lula da Silva parece pouco factível”.
O economista-chefe da Nova Futura, Nicolas Borsoi, comenta ainda que o pedido para acrescentar cerca de R$ 7,8 bilhões na rubrica de “Benefícios Previdenciários” mostra que “o corte no Bolsa Família não foi para compensar só o Auxílio-Gás”.
O mercado, assim, voltou a ser guiado principalmente pelo exterior. “O cenário está complicado por global. Primeiro ponto é Treasuries abrindo. Apesar de o CPI dos EUA ter vindo abaixo do esperado, alguns itens dentro da composição ficaram mais pressionados, principalmente bens, e isso gera maior incerteza”, comenta o economista Gustavo Rostelato, da Armor Capital.