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Dólar fecha quase estável, a R$ 5,50, em dia de cautela com Fed e Copom

Após trocas de sinais e oscilações modestas ao longo da tarde, o dólar à vista encerrou a sessão desta quarta-feira, 18, cotado a R$ 5,5009 (variação positiva de 0,07%). Segundo operadores, depois do rali recente do real, investidores adotaram uma postura cautelosa e evitaram apostas mais contundentes em dia marcado por decisão de política monetária aqui e nos Estados Unidos. Em junho, o dólar cai 3,82% em relação ao real. No ano, as perdas são de 10,99%.

As tensões geopolíticas que dominaram as atenções nos últimos dias parecem ter ficado em segundo plano nesta quarta. Não houve reação expressiva do mercado de câmbio à possibilidade de os Estados Unidos se envolverem diretamente na guerra entre Israel e Irã. O presidente norte-americano, Donald Trump, adotou postura ambígua ao dizer que pode ou não atacar instalações do programa nuclear iraniano.

Como esperado, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) manteve inalterada a taxa básica de juros na faixa entre 4,25% e 4,50%, em comunicado que mencionou diminuição das incertezas. Os dirigentes do BC norte-americano reduziram levemente as projeções de crescimento e aumentaram as estimativas de inflação neste e no próximo ano. Entre 19 dirigentes do Fed, oito acreditam que os juros terminarão 2025 entre 3,75% e 4,00%, ou seja, 50 pontos-base abaixo do nível atual – expectativa majoritária do mercado embutida na curva de juros americana.

Lá fora, a reação inicial foi de aprofundamento do recuo das taxas dos Treasuries e do índice DXY – que mede o desempenho da moeda norte-americana em relação a uma cesta de seis divisas fortes. Por aqui, o dólar praticamente não se mexeu e seguiu alternando entre ligeiros avanços e recuos, ao redor de R$ 5,50.

O índice DXY, contudo, ganhou força em meio às declarações do presidente do Fed, Jerome Powell, o que levou o dólar a se firmar em leve alta na comparação com o real. Powell alertou que o tarifaço de Trump já começa a ser sentido nos preços, efeito que deve se intensificar nos próximos meses. Mais: as incertezas provocadas pelo vaivém da política comercial americana deixam os dirigentes do Fed receosos em promover um corte de juros. “Para reduzir juros, estamos esperando para ver o que acontece com as tarifas”, disse Powell.

“A decisão do Fed foi em linha com o mercado. O discurso de Powell chamou a atenção ao dar destaque aos impactos das tarifas sobre a economia americana, o que deve levar o Fed a adotar uma postura mais cautelosa”, afirma a economista-chefe do Ouribank, Cristiane Quartaroli, ressaltando que há receio de que o esperado corte de juros nos EUA ainda neste ano não se concretize. “Podemos ver uma pressão de curto prazo na nossa taxa de câmbio se o mercado deixar de ver queda de juros nos EUA. Por outro lado, temos ainda uma Selic bastante elevada, o que atrai fluxo de capital especulativo”.

Para o economista-chefe da Suno Research, Gustavo Sung, com o mercado de trabalho ainda resiliente e as incertezas associadas ao impacto do tarifaço de Trump, o Fed não “tem necessidade de agir de forma apressada para reduzir os juros diante da moderação do ritmo do crescimento econômico” nos EUA.

“Em nosso cenário base, o Fed terá espaço mais limitado para cortes de juros ao longo do ano, em função do potencial impacto inflacionário dessas novas medidas comerciais”, afirma Sung. “Mantemos a projeção de um primeiro corte no final de 2025, uma vez superados os efeitos mais imediatos dos choques tarifários”.

Por aqui, antes da decisão final, de 48 casas ouvidas por Projeções Broadcast, 27 previam que o Comitê de Política Monetária (Copom) optaria por deixar a taxa básica estacionada em 14,75%. Já outras 21 instituições apostam em elevação da Selic em 0,25 ponto porcentual, para 15% ao ano.

Taxas de juros

Os juros futuros terminaram a sessão perto dos ajustes anteriores. O comunicado do Federal Reserve e as declarações de Jerome Powell ficaram relativamente dentro do esperado e, com isso, a grande expectativa do mercado manteve-se sobre a decisão e o comunicado do Copom após o fechamento do mercado.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 fechou em 14,870%, de 14,867% no ajuste anterior. A do DI para janeiro de 2027 passou de 14,24% para 14,25%. O DI para janeiro de 2028 encerrou com taxa de 13,61% (de 13,64% na terça) e a do DI para janeiro de 2029 oscilou de 13,55% para 13,50%.

O mercado de juros operou na retranca desde a etapa inicial. O noticiário geopolítico não trouxe novidades concretas. Donald Trump chegou a dar um ultimato ao Irã, mas despistou sobre uma eventual entrada do país no conflito ao lado de Israel. Mais cedo, o aiatolá Ali Khamenei disse que o Irã não se renderá e que qualquer intervenção militar dos EUA trará “consequências irreparáveis”.

A decisão do Fed de manter o juro entre 4,25% e 4,50% era amplamente prevista e as mudanças no gráfico de pontos não foram capazes de alterar a percepção majoritária de que o ciclo de corte de juros começa em setembro, com a ferramenta do CME Group apontando maioria das apostas num orçamento total de redução de 50 pontos-base em 2025.

As taxas na B3 chegaram a ensaiar uma piora durante a entrevista de Powell, quando o dirigente tocou no tema das tarifas de importação. Ele afirmou que a expectativa sobre o efeito das taxas na inflação deixa os membros do colegiado receosos sobre corte de juros. “Para reduzir juros, estamos esperando para ver o que acontece com as tarifas”, disse. No entanto, a pressão na curva local acabou se dissipando rapidamente.

A economista-chefe da Mirae Asset, Marianna Costa, vê com naturalidade o desempenho lateral das taxas nesta quarta, num contexto de incerteza geopolítica, Fed dentro do esperado, véspera de feriado e Copom no radar. “Estamos indo para um Copom bastante dividido, o que não é pouca coisa. Pode ser 25 ou nada. O único consenso parece ser o de que virá uma comunicação bastante dura”, afirma.

Nas opções de Copom, o prêmio no contrato para elevação era negociado a 64 pontos, enquanto o contrato para manutenção era de 36 pontos.

Na avaliação de Costa, a decisão esperada era unânime, de forma a coordenar as expectativas dos agentes e evitar volatilidade nos ativos. “E o comunicado deve ser neutro em relação a qualquer guidance”, complementa. Nesse sentido, a expectativa é de que o colegiado não feche a porta para uma eventual nova elevação da Selic e não traga sinalização de timing para corte de juros.

Bolsa

O Ibovespa chegou a firmar leve alta durante a fala do presidente de Jerome Powell e ensaiou retomar em fechamento a linha dos 139 mil pontos, então bem mais perto da máxima (139.160,55) do que da mínima (138.443,11) da sessão.

No encerramento, contudo, mostrava leve perda de 0,09%, aos 138.716,64 pontos, com giro a R$ 32,9 bilhões nesta quarta-feira, relativamente reforçado em dia de vencimento de opções sobre o índice. Na semana, o Ibovespa avança 1,10% e, no mês, sobe 1,23% – no ano, acumula ganho de 15,32%.

A reação na bolsa brasileira foi relativamente neutra à decisão de política monetária do Federal Reserve, em linha com o esperado (manutenção dos juros), e também ao comunicado e às declarações do presidente do BC dos EUA.

No meio da tarde, o índice chegou a se inclinar de forma mais definida ao campo positivo, ainda que levemente, pela contenção de perdas em Petrobras (ON -0,56%, PN -0,09%), com o Brent e o WTI passando a mostrar avanço, de 0,3%, no fechamento. Em Nova York, os principais índices de ações tiveram variação entre -0,10% (Dow Jones) e +0,13% (Nasdaq) no encerramento da sessão.

Na ponta ganhadora do Ibovespa, Embraer (+3,99%), Minerva (+2,93%) e BRF (+2,10%). No lado oposto, Raízen (-4,32%), Vamos (-3,20%) e Cogna (-3,03%). Entre os grandes bancos, as perdas desta quarta-feira ficaram entre 0,23% (Santander Unit) e 0,77% (Bradesco PN) no fechamento. Principal ação do Ibovespa, Vale ON caiu 0,33%, após ter chegado a ensaiar alta mais cedo.

A piora depois das 16 horas veio com a indicação, dada por Powell, de que a equipe do Fed ainda está atenta e cautelosa quanto a possíveis consequências da política tarifária adotada pelo governo americano. “Sabemos que os efeitos das tarifas virão, e estamos esperando para ver”, disse o presidente do Fed.

“Tarifas foram o fator motivador das revisões para cima na inflação, e aumentos deste ano certamente pesarão na atividade econômica”, aponta Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos. “O efeito total, no entanto, depende do nível em que estas tarifas serão estabelecidas”, acrescenta. “Sentimento piorou por conta das preocupações com a política comercial, e a incerteza está atipicamente elevada”, diz a economista.

Ainda assim, com a comunicação e a entrevista de Powell da tarde, o mercado consolidou expectativas de que o Fed retomará cortes de juros a partir de setembro e reduzirá as taxas em 50 pontos-base neste ano, reporta a jornalista Laís Adriana, da Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado. Junto da decisão, o gráfico de pontos mostrou que a maior parte dos dirigentes prevê relaxamento em algum nível, com oito deles refletindo a mesma precificação do mercado.

“A atenção estava voltada também para as projeções, que mostraram uma piora nas estimativas de inflação nos Estados Unidos. Também houve uma revisão negativa na projeção de crescimento, que passou de 1,7% (em março) para 1,4% neste ano e de 1,8% para 1,6% no próximo. A taxa de desemprego teve leve mudança”, diz Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos. Ele acrescenta que, nas projeções para os juros, a estimativa para este ano continua a indicar dois cortes na taxa do Fed.

“A maioria dos dirigentes agora prevê apenas mais um corte em 2026, o que levaria a taxa para algo em torno de 3,75% ao ano. A mediana ficou em 3,6%, mas, de qualquer forma, estamos falando de apenas mais um corte no próximo ano”, diz Cruz.

“O que poderia assustar o mercado seria uma combinação de estabilidade nas projeções de crescimento com uma inflação bem acima dos 3%, o que exigiria uma retomada no ciclo de alta de juros. Como os dirigentes ainda projetam dois cortes neste ano, apesar da divisão interna, o mercado financeiro não deve reagir com força agora. Pode até haver algum alívio, considerando que já são dois meses desde o início da guerra tarifária e, mesmo assim, os dirigentes permanecem confiantes”, observa também o estrategista da RB Investimentos.

Para Cruz, apesar da leve alta nas projeções de inflação para 3%, a leitura é de que se trata de um movimento passageiro e não de uma mudança estrutural, o que ainda permite espaço para cortes de juros nos Estados Unidos.

Na avaliação de Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, o comunicado desta tarde do Federal Reserve reforçou que a atividade econômica segue em expansão, em ritmo sólido. “Apesar das oscilações recentes nos dados de exportações líquidas, a taxa de desemprego permanece baixa, com o mercado de trabalho também sólido – na entrevista, o presidente do Fed, Jerome Powell, disse que o país está próximo ou se encontra em pleno emprego. A inflação, por sua vez, segue um pouco elevada”, acrescenta o economista.

“O movimento de alta do Ibovespa no ano tem sido preservado, com uma mudança generalizada de ânimo em relação a Brasil: diversos bancos estrangeiros têm revisado recomendações, para compra. Mercado local estava muito barato em relação aos fundamentos, isso já era sabido. E os investidores passaram a diversificar mais o portfólio, considerando também emergentes que tinham ficado para trás, como o Brasil”, diz Felipe Moura, analista da Finacap. Ele destaca que o momento de incerteza – não apenas em relação a tarifas americanas como também, agora, a acentuação da tensão geopolítica no Oriente Médio – favorece o prosseguimento desta diversificação.

Estadão Conteudo

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