O dólar acelerou o ritmo de alta ao longo da tarde desta terça-feira, 7, no mercado local e atingiu os R$ 5,35, em meio ao fortalecimento da moeda americana no exterior e a temores crescentes de menor potencial de arrecadação com as mudanças na Medida Provisória (MP) alternativa ao aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
Com máxima de R$ 5,3532, o dólar à vista encerrou a sessão em alta de 0,74%, a R$ 5,3501 – maior valor de fechamento em mais de dez dias. A divisa acumula ganhos de 0,51% nos cinco primeiros pregões de outubro, após desvalorização de 1,83% em agosto. No ano, as perdas são de 13,43%.
O real apresentou o pior desempenho entre as divisas latino-americanas e a segunda maior perda no universo das moedas emergentes mais relevantes, com recuo inferior apenas ao do florim húngaro. Parte do tropeço do real nesta terça pode ser fruto de uma correção dos ganhos da segunda-feira, quando a moeda brasileira foi um dos destaques entre emergentes, na esteira da conversa por telefone entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil) e Donald Trump (EUA).
Termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes, o Índice DXY (Dollar Index) operava ao redor dos 98,630 pontos no fim da tarde, em alta de mais de 0,50%, após máxima aos 98,660 pontos.
A crise política na França, com a renúncia na segunda do primeiro-ministro Sébastien Lecornu, defensor de cortes em gastos públicos, voltou a pesar sobre o euro. O iene caiu cerca de 1% com as apostas de que a nova líder do governista Partido Liberal Democrata, Sanae Takaichi, pode adotar uma política fiscal mais flexível.
Aos temores de deterioração fiscal na França e no Japão soma-se a falta de sinais de entendimento no Congresso americano para resolver o impasse orçamentário e pôr fim à paralisação parcial (shutdown) do governo dos Estados Unidos (EUA), que já está em seu sétimo dia.
“Estamos vendo um movimento de aversão global ao risco que leva a um fortalecimento da moeda americana e recuo das taxas dos Treasuries. A paralisação do governo americano leva os investidores a buscarem ativos mais seguros”, afirma a economista-chefe do Ouribank, Cristiane Quartaroli.
A economista ressalta que o real é mais castigado em razão da discussão em torno da MP alternativa ao aumento do IOF no Congresso, que caduca na quarta-feira. A perspectiva de que o texto em discussão traga uma receita menor que a estimada pelo Ministério da Fazenda aumenta o receio de que o governo não consiga cumprir as metas fiscais.
“Isso está gerando um desconforto no mercado, levando a um aumento da percepção de risco, o que contribui para a alta mais forte do dólar por aqui”, afirma Quartaroli.
O relatório da MP, deputado Carlos Zarattini (PT-SP), retirou da proposta o aumento da tributação das bets. Também ficaram fora do texto, como já havia sido adiantado, a taxação de Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e do Agronegócio (LCA). Segundo Zarattini, com as alterações no relatório, a previsão de arrecadação da MP é de R$ 17 bilhões – R$ 3 bilhões a menos do que a previsão anterior.
Com o mercado já fechado, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, confirmou a arrecadação estimada em R$ 17 bilhões com a MP em 2026, minimizou manutenção da isenção das letras financeiras e disse que a previsão é de que texto seja aprovado ainda nesta terça pelo Congresso. “Houve concessões mútuas”, disse o ministro, sobre a negociação com os parlamentares.
Operadores também citaram certo desconforto com declaração de Haddad peça manhã dando conta de que o governo está realizando um mapeamento do sistema de transporte público, a pedido do presidente Lula. Circularam nos últimos dias informações, não confirmadas, de que o governo pretende pôr em pé a proposta de zerar a tarifa de ônibus urbanos.
Para a economista-chefe da Lifetime, Marcela Kawauti, a manutenção da taxa de câmbio ao redor de R$ 5,30 é insustentável, dada a fragilidade da situação fiscal. Ela observa que, além de questões estruturais, há chance de possível expansão de gastos em ano eleitoral.
“Nosso fiscal não é o fim do mundo, mas em algum momento precisará ser corrigido”, afirma a economista, que projeta um câmbio variando entre R$ 5,50 e R$ 5,60 à frente.
Bolsa
O Ibovespa emendou um segundo dia de correção, nesta terça-feira, 7, em grau mais intenso, no que foi sua maior queda em porcentual desde a perda de 2,10% na sessão de 19 de agosto. Nesta terça-feira, o índice da B3 oscilou entre mínima de 141 035,06 e 143.606,01 pontos na máxima do dia, correspondente ao nível de abertura. Ao fim, no menor nível de encerramento desde 4 de setembro, mostrava recuo de 1,57%, aos 141.356,43 pontos, com giro em recuperação, a R$ 24,4 bilhões. Na semana, em duas sessões, o índice recua 1,97% e, no mês, cede 3,34%, com ganho no ano a 17,52%.
O dia foi amplamente negativo para as ações de primeira linha, as blue chips, com maior liquidez e peso na composição do Ibovespa. Destaque para o prosseguimento da correção no setor financeiro, o de maior ponderação no índice da B3, e para as ações metálicas, em especial para as siderúrgicas CSN (ON -3,78%) e Usiminas (PNA -3,49%), que seguiram nas mínimas da sessão ao longo da tarde.
Vale ON, a principal ação do Ibovespa, caiu 1,41%, no piso do dia no fechamento, a R$ 58,75, enquanto Petrobras firmou sinal único no fim da sessão, em leve alta de 0,12% na ON (máxima do dia no encerramento) e de 0,36% na PN, em dia de relativa estabilidade para o petróleo. Entre as ações dos maiores bancos, as perdas ficaram entre 0,93% (BB ON) e 2,06% (Santander Unit) Apenas oito dos 82 papéis que compõem a carteira Ibovespa fecharam o dia no campo positivo.
Na ponta ganhadora do índice da B3, Minerva (+1,21%), PetroReconcavo (+0,89%) e BB Seguridade (+0,79%). No lado oposto, MRV (-12,12%) após a divulgação de dados operacionais que não agradaram os investidores, pela manhã. Em seguida, pela ordem, vieram Raízen (-7,22%) e Vamos (-6,54%). As prévias operacionais da MRV, referentes ao terceiro trimestre, divulgadas mais cedo, trouxeram fluxo de caixa decepcionante, na avaliação do BTG Pactual. A correção vista no papel acabou se espalhando, em parte, para outros nomes do segmento imobiliário, como Direcional e Cury, em baixa de 3,74% e 3,90%, pela ordem, assim como Cyrela (-2,60%).
“Dólar subiu mesmo com as declarações amistosas dos presidentes Lula e Trump, que requerem desenvolvimento em um encontro pessoal, que seria de extrema importância. Muitas empresas seguem em meio a incertezas em torno da continuidade, ou não, do tarifaço, o que requer diplomacia governamental. As palavras do ministro Fernando Haddad, da Fazenda, não ajudaram muito ao sugerir que as conversas avançarão independente de quem esteja negociando pelos Estados Unidos o negociador destacado por Trump, o secretário de Estado, Marco Rubio, é tido como um quadro ideológico”, diz Paloma Lopes, economista da Valor Investimentos.
Para Paulo Silva, cofundador da Consultoria Advisory 360, desde o exterior, há incerteza persistente, também, com relação ao escopo em que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) poderá cortar os juros ainda este ano, nos dois encontros de política monetária que faltam para a conclusão de 2025, no fim de outubro e em dezembro, especialmente diante dos dados mais recentes sobre a atividade e a inflação nos Estados Unidos, o que resulta em uma recalibragem das apostas do mercado
Nesta terça-feira, o índice DXY, que contrapõe a moeda americana a referências como euro, iene e libra, avançou e, por aqui, o dólar à vista fechou em alta de 0,74%, a R$ 5,3501. Os principais índices de ações em Nova York, o amplo S&P 500 e o tecnológico Nasdaq, vindo de recordes de fechamento na sessão anterior, cederam 0,38% e 0,67%, respectivamente.
Nesta terça, o presidente do Federal Reserve de Minneapolis, Neel Kashkari, apontou que os dados econômicos americanos estão enviando “alguns sinais” de estagflação. Ele avalia que o mercado de trabalho está desacelerando e que a inflação está persistente acima da meta do Fed, de 2% ao ano. Para Kashkari, é importante avaliar se a inflação será afetada por tarifas – o que ainda considera cedo para saber – e se o nível permanecerá por volta de 3%.
No mesmo evento, Kashkari observou que se o BC dos Estados Unidos reduzir drasticamente os juros, a economia pode ter uma explosão inflacionária. “Estou confiante de que o Fomc o comitê de política monetária do Fed continuará a tomar decisões a partir de análises”, acrescentou.
Juros
Renovadas hoje após a desidratação da Medida Provisória (MP) 1.303, que apresenta alternativas ao aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), as preocupações com a sustentabilidade fiscal mantiveram os juros futuros de longo prazo em firme ascensão no pregão desta terça-feira. As taxas caminharam em sentido contrário à queda dos rendimentos dos Treasuries e abriram ainda mais em relação à tendência já altista observada até o início da tarde.
Encerrados os negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 subiu de 14,081% no ajuste anterior a 14,130%. O DI para janeiro de 2028 aumentou de 13,466% no ajuste a 13,535%. O DI para janeiro de 2029 alcançou 13,460%, vindo de 13,363% no ajuste da véspera. Na ponta mais longa da curva, o DI para janeiro de 2031 avançou de 13,566% no ajuste de ontem a 13,680%.
Apresentado hoje pelo deputado Carlos Zarattini (PT-SP) com duas mudanças, o novo relatório sobre a MP 1.303 reduz a arrecadação prevista em 2026 de R$ 20,87 bilhões para cerca de R$ 17 bilhões Zarattini manteve a isenção de títulos como LCAS, LCIs e LCDs, que poderia gerar R$ 2,6 bilhões em receitas no próximo ano caso fossem tributados em 5%. O relator ainda excluiu da proposta trecho que previa ampliar a tributação das bets, de 12% para 18%, alta que criaria R$ 1,7 bilhão em receitas. Os números são aproximados.
Caso não seja apreciada nesta terça pelo legislativo, a MP, que vale até amanhã, pode caducar. A votação em comissão mista do Senado começou no fim desta tarde. “Caso a MP passe mantendo a última revisão, o governo precisará encontrar uma linha de receita para compensar a diminuição de expectativa de ganhos com a medida. O prazo é muito apertado”, afirma João Oliveira, sócio da One Investimentos, que vê a percepção de aumento do risco fiscal como principal vetor de alta dos DIs hoje.
Outra fonte de volatilidade que já pressionou a curva na semana passada e também fez preço na sessão desta terça, segundo Oliveira, foi a proposta, ainda que pouco concreta, do governo para reduzir ou tornar tarifas de ônibus gratuitas. Em participação no programa “Bom dia, Ministro”, da EBC, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta terça que o Executivo está mapeando, a pedido do presidente Lula, o sistema de transporte público do País, para identificar o que é possível fazer sobre o tema.
“Essa possibilidade de renúncia fiscal pressiona a curva e é fonte de preocupação para o equilíbrio das contas públicas”, diz o sócio da One, ainda que as discussões sejam embrionárias e técnicos da equipe econômica avaliem que a iniciativa tem pouca chance de avançar. À medida que as eleições presidenciais se aproximam, o governo estará mais disposto a apresentar medidas expansionistas e os agentes estarão mais sensíveis a estes pontos, o que deve manter os prêmios de risco nas taxas mais longas elevados, avalia.
A XP Investimentos nota, em revisão mensal publicada nesta terça, que o cenário-base para as contas públicas se manteve ante setembro, mas os riscos fiscais cresceram. Segundo o economista Tiago Sbardelotto, discussões sobre a ampliação do Bolsa Família, gratuidade no transporte público e outras medidas similares começam a ganhar terreno. “Estimamos que os riscos de natureza legislativa e judicial podem atingir R$ 385,0 bilhões em 2026, majoritariamente do lado das despesas”, observa Sbardelotto. Em seus cálculos, a dívida pública como proporção do Produto Interno Bruto (PIB) vai subir de 78,9% para 83,1% entre o final de 2025 e de 2026.