O dólar experimentou queda moderada na sessão desta terça-feira, 11, apesar de o presidente dos EUA, Donald Trump, ter confirmando ontem à noite a imposição de tarifas de importação de 25% sobre alumínio e aço a partir de março.
A moeda americana também perdeu valor em relação a pares, em especial o euro, e na comparação com a maioria das divisas emergentes. Peso mexicano e o real se valorizaram a despeito de Brasil e México figurarem, ao lado do Canadá, no grupo dos três maiores exportadores de aço aos EUA.
A avaliação de que pode haver espaço para negociação em torno das tarifas, com eventual postergação do início da cobrança ou até adoção de regime de cotas, ajuda a explicar a manutenção do apetite pelo real e seus pares, segundo analistas.
“O mercado se preparou para um cenário muito mais negativo em relação às tarifas no início do governo Trump. As medidas são menos fortes que o esperado e há um desmonte de posições em relação a isso”, afirma o sócio-diretor da MAG Investimentos, Claudio Pires, ressaltando que o sentimento de alívio é global, como mostra a apreciação de outras divisas emergentes.
Tirando uma alta pontual na abertura dos negócios, o dólar operou em baixa ao longo do restante da sessão. Com mínima a R$ 5,7577, fechou em queda de 0,31%, cotado a R$ 5,7678. Depois de ter recuado 5,56% em janeiro, a divisa já acumula desvalorização de 1,18% em fevereiro e de 6,67% no ano.
Pires, da MAG Investimentos, observa que os investidores locais carregavam uma visão mais negativa em relação ao real neste início do ano, mas houve uma melhora do humor dos investidores estrangeiros que tem levado à queda do dólar e dos juros futuros, além de alta do Ibovespa.
“Tínhamos uma visão não tão positiva para a moeda, com a expectativa de que, quando o dólar chegasse perto de R$ 5,90, haveria um fluxo forte de compra, mas isso não aconteceu”, afirma Pires. “E mesmo com o dólar perto de R$ 5,78, continuamos vendo o gringo entrando. Talvez tenha espaço para melhorar mais.”
Lá fora, o índice DXY – termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes – passou o dia em baixa moderada, em razão sobretudo de valorização do euro, e operava pouco abaixo dos 108,000 pontos no fim da tarde, após mínima aos 107,782 pontos.
A perda de força do DXY se deu mesmo diante de leve redução das apostas em mais cortes de juros nos EUA neste ano, após o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, reiterar, em audiência no Senado americano, que não há pressa em ajustar a política monetária.
Ferramenta de monitoramento do CME Group mostrou um aumento das chances de que o Fed promova apenas um adicional de 25 pontos-base da taxa básica em 2025. Investidores aguardam amanhã a divulgação do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) em janeiro para calibrar suas apostas.
“A economia americana está forte e o payroll trouxe queda da taxa de desemprego. O Fed pode ser um pouco mais cauteloso. Nossa projeção é que talvez haja um janela para queda dos juros no terceiro trimestre”, afirma o sócio-diretor da MAG Investimentos.
A combinação da perspectiva de manutenção ou leve corte de juros pelo Fed com a expectativa de que a taxa Selic atinja 15% leva a uma ampliação do diferencial de juros, o que tende a amparar a moeda brasileira. Operadores ressaltam que com as altas acumuladas da Selic tornaram muito custosa a manutenção de posições “compradas” na moeda americana.
A desaceleração do IPCA de 0,52% em dezembro para 0,16% em janeiro, em linha com a mediana de Projeções Broadcast, foi explicada basicamente pelos preços de energia elétrica, com o bônus de Itaipu. O índice cheio mascara uma dinâmica inflacionária ainda preocupante, com pressão de núcleos e serviços – o que leva o mercado a manter a aposta em Selic terminal acima de 15%.
Ibovespa
A comportada leitura do IPCA em janeiro, de 0,16%, contribuiu para o dia de apetite por risco na B3, com câmbio e juros em baixa, e Ibovespa em alta de 0,76%, a 126.521,66 pontos, no fechamento. Assim, o índice brasileiro andou bem à frente das referências de Nova York na sessão, com variação entre -0,36% (Nasdaq) e +0,28% (Dow Jones) no encerramento. Na B3, o giro financeiro ficou em R$ 20,1 bilhões. Da mínima à máxima do dia, o Ibovespa oscilou dos 125.569,96 aos 126.886,27 pontos, saindo de abertura aos 125.571,39 pontos. No mês, o Ibovespa volta ao positivo (+0,31%), com ganho de 1,53% na semana.
“IPCA em linha com o esperado, o que trouxe alívio nas curvas de juros desde a manhã. Não muda o cenário, na medida em que o boletim Focus continua a trazer, como visto ontem, elevações nas projeções de inflação para este ano e também para o fim de 2026”, diz Patricia Krause, economista-chefe da Coface para América Latina.
“Existia expectativa de que pudesse vir até mais alto do que de fato foi o resultado, não trouxe surpresas. Sinal de estabilidade, mas o cenário para os preços ainda é preocupante. Alta de juros dá uma segurada na inflação, mas o remédio está mais forte do que poderia ser se houvesse mais clareza com relação ao fiscal”, diz Paloma Lopes, economista da Valor Investimentos. “Se continuar a colocar todo o peso sobre a política monetária, haverá fragilização adicional do mercado, pela atratividade da renda fixa com juros tão altos”, acrescenta.
Ainda assim, na B3, desde a manhã, o dia foi majoritariamente positivo para as ações de primeira linha, à exceção dos carros-chefes Vale (ON -0,43%) e Petrobras, que fechou o dia em situação um pouco melhor (ON +0,55%, PN sem variação). Na ponta ganhadora do Ibovespa, destaque para Carrefour (+10,08%), Hapvida (+7,26%) e TIM (+6,95%). O Carrefour Brasil informou que a Península, gestora de recursos da família Diniz, converterá todas as suas ações brasileiras em ações do Grupo Carrefour. A colocação surge após o Carrefour França submeter hoje à administração uma proposta para converter a companhia em subsidiária integral. Com isso, haveria a deslistagem do Carrefour Brasil do Novo Mercado.
Para além da questão referente ao Carrefour, “o setor de varejo e saúde foi beneficiado pela inflação mais controlada, já que menores pressões inflacionárias favorecem o consumo e reduzem custos operacionais”, aponta Patrick Buss, operador de renda variável da Manchester Investimentos. No lado oposto na sessão, Automob (-3,45%), Azul (-3,01%) e CSN (-2,21%).
“No setor de aço e alumínio, taxado pelos Estados Unidos, há empresas que têm menos exposição ao país, como a Usiminas (PNA +3,50%), que exporta mais para a Argentina. E a Gerdau (PN +0,97%), que tem planta nos Estados Unidos, acaba não sendo impactada. Por outro lado, a mais impactada é a CSN, que exporta quase 20% de seu volume para lá – e o correspondente a 15% da receita”, diz Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos. “Se começar realmente uma guerra comercial em escala global, não será bom para ninguém.”
“Taxações do aço e do alumínio têm efeito para a inflação nos Estados Unidos, o que traz dificuldades para o Federal Reserve com relação ao afrouxamento dos juros, com efeito também para a atividade das empresas, o que se refletiu hoje no desempenho dos índices de ações em Nova York”, diz Gabriel Cecco, especialista da Valor Investimentos.
Juros
Os juros futuros terminaram a terça-feira em baixa. A formalização da taxação de 25% dos EUA às importações de aço e alumínio não assustou os ativos brasileiros e a curva de juros continuou devolvendo prêmios de risco, amparada na desvalorização global do dólar. Entre os ingredientes locais, o mercado gostou do resultado da pesquisa AtlasIntel sobre a corrida eleitoral em 2026 e, quanto ao IPCA, o índice veio em linha com o esperado, mas sem consenso no que diz respeito à leitura qualitativa.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 encerrou em 14,940%, de 14,998% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2027 caiu de 15,18% para 15,06%. O DI para janeiro de 2029 terminou com taxa de 14,82%, de 14,92% no ajuste de ontem.
Os juros domésticos operaram na contramão da curva dos Treasuries, cujos rendimentos avançaram em meio ao temor de inflação diante da decisão do presidente Donald Trump de taxar importações de aço e o discurso considerado duro do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, em depoimento no Senado.
No fim da tarde, a taxa da T-Note de dez anos subia a 4,53%. Ontem, o governo americano oficializou a medida da taxação do aço, que passará a vigorar em 12 de março, e avisou que encerrará acordos especiais com diversos países. Nesta terça-feira, o assessor de comércio de Trump, Peter Navarro, acusou produtores brasileiros de aço de se aproveitarem do real fraco e dos subsídios a exportações para prejudicar os concorrentes americanos.
O mercado espera agora pelas medidas que o governo brasileiro irá tomar para proteger o setor. Mas mantém a avaliação de que por trás do anúncio está a intenção de Trump de negociar e aposta na via do diálogo para aliviar as restrições, o que explica a manutenção do apetite por ativos de risco. O dólar teve queda generalizada e no Brasil terminou o dia em R$ 5,7678 no segmento à vista.
A valorização recente do câmbio tem sido fundamental para a devolução de prêmios na curva, dado o potencial de melhorar o cenário para preços no curto prazo. O IPCA de janeiro, de 0,16%, veio em linha com a mediana das estimativas, saindo de 0,52% em dezembro, no menor nível do mês desde o início do Plano Real, em 1994.
A leitura dos preços de abertura não foi uniforme. Para o economista-chefe da Monte Bravo, Luciano Costa, a leitura qualitativa do IPCA “é ruim”, com núcleos e preços de serviços ainda pressionados, e sem sinal de alívio estrutural. “Nada muda na percepção de que o ciclo de alta deve terminar com Selic entre 14,75% e 15,25%”, diz.
Já o economista-chefe da Meraki Capital, Rafael Ihara, atribuiu ao IPCA o recuo da ponta curta. “Apesar do índice ter vindo praticamente em linha, a surpresa altista ficou concentrada em transportes, enquanto núcleos, serviços subjacentes vieram melhor que o esperado. Nos juros longos, parece haver efeito da pesquisa AtlasIntel”, disse.
Dados da pesquisa, realizada em parceria com a Bloomberg, apontam que, em oposição ao presidente Lula, o atual governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, seria um candidato mais competitivo na eleição presidencial do ano que vem do que o ex-presidente Jair Bolsonaro. Lula teria 45,7% dos votos contra 44,7% de Tarcísio e 9,6% seriam em branco, nulos ou não souberam responder. Num eventual segundo turno com Bolsonaro, o petista teria 47,6% enquanto o ex-presidente teria 43,4%. Os brancos, nulos ou não sabem seriam 9% nesse caso.
“A novidade é o empate técnico entre Lula e Tarcísio”, destacou Ihara, para quem, mantida essa tendência, “não é absurdo achar que Tarcísio pode aparecer na frente em uma próxima pesquisa”. Ainda segundo a pesquisa, o governo Lula é desaprovado por 51,4% da população e aprovado por 45,9%.