O dólar à vista encerrou a sessão desta segunda-feira, 11, em alta firme no mercado doméstico, mas longe das máximas vistas pela manhã, quando rompeu o nível técnico de R$ 5,80. Ajustes para realização de lucros e uma melhora do apetite ao risco, que levou o Ibovespa a operar no azul, amenizaram as pressões sobre o câmbio na segunda etapa de negócios.
O real sofre tanto com a onda de fortalecimento da moeda americana no exterior, ainda fruto do realinhamento das expectativas para a economia dos EUA com a eleição de Donald Trump, quanto com as dúvidas em torno do anúncio e da magnitude do pacote de corte de gastos em gestação pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva. O pregão também foi marcado por mergulho dos preços das commodities, diante de dados fracos da economia chinesa, como a inflação ao consumidor em outubro.
Com mínima a R$ 5,7630 e máxima a R$ 5,8164, o dólar à vista terminou o pregão em alta de 0,59%, cotado a R$ 5,7695. Dada a ausência de negócios no mercado de Treasuries, em razão do feriado do Dia do Veterano nos EUA, a liquidez foi reduzida. Principal termômetro do apetite por negócios, o contrato de dólar futuro para dezembro movimentou menos de US$ 10 bilhões.
Após a rodada de conversas no Planalto na semana passada sobre corte de gastos, com relatos de embates entre ministros da área social e a equipe econômica, hoje não houve sinais de avanço nas negociações ao longo do pregão. Com o mercado de câmbio já fechado, fontes informaram ao Broadcast que o presidente estava reunido com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o que levou o dólar futuro para as mínimas. Antes de divulgar o plano, Lula quer apresentá-lo aos presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
“Esse atraso na divulgação dos cortes pelo governo deixa o mercado na defensiva. Parece até que o fluxo melhorou e há um aumento do diferencial de juros interno e externo, mas isso não é suficiente para dar alívio para o dólar, até porque a moeda está subindo lá fora ainda com o efeito Trump”, afirma o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo.
O economista-chefe e sócio-fundador da gestora Legacy, Pedro Jobim, vê com ceticismo o impacto do pacote fiscal sobre o humor do mercado financeiro, dado que o crescimento da dívida pública tem sido muito acelerado. “Talvez o governo possa estancar um pouquinho ou desacelerar, me parece muito difícil”, disse Jobim, em evento hoje quando indagado sobre a crise de confiança dos investidores. “Teria que ter um movimento fiscal que está mais ou menos claro que eles não estão dispostos a fazer. Talvez só façam com condições de mercados muito mais adversas.”
Termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes, em especial euro e iene, o índice DXY voltou a superar a barreira dos 105,500 pontos, com máxima aos 105,705 pontos. Entre as divisas emergentes e de exportadores de commodities, rand sul-africano caiu mais de 2%, ao passo que o peso mexicano amargou desvalorização superior a 1%.
O dólar é impulsionado pela perspectiva de política econômica mais protecionista nos EUA com a ascensão Trump à presidência, o que pode trazer pressões inflacionárias e reduzir o espaço para cortes de juros pelo Federal Reserve ao longo de 2025.
O economista André Galhardo, consultor econômico da plataforma de transferências Remessa Online, observa que o real perdeu força hoje em linha com o comportamento da moeda americana no exterior, com o DXY nos maiores níveis desde julho.
Além da perspectiva de aumento das tensões comerciais com a China caso Trump cumpra a promessa de campanha e adote uma postura mais protecionista, Galhardo ressalta que o dólar se fortalece em razão de dados fracos de atividade na Europa e desaceleração rápida da inflação na região, o que deve levar o Banco Central Europeu (BCE) a promover novos cortes na taxa de juros.
“Podemos ver novamente a paridade entre dólar e euro. Em relação a moedas emergentes, com o aumento das tensões comerciais com a China, o dólar pode avançar de forma gradual, mas muito presidente, em uma volta do cenário pré-pandemia”, diz o consultor da Remessa Online.
Ibovespa
Vindo de perdas nas três sessões anteriores, que o fizeram convergir a níveis do começo de agosto, o Ibovespa ensaiou estancar a correção, no meio da tarde desta segunda-feira, quando chegou a retomar os 128 mil pontos, na máxima do dia, em leve alta de 0,21%. Mas a fraqueza das ações de grandes bancos e o prosseguimento do ajuste em Vale (ON -3,27%, no piso do dia no fechamento, abaixo do limiar de R$ 60 por ação) mantiveram o índice na defensiva após o revés da semana passada, com giro reforçado a R$ 30 bilhões na sexta-feira – um volume pouco visto fora das datas de vencimento de opções sobre o Ibovespa.
A última sexta-feira havia combinado decepção com os estímulos chineses a preocupações domésticas derivadas de inflação em 12 meses acima do teto da meta, na leitura do IPCA de outubro, e demora na entrega do pacote de cortes do governo, que ingressa hoje na terceira semana de espera pelo mercado – e sem data definida para o anúncio. O resultado, embora mais discreto, foi semelhante ao das sessões anteriores: Ibovespa contido, tendendo ao negativo ante o avanço do dólar – em alta de 0,59%, a R$ 5,7695 no encerramento – e da curva do DI.
Assim, no fechamento, o índice mostrava virtual estabilidade (+0,03%), aos 127.873,70 pontos, um pouco mais perto da máxima (128.095,17) do que da mínima (127.306,45) da sessão, em variação de menos de 800 pontos entre os extremos do dia. O giro ficou em R$ 20,4 bilhões nesta segunda-feira. No mês, o Ibovespa acumula perda de 1,42% e, no ano, recua 4,70%. A estabilidade do Ibovespa na sessão foi favorecida por Petrobras (ON +0,15%, PN +0,19%), na contramão de perdas em torno de 3% para o Brent e WTI, no fechamento.
Na ponta ganhadora da sessão, Cogna (+8,82%), Yduqs (+5,87%) e PetroReconcavo (+4,71%), após anúncio da aquisição de unidade de processamento de gás na Bahia. No lado oposto, três representantes do setor metálico: além de Vale, destaque para Usiminas (-2,56%) e CSN (-3,91%). Totvs também figurou entre as maiores perdedoras da sessão, em baixa de 2,79%.
Após uma semana “conturbada” e de muita volatilidade – com os investidores domésticos tendo ponderado também o resultado da eleição americana -, prevaleceu nesta segunda-feira uma “correção de movimento”, com o mercado ainda mostrando “cautela” até que o governo mostre “alinhamento quanto à responsabilidade fiscal”, observa Brayan Campos, operador de renda variável da Manchester Investimentos.
De fato, até o fim de semana, a percepção era de que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, apesar de ter insistido na necessidade de equilíbrio também para ministérios que, aparentemente, resistem a cortes – como os do Trabalho e da Previdência – estaria encontrando forte resistência a seus argumentos e tentativas de convencimento – e sob os olhos do presidente Lula, o árbitro final da disputa. Uma série de reuniões tomou a semana passada, até aqui inconclusivas.
Diversos analistas econômicos têm enfatizado a importância de se chegar logo a entendimento sobre os cortes de gastos, que melhore a percepção sobre a trajetória do endividamento público e mantenha o arcabouço fiscal de pé. O cenário se tornou mais desafiador com a esmagadora vitória de Donald Trump, também para o Congresso, o que tende a reforçar a implementação de sua linha de governo, vista como deficitária, inflacionária e protecionista – com efeitos negativos para a China, importante mercado para commodities aqui produzidas, e para o próprio Brasil.
“O IPCA da última sexta-feira, ao sinalizar uma inflação persistente e acima do teto da meta, exige uma resposta firme do Banco Central. Porém, o risco é de que um aumento adicional da Selic desacelere a economia sem resolver o problema fiscal de longo prazo, que exige uma resposta governamental mais urgente e concreta”, resume Christian Iarussi, sócio da The Hill Capital.
Juros
Em mais um dia de espera pela divulgação do pacote de corte de gastos, os juros futuros estiveram em alta nesta segunda-feira também de pressão sobre o câmbio, mas sem a referência do mercado de Treasuries, que não operou hoje em função de feriado nos EUA. Na reta final da sessão, porém, o movimento perdeu fôlego e as taxas reduziram o ritmo, e indo para perto dos ajustes no caso dos vencimentos de curto e longo prazo, com o mercado realimentando esperanças de que a divulgação das medidas seja iminente.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 encerrou em 13,11%, de 13,09% no ajuste de sexta-feira, e a do DI para janeiro de 2027 fechou em 13,20%, de 13,13%. O DI para janeiro de 2029 terminou com taxa em 12,97%, estável.
O miolo da curva foi novamente destaque na estrutura a termo, com o mercado adicionando ainda mais prêmio diante do aumento dos riscos da não convergência da inflação para a meta e da trajetória fiscal se tornar um caminho sem volta. As taxas seguem rodando nas máximas desde março de 2023 e a ponta curta já indicava Selic terminal de 13,95% no meio da tarde. Para a reunião de dezembro, os DIs apontavam 100% de chance de uma aceleração do ritmo de alta para 0,75 ponto porcentual no Copom de dezembro e de 72% na reunião de janeiro, contra 18% de probabilidade de 0,5 ponto.
O mercado trabalha com a ideia de uma política monetária agressiva para compensar o fiscal expansionista enquanto a agenda de corte de gastos não é conhecida. “Há toda uma ansiedade com relação ao pacote, sobre o tamanho e o que vem, se medidas mais paliativas ou estruturais. Era para ser anunciado semana passada, ficou para, possivelmente, essa semana, e tudo isso num cenário pior para emergentes desde a eleição americana”, afirma o chefe da mesa de operações do C6 Bank, Felipe Garcia.
Para ele, o mercado tende a reagir negativamente a um pacote inferior a R$ 30 bilhões, mas também deve pesar bastante na reação dos ativos o tipo de medidas que serão propostas. “Não é só o valor em si, é toda a composição, se o crescimento das despesas vai acompanhar o limite do arcabouço, que é de até 2,5%. Tem de ser um pacote que realmente contenha o crescimento das despesas e mostre se lá na frente vai conseguir estabilizar o crescimento da relação dívida/PIB”, diz Garcia.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, estava reunido no Palácio do Planalto com o presidente Lula nesta tarde, segundo informação apurada pelo Broadcast e que levou as taxas a reduzirem o avanço no fim do dia, na medida em que recoloca a percepção de que o anúncio finalmente pode sair no curtíssimo prazo. Haddad participou de encontro com as lideranças dos grupos de engajamento do G20 e, após a conclusão dessa agenda, permaneceu no Planalto para outra reunião com Lula, cujos participantes e pauta não foram informados até o momento.
Um pacote crível seria capaz de suavizar a pressão sobre as expectativas de inflação, que cada vez mais vêm se distanciando das metas. No Boletim Focus desta segunda-feira, a mediana para o IPCA em 2025 subiu de 4,03% para 4,10%, mais perto da banda superior da meta (4,50%). A de 2026 também avançou, de 3,10% para 3,65%. Nas medianas para a Selic, a de 2024 e de 2025 se mantiveram em 11,75% e 11,50%, mas a de 2026 passou de 9,75% para 10,00%.
Além da Focus, a agenda trouxe ainda os dados do setor público consolidado. O déficit de R$ 7,3 bilhões em setembro foi menor do que o de R$ 8,2 bilhões apontado na mediana da pesquisa do Projeções Broadcast. Mas isso não serviu de consolo, até porque há grande preocupação com a trajetória da dívida e esta atingiu em setembro o maior nível em 22 anos, a 62,39% do PIB, menor apenas do que os 62,45% contabilizados em setembro de 2002.