Uma sala, com paredes da cor azul e branca, dividida em duas cabines. Cada lado tem uma poltrona e uma mesa com um telefone. É ali que cerca de 50 voluntários do Centro de Valorização a Vida (CVV), de Cuiabá, realizam, em média, dois mil atendimentos mensais por chamadas telefônicas de todo o Brasil. Por meio do número 188 é possível compartilhar seus sentimentos, gratuitamente, de modo sigiloso e sem julgamentos ou críticas.
Fundado em São Paulo em 1962, o CVV presta serviço voluntário de apoio emocional. Em 2018 os 110 postos de atendimentos, espalhados em 23 estados e mais o Distrito Federal, realizaram três milhões de atendimentos por telefone, e-mail e chat. Para efeitos de comparação, em 2016 foram realizados um milhão de atendimentos.
Um estudo realizado pela Universidade de Campinas (Unicamp) demonstrou que 17% dos brasileiros, em algum momento, já pensaram em suicídio. Desses, 4,8% elaborou um plano para dar fim a vida. Todavia, ao contrário do que muitos possam imaginar, o atendimento realizado pelo Centro de Valorização a Vida também é para aqueles que tenham alegrias e conquistas que queiram compartilhar, mas não tem com quem conversar.
“A gente escuta e atende empaticamente. Tem pessoas que ligam porque não tem ninguém para conversar e não é só por coisas ruins, mas por conquistas, vitórias e alegrias. Elas ligam para compartilhar”, conta Homar Capistrano, 35 anos, que é voluntário do CVV há 10 anos.
Ele explica que as pessoas ligam, desabafam e compartilham o que as incomoda, para que de alguma forma possam se sentir mais leves em relação aos seus sentimentos. “Nosso principio é o não julgamento, mesmo em casos mais críticos nós buscamos acolher quem liga. Às vezes através do desabafo elas conseguem encontrar um caminho e melhorar”.
Muitas ligações são encerradas em segundos ou minutos, enquanto outras podem durar horas. Cada final de ligação o voluntário tem cerca de 10 segundos de “descanso” até o início da próxima.
“Muitas pessoas ligam e desligam. São muitas ligações mudas. O respirar da pessoa já pode dizer muito. Muitas vezes a gente quer falar, mas até para falar dói”.
Homar observa que a quantidade de voluntários na Capital é pouca para a demanda. Houve dias em que mais de duas mil ligações não foram atendidas por conta da falta de voluntários para o trabalho, da falta de estrutura da sede e também pela alta procura em determinadas épocas do ano, como Dia das Mães, Dia dos Pais, Natal e Ano Novo.
Voluntariado, participação e colaboração
Para poder ajudar o CVV, o voluntário passa por cursos e capacitações para que aprenda a lidar com a dor do outro sem pega-la para si. São cursos de capacitação interna, para aprimorar o atendimento sem comprometimento da própria saúde mental.
“O CVV é uma grande oportunidade para que a gente possa conhecer as dores humanas e se conhecer um pouco mais. Após os atendimentos a gente passa a olhar com um pouco mais de cuidado e atenção as pessoas que estão a nossa volta. Na maior parte das vezes um gesto gentil, uma palavra fraterna e um olhar mais atencioso podem fazer com que pessoas com intenções suicidas deixem de ter”.
Dia 18 de setembro deste ano começa um novo curso, gratuito, para quem deseja ser voluntário do CVV ou conhecer o trabalho que a equipe desenvolve. Não é exigido nenhum tipo de formação acadêmica para o trabalho, basta ser maior de 18 anos e ter vontade e interesse em ajudar o próximo.
São oito encontros, realizados as quartas-feiras, das 19h às 22h, na sede do CVV de Cuiabá, na Rua Comandante Costa, número 296, no centro da cidade.
Para demonstrar interesse no curso basta acessar o link e se cadastrar.
Outra forma de ajudar é a doação de valores ao Centro de Valorização a Vida. A entidade funciona apenas com doações e apoio da Fraternidade de Apoio a Vida (FAV). A colaboração pode ser realizada pelo Banco do Brasil, Agência 3325-1, Conta Corrente 125434-1, em nome da FAV, pelo CNPJ de n° 26.812.776/0001-08.
Atendimento
O atendimento pelo CVV é realizado de forma gratuita e anônima através do número 188, ou através do e-mail e chat que podem ser acessados através do site.
Homar explicou também que há a possibilidade de atendimento pessoalmente na própria sede do Centro.
O CVV Cuiabá também tem encontros do Grupo de Apoio de Sobreviventes de Suicídio. Nesse grupo se encaixam aqueles que tentaram contra a própria vida e aqueles que perderam alguém, são familiares e amigos enlutados. Basta chegar na sede, as quintas-feiras, às 19h30.
“Poder ajudar nisso é uma forma de evolução A gente espera que daqui um tempo o CVV não exista mais. Que haja entre nós tamanha comunhão de fraternidade que a gente possa um ao outro prestar esse apoio emocional”.