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Curva do DI segura Ibovespa, que cai 0,25%; dólar recua com ambiente externo favorável

O Ibovespa teve um dia de variação contida, de cerca de 1,1 mil pontos entre a mínima (137.993,33) e a máxima (139.108,26) da sessão, em que fechou em leve baixa de 0,25%, aos 138.533,70 pontos, com novos dados sobre o mercado de trabalho doméstico, aquecido, colocando alguma pressão sobre a curva do DI desde a manhã, apesar do dia de recuo para os rendimentos dos Treasuries, nos Estados Unidos. Em Nova York, os principais índices de ações registraram alta entre 0,28% (Dow Jones) e 0,40% (S&P 500). Aqui, o dólar caiu 0,50%, a R$ 5,6670.

Na B3, o giro voltou a se enfraquecer nesta quinta-feira, a R$ 18,0 bilhões. Na semana, o Ibovespa avança 0,51% e, no mês, tem ganho de 2,57% – no ano, sobe 15,17%.

Mais cedo, a notícia de que o Tribunal de Comércio Internacional dos EUA anulou as ordens tarifárias “recíprocas” do presidente Donald Trump contribuía para embalar a abertura dos negócios, mas o entusiasmo global foi diluído ao longo do pregão, com os investidores passando a avaliar os impactos jurídicos e econômicos da decisão. Em Londres e Nova York, o petróleo cedeu em torno de 1,5% na sessão. No Brasil, depois do sólido Caged de abril, divulgado na tarde de ontem, o foco esteve concentrado em nova leitura forte sobre o mercado de trabalho doméstico, pela Pnad Contínua, nesta manhã, com efeito sobre a curva de juros futuros.

“A taxa de desemprego no trimestre até abril confirma que o mercado de trabalho segue aquecido, mas com sinais de desaceleração no ritmo de geração de vagas”, avalia Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos. “A criação de empregos formais e a alta nos rendimentos reais são pontos positivos, mas a subutilização ainda elevada mostra que há folgas no mercado”, acrescenta. “Para garantir um avanço mais robusto, será necessário maior previsibilidade fiscal, redução dos ruídos políticos e incentivo à formalização, com foco em produtividade.”

“Apesar de alguns indicadores mostrarem uma leve desaceleração no ritmo de expansão no mês, seguem em patamares historicamente elevados, o que tende a sustentar o consumo e representa um desafio adicional à condução da política monetária, sobretudo diante da persistência inflacionária no setor de serviços”, observa Rafael Perez, economista da Suno Research.

A taxa de desemprego no trimestre encerrado em abril de 2025 ficou em 6,6%, conforme a leitura da Pnad Contínua, abaixo das expectativas do mercado. “Trata-se de uma queda de 0,9 ponto porcentual em relação ao mesmo período de 2024 e do menor nível para o mês de abril desde o início da série histórica”, diz Perez.

O segundo dia de pausa do Ibovespa – após a recente renovação de recordes, na casa dos 140 mil pontos – ocorreu a despeito da retração do dólar. Na B3, o dia foi negativo para carros-chefes como Petrobras (ON -0,12%, PN -0,60%), bem como para os principais bancos, com BB (ON -1,58%) ainda puxando a fila na sessão.

Por outro lado, Vale ON, a principal ação da carteira Ibovespa, reagiu e fechou pouco acima da estabilidade (+0,07%). As utilities também foram bem na sessão, com destaque para Eletrobras (ON +0,94%, PNB +1,41%). Na ponta ganhadora do índice, Petz (+2,38%), Marfrig (+2,13%) e Cosan (+2,07%). No lado oposto, Azul (-6,80%), Magazine Luiza (-4,92%) e Minerva (-3,83%).

“O mercado ainda está desconfiado com relação ao governo cumprir as metas fiscais. Isso faz com que os juros futuros subam, levando em especial as empresas varejistas, as small caps ações de menor capitalização de mercado, mais voláteis e construtoras a um desempenho pior no dia de hoje”, diz Josias Bento, sócio da GT Capital.

Dólar

Apesar do aumento dos ruídos políticos domésticos, com dúvidas crescentes em torno da manutenção das alterações no Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), o dólar apresentou queda firme no mercado local nesta quinta-feira, acompanhando a onda de enfraquecimento da moeda americana tanto em relação a divisas fortes quanto emergentes.

Os negócios foram guiados pela reação à decisão de ontem à noite do Tribunal de Comércio dos EUA de suspender a maior parte das tarifas comerciais impostas por Donald Trump. A percepção de que instituições americanas reagem a possíveis excessos presidenciais é vista como positiva, embora não dissipem as incertezas trazidas pela nova administração.

Além do ambiente externo favorável ao real, operadores afirmam que pode ter ocorrido entrada de capital externo para renda fixa. O Tesouro vendeu hoje a oferta integral de 3 milhões de NTN-F, papel público que costuma atrair investidores estrangeiros. O volume financeiro somou R$ 2,616 bilhões.

Afora uma alta pequena e pontual no início dos negócios, o dólar à vista operou em baixa no restante do pregão. Com mínima a R$ 5,6431, a moeda fechou em queda de 0,50%, a R$ 5,6670. A divisa sobe 0,35% na semana, mas tem perdas de 0,17% em maio. A desvalorização acumulada no ano é de 8,30%.

O economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, afirma que o cenário externo tem “dominado a precificação” da taxa de câmbio, embora possa haver episódios esporádicos de maior influência do quadro interno, como o observado com na questão do IOF.

“O dólar está apanhando de todas as moedas. Continuamos a ver o movimento de realocação de portfólio, com investidores reavaliando os riscos de investimentos nos Estados Unidos” afirma Lima. “A decisão do tribunal sobre as tarifas de Trump é positiva ao mostrar que as instituições estão reagindo e que há limitações legais, mas ao mesmo tempo aumenta a insegurança porque não é definitiva”.

Na disputa jurídica, a corte de Apelações para o Circuito Federal dos EUA suspendeu, no fim da tarde de hoje, temporariamente decisão judicial anunciada ontem que havia anulado ordens executivas de Trump sobre tarifas. A medida cautelar vale “até nova ordem”, enquanto a própria Corte avalia o pedido formal do governo para suspender os efeitos da decisão de primeira instância.

Termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes, o índice DXY voltou a cair abaixo da linha dos 100,000 pontos, com mínima aos 99,217 pontos. No fim da tarde, rondava pouco acima dos 99,300 pontos. A segunda leitura do PIB dos EUA no primeiro trimestre mostrou contração anualizada de 0,2%, menor que a esperada e que o resultado da primeira leitura (-0,3%). Já os pedidos semanais de auxílio-desemprego vieram acima do esperado.

Por aqui, a pauta dominante foi a novela do IOF, que está sob ataque do setor produtivo e do Congresso. Ontem à noite, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que não há alternativa, “no momento”, para o aumento do imposto.

No início da tarde, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), afirmou que “é prudente” dar dez dias para que o governo apresente uma alternativa ao IOF e defendeu que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva entre no debate sobre o tema.

Mota destacou que, se a proposta não mudar, o Congresso pode sustar a medida com um projeto legislativo, mas ponderou que busca “construir uma solução” com o governo. “O Poder Legislativo não quer colocar fogo no País”, afirmou.

Fontes ouvidas pelo Broadcast afirmam que não haverá mudança do decreto neste momento, mas que está no radar da equipe econômica a possibilidade de manter o aumento da alíquota neste ano e aguardar mais um tempo para que novos mecanismos pudessem ser aplicados como uma alternativa para 2026.

Lima, da Western Asset, observa que o aumento do IOF é ruim e sinaliza que o governo não quer cortar gastos públicos e busca alcançar as metas fiscais por aumento de carga tributária. “O Congresso reagiu de forma um pouco mais forte, mas a solução para substituir o IOF seria inflar outros impostos. E já em um ambiente de arrecadação cada vez maior”, afirma o economista.

Juros

Os juros futuros avançaram, pressionados principalmente pela agenda econômica, com a Pnad Contínua e dados de crédito, que sugere atividade ainda aquecida no segundo trimestre. Os indicadores não chegaram a alterar o quadro de apostas para a Selic no Copom de junho, mas reduziram a expectativa de corte ainda este ano. A ponta longa subiu menos, com o impacto do risco fiscal sendo amenizado pela queda dos rendimento dos Treasuries e enfraquecimento do dólar.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 fechou em 14,755%, de 14,726% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2027 subiu a 14,04%, de 13,92% ontem. O DI para janeiro de 2029 terminou com taxa de 13,52%, de 13,46% ontem no ajuste.

O mercado recebeu um combo de dados sugerindo que o cenário para a atividade pode não estar no ritmo de desaceleração previsto. “Todo mundo sabia que o 1º trimestre seria forte por causa do agro, mas o mercado esperava algum arrefecimento no 2º trimestre. Tivemos dados do mercado de trabalho bem fortes, com Caged ontem e Pnad e recuperação das confianças da FGV. Até mesmo os dados de crédito hoje mostraram um crescimento das concessões”, resumiu o economista-chefe da Meraki Capital, Rafael Ihara.

Na Pnad Contínua, a taxa de desemprego no trimestre até abril caiu a 6,6%, de 7,0% até março, atingindo, atingindo o piso histórico para o período. Em dados sazonalmente ajustados, algumas instituições financeiras apontam a taxa na mínima histórica para qualquer período. No caso da XP, o cálculo indica desemprego em 6%. Segundo o Rodolfo Margato, os indicadores de emprego, renda e crédito continuam sólidos, com o rendimento real avançando pelo sétimo mês consecutivo.

Para Vladimir Caramaschi, sócio-fundador da consultoria +Ideas, a Pnad, somada ao resultado forte do Caged ontem, reforça a percepção de que o mercado de trabalho segue aquecido e resiliente. “Coloca alguma dúvida adicional sobre a possibilidade do ciclo de alta da Selic ter chegado ao fim, mas, dado o patamar restritivo da atual política monetária e o impacto das alterações no IOF, acredito que pesem mais no sentido de levar o BC a manter a taxa por um longo período do que promover nova alta”, avalia.

O Banco Central, na nota de crédito, mostrou que as concessões de crédito livre dos bancos subiram 2,7% em abril. A Fundação Getulio Vargas (FGV) trouxe que a confiança do comércio avançou 1,2 ponto e a do setor de serviços, 1,5 ponto, entre abril e maio.

Na precificação da curva, as apostas de queda da Selic em dezembro, que na sexta-feira chegaram a 22 pontos, refluíram, apontando 11 pontos-base no meio da tarde. Para o Copom de junho, a probabilidade de aperto de 0,25 ponto porcentual mantinha-se em torno de 30%.

Na ponta longa, ainda pesam os desconfortos fiscais gerados pelo impasse sobre o IOF, mas o exterior fez o contraponto, especialmente quando os juros dos Treasuries viraram para baixo. A decisão judicial nos EUA que barrou o tarifaço do presidente Donald Trump trouxe apetite ao risco inicialmente, com alta nos retornos dos papéis, mas depois prevaleceu a avaliação de que este cenário não é definitivo.

Sobre o IOF, a equipe econômica parece ter ganhado hoje algum fôlego. O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), após a conversa com Haddad, disse ser “prudente” dar dez dias para que o governo apresente alternativa ao aumento e defendeu ainda que o presidente Lula entre no debate. Se a proposta não mudar, o Congresso pode sustar a medida com um projeto legislativo e Motta frisou que deixou o cenário claro na reunião de ontem. Por fim, segundo ele, o Congresso não está se preocupando com eventual corte em emendas em meio ao impasse e vai dar sua “contribuição”.

O Tesouro realizou leilão grande de prefixados, absorvido integralmente. Foram 20 milhões de Letras do Tesouro Nacional (LTN) e 3 milhões de Notas do Tesouro Nacional – Série F (NTN-F).

Estadão Conteudo

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