Simone Ishizuka Gomes, mais conhecida como Sika, 29 anos, nasceu em Rondonópolis, vinda de uma família de imigrantes japoneses e também paraguaios com cearense. Iniciou os seus primeiros processos artísticos aos 8 anos. Teve contato com telas e pincéis, além das cores na tinta a óleo, durante parte da infância e adolescência. Morou em Londres e em Porto Alegre, visitou 17 países, sempre buscando inspirações, mas foi em Cuiabá que se encantou, como lugar ideal para viver e produzir. Hoje, deixou de ver o desenho apenas como um hobby e busca referências que vão de artes contemporâneas aos traços de indígenas mato-grossense (principalmente o Kayapó). SIKA é a jovem desenhista escolhida para a arte da Campanha de virada de ano do Jornal CIRCUITO MATO GROSSO.
Vamos conhecer um pouquinho mais sobre esta performática artista:
Marchetti: Você cria muitas de suas obras em público, nas feiras culturais e com pessoas observando, isso inspira, muda algo em seu processo criativo?
Sika: Eu levo isso ‘na boa’, pois quando começo a fazer meus primeiros rabiscos me sinto como se estivesse entrando em um mundo paralelo, onde existem apenas eu e meus traços, e o que acontece em volta não importa tanto.
Marchetti: Ainda que seja uma jovem artista, você já mudou seu traço e temas. quais são os artistas visuais que te inspiram em Mato Grosso?
Sika: Sim. Meu primeiro contato com as técnicas de pintura foi com óleo sobre tela. E, por mais que as cores e pincéis me abrissem portas para alguns trabalhos, me sentia presa àquilo. Demorei alguns anos para saber que o meu gosto estava exclusivamente no desenho. Comecei então a estudar sombras e texturas até passar para o nanquim. Este último sim, me proporcionou buscar uma identidade própria do desenho e, acima de tudo, me dá inspirações para desenvolver o meu trabalho de forma mais satisfatória.
Sobre os artistas, eu sempre tive contato com a arte de Mato Grosso desde criança também, só que mais com artesãos. Meus pais foram os primeiros a montarem uma loja de artesanatos exclusivamente regionais no Estado, por isso o convívio. Um fato curioso é que meus pais iam numa verdadeira ‘caçada’ a novos talentos para investir no novo negócio. E como não havia celular na época, eles tiveram que percorrer diversos bairros só com a breve informação do artista. E dentre estas descobertas, umas das que mais me lembro é do artista Fortunato, um artesão que morava no São Gonçalo Beira-Rio. Ele e sua família esculpiam peças em madeira e tinham uma pintura bem peculiar, bem simples, mas com uma beleza única. Outro também que não esqueço é o Veríssimo, morador do Cristo Rei em Várzea Grande. Artesão incrível que fazia animais pantaneiros em cimento em um realismo impressionante. Infelizmente ambos já faleceram e não tiveram o reconhecimento merecido no nosso Estado, mas, que, com certeza, conseguiram levar a mensagem maravilhosa do regionalismo local e que proporcionaram, a mim também, a beleza da arte de uma forma geral.
Marchetti: Você participou em alguma ocupação das escolas e das instituições? Como vê a criação artística amparando essas manifestações de nossos estudantes?
Sika: Recentemente participei de um bate-papo nas ocupações da UFMT, discutindo a ligação entre a comunicação e a arte. Foi um momento incrível no qual tive a oportunidade de trocar conhecimentos com os estudantes que estão lutando por uma causa mais que justa. Estamos passando por um período histórico no nosso país, que não devemos deixar passar em branco jamais. É algo muito difícil você expressar o que você realmente pensa, a partir do momento em que você depende de um sistema para ganhar seu dinheiro no fim do mês, e por muitas vezes você se molda de uma forma que você jamais pensou que iria ser na época da faculdade. E com este contato, senti que pude reafirmar meus ideais e reforçar aquilo em que acredito. E, para mim, a melhor forma de combater a corrupção é a resistência, a expressão e a informação plena. Só assim podemos sair do lugar onde estamos para partir para algo melhor.
Marchetti: Quais seus planos para 2017?
Sika: Muitos! Que vão mudando a cada dia que passa… Mas o que gostaria mesmo de concretizar é a minha exposição, que já estou desenvolvendo com todo carinho, cursos na área de artes e também estou tentando fechar um livro infantil ilustrado. Mas isso é segredo, ou era…
Sika
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