E nunca um ano de Copa foi tão aguardado pela população cuiabana como 2014. Não só pela expectativa de ver o Brasil em campo, mas também para usufruir de todos os benefícios prometidos à sede da Copa do Pantanal.
Enquanto torcedores seguem em contagem para o início do Mundial, toda a população segue o desafio diário – que começou há cinco anos – de enfrentar congestionamentos de quilômetros de distância, acordar de 20 minutos a 1 hora mais cedo, passar sobre viaduto, por baixo de trincheira, ao lado de obras intermináveis e de outras que ainda parecem um sonho.
E quem um dia pensou que a avenida mais charmosa da cidade, a Rubens de Mendonça, que era tomada por árvores, um canteiro central largo, agora era um espaço tomado por tratores, pois por ali tem a promessa de passar o ‘minhocão’?, ops!, o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT)?
E não dá pra deixar de citar a Arena Pantanal. O estádio padrão Fifa ocupou o lugar do querido Verdão, que presenciou vários partidas clássicas, mas que precisou ir ao chão por não atender às necessidade de uma população que mais uma vez se multiplicou, e agora ainda iria receber visitantes.
A Avenida Miguel Sutil, que foi construída em 1995 pelo governador Dante de Oliveira, foi considerada uma obra ousada à época, e até desnecessária para Cuiabá por seu porte e custo. Porém, quem diria que em menos de 20 anos ela já seria considerada obsoleta a ponto de não suportar o fluxo de carros, e várias obras tomarem conta dos seus 14 km de extensão.
Mas todo esse ritmo acelerado para preparar a ‘casa’ para os jogos da Copa não foi está tão célere quanto planejado. Atrasos tomaram conta das manchetes dos jornais e obras que deveriam ser entregues com seis meses de antecedência ainda estavam em meio ao caos que se instalou, deixando a cidade tomada pelo estresse. Ruas esburacadas, desvios intermináveis e inviáveis, trânsito lento, obras inauguradas e ainda inacabadas e outras desmoronando.
Obras, crescimento vertical e jogos do Mundial, esses serão os grandes marcos de Cuiabá nos seus 295 anos. A cidade do coração da América do Sul agora tem uma nova estética e um novo ritmo de vida.
A Capital de MT em duas grandes fases
Dos anos 70 para cá, Cuiabá registrou dois momentos distintos e de grande transformação. Em 1974 uma enchente abalou a capital mato-grossense. Bairros foram completamente destruídos e outros construídos às pressas para alojar os desabrigados. Ruas e avenidas foram abertas. E o segundo grande crescimento está se dando agora com as obras da Copa mudando o cenário da cidade.
Em 1974 as águas do rio Cuiabá invadiram as casas ribeirinhas de bairros como Porto e Praeirinho. Muita gente precisou se mudar. A construção da Avenida Beira Rio também colaborou para essa alteração na paisagem. Ao mesmo tempo, o Centro Político Administrativo (CPA) e o bairro com o mesmo nome estavam surgindo, o que levou muitas pessoas para a região norte de Cuiabá.
Avenidas largas, carros e muitos migrantes começaram a ocupar a Cidade Verde, e junto os cuiabanos começaram a conhecer entorpecentes nunca aqui vistos. As pessoas começaram a adotar um novo ritmo de vida e a violência também ganhou novos e tristes índices na Capital, agora mais populosa e agitada. Boom! A população de Cuiabá cresceu 112% nessa década.
A década de 70 foi um divisor de águas
Serviços básicos de saúde, educação e segurança, com o novo perfil de Cuiabá, já não atendiam tantas pessoas que vieram em busca de oportunidade para crescer. De acordo com o historiador Aníbal Alencastro, a década de 70 foi um divisor de águas.
“Os problemas de transporte, saúde e educação começaram nesse período, pois a capital não estava preparada para receber tantas pessoas. Os governantes não deram atenção a essas estruturas, e até hoje o mesmo suporte que tinha para a população de 70 tem agora para essa década”, diz Alencastro.
O historiador lembra que nos anos 70, muitas obras foram marcantes, como a construção da Avenida Rubens de Mendonça, a escolha do local que hoje é a Grande Morada da Serra, popularmente conhecida como CPA.
“Aquele foi um período de obras como está sendo agora, e um momento importante, pois a população pedia por isso. Cuiabá, apesar desses dois momentos de crescimento, ainda tem um grande problema: é uma cidade inchada, pois o aumento de pessoas é desproporcional ao desenvolvimento”, lembra Aníbal.
Para o historiador cuiabano, descendente de família tradicional e que viveu momentos memoráveis de Cuiabá, o grande problema da cidade é a ‘politicagem’ a favor do crescimento de poucos. “Eu lamento muito que uma cidade tão carinhosa com quem chega de fora, onde as pessoas se conhecem e se respeitam, acaba sofrendo gestões seguidas nas mãos de políticos que não pensam no conforto da população”.
Mas, olhando para o futuro, Aníbal Alencastro vê através das obras uma cidade mais confortável e acredita que muita coisa irá melhorar. “Estamos em um momento novo, o meu período já passou, agora são os jovens que vão construir uma nova história e essas obras melhorarão com certeza o cotidiano de quem trabalha, quando ficarem prontos”, conclui Aníbal Alencastro.