“Foi uma auditoria complexa e minuciosa e, por isso mesmo, longa”, informa a diretoria da organização em comunicado. As irregularidades apontam para desvios de doações feitas para as vítimas de conflitos e da seca na Somália; do tsunami no Japão; das enchentes na Região Serrana do Rio de Janeiro e para uma campanha de prevenção à dengue. Os supostos desvios estão concentrados nas filiais do Maranhão e Ceará, além de Petrópolis, no estado do Rio de Janeiro, entre 2010 e 2012.
“Há comprovações de irregularidades e considera-se que alguns desses casos podem ser delitos, enquanto outros se configuram como faltas administrativas, menos graves, mas não menos passíveis de punição”, afirma a entidade. Entre as deficiências e irregularidades identificadas pela consultoria estão a falta de controle interno e a ausência de documentos.
A Cruz Vermelha Brasileira garante que tomará todas as providências necessárias, inclusive judiciais, para reaver os recursos e destiná-los aos beneficiários. Além de entregar cópias do relatório final ao Ministério da Justiça, a diretoria da entidade promete acionar os ministérios Público Federal e estaduais para que adotem as medidas judiciais cabíveis.
“A responsabilidade de corrigir os problemas apontados na auditoria é da Cruz Vermelha Brasileira, que adotará os procedimentos judiciais e administrativos para punir quem deu causa às irregularidades e ilegalidades. Nos casos em que a auditoria não é conclusiva, a entidade realizará investigações internas e, quando cabível, apresentará denúncia à Justiça, além de entregar o relatório da auditoria às autoridades competentes”.
Além de apontar o suposto desvio financeiro, a consultoria contratada apresentou um plano de recuperação das contas da entidade – que confirmou que vai colocar em prática todas as recomendações do relatório. A Federação Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho (FICV), à qual a organização brasileira é filiada, determinou que uma comissão especial acompanhe a implementação das recomendações.
“A atual diretoria está implementando mudanças e está comprometida com uma solução definitiva, à altura de uma organização como a Cruz Vermelha, reconhecida por seus princípios e pela pertinência de sua ação humanitária”, acrescente o comunicado.
Em fevereiro do ano passado, a Cruz Vermelha Brasileira devia cerca de R$ 90 milhões aos cofres públicos e a antigos funcionários que recorreram à Justiça para receber seus direitos trabalhistas. O presidente da entidade à época, Nício Brasil Lacorte, atribuiu a situação à “má gestão” da entidade ao longo de “mais ou menos 20 anos” – período durante o qual, a Cruz Vermelha Brasileira teve algumas gestões marcadas pela “pouca transparência”.
Agência Brasil