Texto, foto e vídeo de Valéria del Cueto
Como água do rio que corre, o tempo não volta para trás. E ele é curto para esse 2023 que se esvai sem deixar saudades para muita gente.
Nessa virada mudei minha canção e dei as costas ao réveillon de Copacabana. Ele que sempre atraiu meu querer de horizonte infinito e colorido na passagem do ano.
Aliás, estou achando que essa será uma crônica bianual. Não me lembro de outra, em todos esses 20 anos (aumento e diminuo a frequência, mas nunca deixei de publicar desde que o Marco Antônio Moreira, o Vila, me empurrou para essa cachaça), que tenha começado a ser escrita num fim de dezembro e seu fecho tenha sido desenhado – no caderninho, como sempre, no ano seguinte.
Não tenho mais modas para inventar. Pelo menos até o ano que vem!
Que já é! Esse 2024 chegou enquanto percorria caminhos no meio do mundo procurando a imagem ideal para saudá-lo.
Acabei no meio da metade de uma floresta. O resto é muro. O chão de pedras, sem asfalto e muito barro das chuvas que fecharam os últimos dias de 2023, tatua na lama os rastros das rodas dos poucos carros que trafegam pelo local. Entre os trilhos a vegetação é bem verdinha e, quando chove muito, é o melhor lugar para andar e não levar para a casa a lama acumulada.
Hoje os lugares empoçados estão cobertos de folhas amareladas caídas nas ventanias que antecederam as chuvaradas das árvores que parecem se abraçarem no céu. O que chamou meu olhar vagabundo foram as florezinhas delicadas que salpicam o cenário, contrastando com os tons ocres da cama de folhas.
Só eu estou mirando as estrelas do chão praticamente intocado antes das próximas chuvas. Vai ser a cobertura florestal que protegerá meus passos antes do descampado me fazer apressá-lo para chegar em casa.
Não que me importe com um banho natural para levar embora as energias do final do ano que passa galopando.
O chão de flores é promissor para a imagem que procuro. Falta o miolo, a tal regra de três, que garanta o conteúdo da mensagem. Ergo o olhar só um pouco, evitando o topo do céu que, já sei está cinzento, querendo chorar.
Está tudo lá. Quer dizer, aqui. Ou aí, se você prestar atenção em mais uma foto exclusiva que ilustra essa crônica vagal (era só o que faltava, o título do texto brotar no meio da escrevinhação. Nem depois, em antes).
O caminho, em perspectiva, corta o meio do quadro. À direita um muro alto de cimento limita a visão guardado por um poste de concreto escurecido, como o muro, pelo musgo e a umidade. Do outro lado a vegetação fecha o campo. Exuberante, a mata Atlântica explode nos tons da flora local.
O caminho indica a direção da claridão que será alcançada caso os passos sigam a trilha de barro, pedra, grama, folhas e flores caídas. Todo meu, todo seu, para você que me acompanha.
Cabe a cada um escolher o que terá a seu lado. Muro ou floresta, e onde prefere pisar.
Meu conselho, quase uma advertência: não importa o que vem por aí. O que vai fazer a diferença é como você reagirá aos acontecimentos. Do jeito que vierem os três palitos, nunca se esqueça que só existe uma certeza, a do que somos.
Quando e, se, o mundo mostrar sua face, não faça de sua reação um espelho do comportamento alheio. Devolva ao outro seu eu verdadeiro, aja conforme seu caráter. Esse é capaz de mudar o mundo, se você for do bem.
No más, 2024 está aí anunciando que a festa está apenas começando com o início dos ensaios técnicos na Sapucaí, os que antecedem o carnaval. Hora de sair da toca.
PS: o fim da crônica foi atribulado porque uma vaca e alguns bezerros apareceram no caminho da floresta. Fugiram para passear no réveillon. É correr ou passar caminhando por elas. Sorte que tenho experiência campeira.